Folha de S. Paulo
Eduardo Bolsonaro tem o direito de pedir
proteção aos EUA, mas seu pleito se baseia em tese delirante, não em fatos
A paranoia é um direito. Se Eduardo
Bolsonaro acredita que sofre perseguição política no Brasil, tem o
direito de requisitar
asilo no país de sua preferência. As autoridades desse país é que
correm o risco de cair no ridículo caso concedam a proteção com base em
delírios e não em fatos —não que isso seja um problema para os EUA sob Donald Trump.
Tampouco acompanho a argumentação dos que afirmam que Bolsonaro, o Pequeno, com seu teatro, adentra o território do ilícito por difamar o Brasil no exterior. Não penso que exista uma obrigação de zelar pela imagem do país. A liberdade de expressão foi inventada justamente para que as pessoas pudessem criticar qualquer instituição ou autoridade e em termos fortes. Se a crítica para ou não em pé é um outro problema.
A tese
bolsonarista de que o Brasil vive uma ditadura judicial é uma das
ideias mais estapafúrdias que já vi. Sim, o STF adora
meter os pés pelas mãos e frequentemente avança o sinal. Pior, continua
recorrendo a heterodoxias mesmo depois que elas deixaram de ser necessárias e
se tornaram contraproducentes.
Mas, como já nos ensinou o sábio Lula, a democracia é relativa, isto é,
comporta graus. É preciso mais do que medidas discutíveis ou mesmo alguns
excessos autoritários da Justiça para caracterizar uma ditadura.
Desconfio até que a tal da "ditadura da
toga" da qual bolsonaristas tanto falam seja uma impossibilidade, se não
lógica, ao menos prática. Exceto pela diminuta Polícia Judicial, que
basicamente faz a segurança de tribunais, o Judiciário é um Poder desarmado.
Depende de forças sob controle do Executivo para impor suas decisões a quem
recalcitre. Daí que a literatura não registra muitos casos de cortes supremas
convertidas em sede de governo.
É interessante ainda notar que Trump, cujas
botas o jovem Bolsonaro está se especializando em lamber, explora justamente
essa assimetria de forças entre os Poderes para desafiar decisões de
magistrados, no que, me parece, será a versão 2.0 de sua tentativa
de golpe.
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