sexta-feira, 21 de março de 2025

Roubo de celular afeta Lula, e governo reage - Andrea Jubé

Valor Econômico

Oposição vai liderar na próxima semana um amplo debate sobre segurança pública

A oposição vai liderar na próxima semana um amplo debate sobre segurança pública, em evento promovido pela Fundação Francisco Dornelles, ligada ao Partido Progressistas (PP). O “Fórum de Segurança Pública pelo Brasil” reunirá alguns dos principais quadros do campo adversário ao governo, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), o senador Sergio Moro (União-PR) e o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite.

Ao tomarem conhecimento da programação, alguns aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentaram a dificuldade do governo de explorar a pauta, que é prioritária para os brasileiros, e na qual a oposição trafega com desenvoltura. A percepção desses aliados é de que, em um momento de clamor da sociedade com a escalada da violência e da sensação de insegurança, o PT deveria puxar esse debate. Porém, no momento, lideranças petistas estão dedicadas a se autodevorar na disputa interna pelo controle das finanças do partido.

Embora a maioria dos palestrantes no evento do PP represente a oposição, a abertura caberá ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski. “O melhor quadro desse governo”, elogiou o senador e ex-ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (PP-PI), organizador do evento.

Lewandowski vai detalhar a proposta de emenda constitucional que o governo enviará nas próximas semanas ao Congresso, a “PEC da Segurança Pública”, em cuja articulação vem se empenhando pessoalmente há meses, na tentativa de neutralizar a resistência de governadores e secretários de Segurança Pública.

Nogueira disse à coluna que o objetivo do debate é produzir um documento reunindo as melhores propostas para a área de segurança, e encaminhá-lo ao presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (União-AP), e ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). Ambos foram convidados para o evento, mas estarão no exterior no dia dos painéis, integrando a comitiva de Lula na visita oficial ao Japão e ao Vietnã.

A percepção de Nogueira é que, embora Lula tenha começado a abordar a segurança pública em seus discursos, trata-se de um debate que a esquerda já perdeu, sem reviravolta. “Essa pauta é da direita, a esquerda só fala em proteger os presos, em direitos humanos, e a população não se sente representada”, argumentou. Nesse ponto, lembrou uma declaração de Lula, anos atrás, sobre ladrões de celulares, e fez uma provocação: “Quando você viu alguém da esquerda fazer um discurso duro de combate ao crime?”

A menção de Nogueira à declaração de Lula no passado sobre roubos de celulares é oportuna diante da recente manifestação do presidente. Durante um evento em Fortaleza, no Ceará, nessa quarta-feira (19), Lula alertou que o governo não permitirá que “a república de ladrões de celular comece a assustar as pessoas nas ruas desse país". Reforçou que o objetivo de sua gestão é garantir que o "lugar de bandido não é na rua, assaltando as pessoas".

A modulação do discurso de Lula sobre segurança tem a digital do ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, no cargo há cerca de 50 dias. Pesquisas encomendadas pelo governo atestam que o roubo de celulares é uma das questões de insegurança que mais aflige a população de baixa renda e da classe média, ao lado do tráfico de drogas, do crime organizado e do aumento de crimes violentos.

Um monitoramento das redes sociais conduzido pela equipe de Sidônio detectou que recortes enviesados daquela declaração do petista sobre ladrões de celulares, ocorrida em 2019, voltaram a circular nas últimas semanas nas plataformas digitais, e contribuem para a rejeição do presidente.

Naquela manifestação, durante um ato em São Bernardo do Campo (SP), Lula afirmou: “Não posso ver mais jovem de 14 e 15 anos assaltando e sendo violentado, assassinado pela polícia, às vezes inocente, ou às vezes porque roubou um celular”. Na ocasião, ele fazia uma crítica ao aumento dos assassinatos de jovens negros e pardos nas periferias, mas foi infeliz na colocação, e sua fala deu munição aos adversários. Segundo o Atlas da Violência 2024, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, quase metade dos homicídios em 2022 teve como alvo jovens de 15 a 29 anos.

Essa declaração voltou a circular há pouco mais de um mês, a propósito do assassinato do ciclista Vitor Medrado, de 46 anos, em São Paulo, que chocou os brasileiros. Ele estava parado em frente ao Parque do Povo, na zona oeste da capital, quando foi abordado e alvejado à queima-roupa com um tiro no pescoço pelos assaltantes, que levaram o seu celular.

Nessa quarta-feira, o assassinato de Medrado voltou à pauta nacional. Em São Paulo, Guilherme Derrite usou o seu perfil nas redes para anunciar a prisão dos dois suspeitos pela morte violenta do ciclista. No mesmo dia, Lula bradou no Ceará que o Brasil não vai se tornar a “república de ladrões de celular”.

O governo investirá na pauta. Sidônio prepara uma campanha publicitária sobre o “Celular Seguro”, aplicativo do Ministério da Justiça que ajuda a bloquear e localizar celulares perdidos ou roubados. Ao mesmo tempo, o ministério estuda um projeto de lei para aumentar a pena do crime de receptação na hipótese de celulares roubados.

 

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