Valor Econômico
Oposição vai liderar na próxima semana um
amplo debate sobre segurança pública
A oposição vai liderar na próxima semana um
amplo debate sobre segurança pública, em evento promovido pela Fundação
Francisco Dornelles, ligada ao Partido Progressistas (PP). O “Fórum de
Segurança Pública pelo Brasil” reunirá alguns dos principais quadros do campo
adversário ao governo, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), o
senador Sergio Moro (União-PR) e o secretário de Segurança Pública de São
Paulo, Guilherme Derrite.
Ao tomarem conhecimento da programação, alguns aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentaram a dificuldade do governo de explorar a pauta, que é prioritária para os brasileiros, e na qual a oposição trafega com desenvoltura. A percepção desses aliados é de que, em um momento de clamor da sociedade com a escalada da violência e da sensação de insegurança, o PT deveria puxar esse debate. Porém, no momento, lideranças petistas estão dedicadas a se autodevorar na disputa interna pelo controle das finanças do partido.
Embora a maioria dos palestrantes no evento
do PP represente a oposição, a abertura caberá ao ministro da Justiça e
Segurança Pública, Ricardo Lewandowski. “O melhor quadro desse governo”,
elogiou o senador e ex-ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (PP-PI),
organizador do evento.
Lewandowski vai detalhar a proposta de emenda
constitucional que o governo enviará nas próximas semanas ao Congresso, a “PEC
da Segurança Pública”, em cuja articulação vem se empenhando pessoalmente há
meses, na tentativa de neutralizar a resistência de governadores e secretários
de Segurança Pública.
Nogueira disse à coluna que o objetivo do
debate é produzir um documento reunindo as melhores propostas para a área de
segurança, e encaminhá-lo ao presidente do Congresso Nacional, senador Davi
Alcolumbre (União-AP), e ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta
(Republicanos-PB). Ambos foram convidados para o evento, mas estarão no
exterior no dia dos painéis, integrando a comitiva de Lula na visita oficial ao
Japão e ao Vietnã.
A percepção de Nogueira é que, embora Lula
tenha começado a abordar a segurança pública em seus discursos, trata-se de um
debate que a esquerda já perdeu, sem reviravolta. “Essa pauta é da direita, a
esquerda só fala em proteger os presos, em direitos humanos, e a população não
se sente representada”, argumentou. Nesse ponto, lembrou uma declaração de
Lula, anos atrás, sobre ladrões de celulares, e fez uma provocação: “Quando
você viu alguém da esquerda fazer um discurso duro de combate ao crime?”
A menção de Nogueira à declaração de Lula no
passado sobre roubos de celulares é oportuna diante da recente manifestação do
presidente. Durante um evento em Fortaleza, no Ceará, nessa quarta-feira (19),
Lula alertou que o governo não permitirá que “a república de ladrões de celular
comece a assustar as pessoas nas ruas desse país". Reforçou que o objetivo
de sua gestão é garantir que o "lugar de bandido não é na rua, assaltando
as pessoas".
A modulação do discurso de Lula sobre
segurança tem a digital do ministro da Secretaria de Comunicação Social
(Secom), Sidônio Palmeira, no cargo há cerca de 50 dias. Pesquisas encomendadas
pelo governo atestam que o roubo de celulares é uma das questões de insegurança
que mais aflige a população de baixa renda e da classe média, ao lado do
tráfico de drogas, do crime organizado e do aumento de crimes violentos.
Um monitoramento das redes sociais conduzido
pela equipe de Sidônio detectou que recortes enviesados daquela declaração do
petista sobre ladrões de celulares, ocorrida em 2019, voltaram a circular nas
últimas semanas nas plataformas digitais, e contribuem para a rejeição do
presidente.
Naquela manifestação, durante um ato em São
Bernardo do Campo (SP), Lula afirmou: “Não posso ver mais jovem de 14 e 15 anos
assaltando e sendo violentado, assassinado pela polícia, às vezes inocente, ou
às vezes porque roubou um celular”. Na ocasião, ele fazia uma crítica ao
aumento dos assassinatos de jovens negros e pardos nas periferias, mas foi
infeliz na colocação, e sua fala deu munição aos adversários. Segundo o Atlas
da Violência 2024, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, quase metade dos homicídios em
2022 teve como alvo jovens de 15 a 29 anos.
Essa declaração voltou a circular há pouco
mais de um mês, a propósito do assassinato do ciclista Vitor Medrado, de 46
anos, em São Paulo, que chocou os brasileiros. Ele estava parado em frente ao
Parque do Povo, na zona oeste da capital, quando foi abordado e alvejado à
queima-roupa com um tiro no pescoço pelos assaltantes, que levaram o seu
celular.
Nessa quarta-feira, o assassinato de Medrado
voltou à pauta nacional. Em São Paulo, Guilherme Derrite usou o seu perfil nas
redes para anunciar a prisão dos dois suspeitos pela morte violenta do
ciclista. No mesmo dia, Lula bradou no Ceará que o Brasil não vai se tornar a
“república de ladrões de celular”.
O governo investirá na pauta. Sidônio prepara
uma campanha publicitária sobre o “Celular Seguro”, aplicativo do Ministério da
Justiça que ajuda a bloquear e localizar celulares perdidos ou roubados. Ao
mesmo tempo, o ministério estuda um projeto de lei para aumentar a pena do
crime de receptação na hipótese de celulares roubados.
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