Folha de S. Paulo
Se os blocos voltaram às ruas, por que isso
não poderá acontecer com os sambas?
Há 30 anos, se alguém lamentasse o fim
dos blocos de Carnaval, seria tachado de saudosista. As escolas de
samba tinham vindo para ficar, e o Carnaval se reduzira a um lugar na
arquibancada para vê-las passar. Era o Carnaval sentado. É verdade que, no Rio,
os blocos nunca tinham sumido de todo. Havia o Bola Preta, nas ruas desde 1919, o Cacique de Ramos, desde 1961, e alguns novos, como o Simpatia
É Quase Amor, em 1985. Mas, a partir de 2000, a coisa estourou até chegarmos às
atuais centenas de blocos, alguns mega.
Hoje, será um saudosista quem se perguntar sobre os sambas de Carnaval. Não os das escolas, chatos e repetitivos, mas os feitos para serem cantados pelo povo no asfalto. Sambas mesmo, não marchinhas —lindos, melódicos, de frases longas, críticos ou românticos. Acredite ou não, eles já foram a grande força do Carnaval. Eis alguns.
"Covarde sei que me podem chamar/
Porque não calo no peito essa dor/ Atire a primeira pedra, ai, ai, ai/ Aquele
que não sofreu por amor...", de Ataulpho Alves e Mario Lago, para o Carnaval de 1944.
"Trabalho como um louco/ Mas ganho muito pouco/ Por isso eu vivo/ Sempre
atrapalhado// Fazendo faxina/ Comendo no china/ Tá faltando um zero/ No meu
ordenado...", de Ary Barroso e Benedito Lacerda, 1945.
"Sapato de pobre é tamanco/ Almoço de
pobre é café, é café!/ Maltrata o corpo como quê, porque/ O pobre vive de
teimoso que é...", de Luiz Antonio e Jota Junior, 1951. "Lata d’água
na cabeça/ Lá vai Maria, lá vai Maria/ Sobe o morro, não se cansa/ Pela mão
leva criança/ Lá vai Maria...", também deles, 1962. E, do mesmo Luiz
Antonio, mestre dos sambas dolentes e sensuais: "Quero morrer no Carnaval/
Na avenida Central/ Sambando/ O povo na rua cantando/ O derradeiro samba/ Que
eu fizer chorando...", em parceria com Eurico Campos, 1961.
Bem, se um dia os sambas voltarem, já sabe:
você leu sobre isso aqui primeiro.
2 comentários:
Eita lembrança boa...
As marchinhas também foram banidas,no carnaval da minha cidade tocam de tudo,menos marchinha.
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