quinta-feira, 20 de abril de 2023

Ruy Castro - Carta a um otário do 8/1

Folha de S. Paulo

Enquanto você vê o sol nascer quadrado, Bolsonaro está solto, serelepe e nem aí para você

Se você participou como estrategista, financiador, agente operacional, terrorista ou simplesmente otário na intentona bolsonarista de 8/1 em Brasília, parabéns. Candidata-se a uma temporada numa colônia de férias do Estado, com três refeições diárias, tempo de sobra para ler e banho de sol uma vez por semana, tudo grátis. E, se for um general ou agente público que se omitiu na proteção dos Três Poderes ou apoiou os acampamentos diante do Q.G. do Exército, talvez possa desfrutar também dos confortos da nossa hotelaria prisional.

Tudo dependerá do STF, órgão que você tanto combateu. Os ministros acataram as denúncias oferecidas pela PGR e estão votando para decidir se o tornam réu, assim como a outros 99 dos seus colegas. Se forem aceitas as denúncias —o que você acha?—, serão abertas ações penais e, a partir daí, o STF o considerará apto para o julgamento final. E não fique mascarado, mas você fez por merecer essa distinção. Duvida?

Propagar idéias antidemocráticas, empregar substância inflamável contra o patrimônio da União, deteriorar e inutilizar patrimônio tombado, incitar animosidade das Forças Armadas contra os poderes constitucionais, promover associação criminosa, participar de ação armada para a abolição violenta do Estado Democrático de Direito —leia-se golpe de Estado— e muito mais. Tudo isso é crime, imagine. Coleta de provas? Facílima: você mesmo se fotografou, filmou e gravou abundantemente com seu celular.

Mas eu concordo: é injusto que currículo tão rico seja exclusivo de vocês do 8/1. Todas essas façanhas poderiam ser atribuídas também a Bolsonaro, sem cuja pregação intelectual, psicológica ou de planejamento elas não teriam acontecido.

Em vez disso, enquanto você vê o sol nascer quadrado, Bolsonaro continuará à solta, serelepe, grana no bolso, feliz da vida e tão aí para você quanto esteve para os mortos da Covid.

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