domingo, 19 de fevereiro de 2023

Merval Pereira - O Nobel possível

O Globo

Lula repete erros na parte econômica e na política externa, com afago de ditaduras latino-americanas como da Venezuela, Nicarágua e Cuba.

Lula nunca foi mais petista do que está sendo nesse seu terceiro mandato presidencial. Eleito em 2002, permaneceu durante meses, já presidente, com um broche com a estrela do PT no peito. Alertado de que não era mais apenas o líder petista, mas o presidente de todos os brasileiros, colocou no peito um broche com o brasão da República. Será que a estrela do PT voltará agora, no peito de um Lula vingativo e raivoso?

Quem esperava que Lula fizesse de seu provável último mandato presidencial um instrumento de união do país está se deparando com um presidente mais preocupado em ressignificar a história do partido, e a sua própria, do que em governar com os que o levaram ao poder novamente. Não foram os petistas, muito menos os esquerdistas, mas os eleitores não petistas que preferiram votar nele, muitos pela primeira vez na vida, para evitar a sequência de Bolsonaro, um governante desastroso e perigoso para a democracia.

Lula simulou uma candidatura de união nacional para ganhar a eleição, mas governa com o PT, e tenta ampliar sua base congressual atraindo bolsonaristas que vivem das burras do Estado, seja de que governo for. Foi assim que aconteceram o mensalão e o petrolão, que agora o PT tenta apagar da história.

Não há dúvidas de que o país, em pouco tempo, recuperou-se, pelo menos moralmente, em questões essenciais, como a indígena, a educacional, a de saúde, setores que já começaram a apontar para a direção correta. Mas a condução econômica deixa a desejar com a perspectiva dos mesmos erros já cometidos nos governos petistas anteriores, a começar do segundo mandato de Lula, terminando literalmente com a reeleição de Dilma.

Em vez de rever os equívocos, Lula se preocupa em reabilitar a ex-presidente, e reescrever a história do país: Dilma não sofreu um impeachment, mas um golpe político. Não houve corrupção, houve uma narrativa falsa para prejudicar o PT. O fato de que o processo de impeachment de Dilma foi supervisionado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) não faz diferença. Os bilhões de reais devolvidos pelas empresas que fraudaram os cofres públicos não significam nada. Simplesmente não aconteceram.

Que essa seja a versão do PT, é do jogo. Que se queira transformar essa narrativa em história oficial, com citações em pronunciamentos e documentos oficiais, é fraudar novamente o país. A repetição de erros não fica apenas na parte econômica. Também na política externa repete-se o afago de ditaduras latino-americanas como da Venezuela, Nicarágua, Cuba. Vencedor de um pleito em que a democracia estava em jogo, Lula é incapaz de trabalhar por ela nos países amigos do PT, deixando a sensação de que a defesa da democracia foi apenas estratégica, não um valor em si.

Diz-se que Lula sonha com o Prêmio Nobel da Paz, que realmente quase esteve a seu alcance em 2005. O Comitê da Noruega ia escolhê-lo, devido ao programa Bolsa Família, mas o escândalo do mensalão o desqualificou. Mais tarde, tentou levar adiante um projeto de negociação nuclear com o Irã, que acabou não dando certo, e agora procura a proeminência na busca de paz entre Rússia e Ucrânia, motivo nobre, como o anterior.

Mas, como da outra vez, também não será levado a sério. As gigantescas forças em confronto tornam a questão geopolítica mais importante do que possa alcançar a política externa brasileira. Já que não pretende trabalhar pela democracia no espaço geopolítico onde é líder inconteste, Lula tem um caminho aberto para o Prêmio Nobel da Paz: a questão amazônica e o meio ambiente.

Só o ressurgimento de Lula no cenário internacional, com sua eleição, trouxe uma reversão positiva de expectativas que indica que o Brasil tem, sim, condições de liderar uma ampla rede de países, não para acabar com a guerra da Ucrânia, - para isto existe a ONU -, mas salvar o mundo de uma catástrofe ambiental iminente.

 

4 comentários:

Anônimo disse...


Há outra possibilidade alem da ambiental para Lula ganhar o nobel da paz. O nobel para especialista em bebidas destiladas.

Fernando Carvalho disse...

Lula terá um lugar de honra na história se ele vender para o mundo a ideia de que pobres, negros, mulheres, índios, viadas e viados, e até assexuados todos os seres humanos são iguais e possuem direitos. Vender a ideia e, claro, implementá-la na medida do possível.

Anônimo disse...

Deveria é trabalhar o dia a dia do país e se resumir à sua insignificância como pessoa, líder e presidente de um país periférico.

ADEMAR AMANCIO disse...

Gostei do que disse Fernando Carvalho,os 'viados' e as 'viadas' agradecem,rs.Obrigado pela parte que me toca.