Folha de S. Paulo
Na política politiqueira, nos mercados e até
em redes e ruas há uma pausa no ruído
Em dezembro, houve o pânico
de dólar e juros. Em janeiro, a revolta
das mentiras do Pix. A popularidade de Luiz Inácio Lula da
Silva caiu
para perto da zona de rebaixamento.
Desde fevereiro, não mais do que de repente,
do vento fez-se a calma, ao menos calmaria sob céus suspeitos. Há pouco ruído
na política politiqueira —Congresso e cercanias. A gritaria contra o governo
nas redes anda menor. Ainda caro, o dólar baixou do exagero de R$ 6,27 de
dezembro para
a casa dos R$ 5,60. Os motivos são díspares, mas o clima está mais ameno.
O Orçamento foi aprovado de modo suave, embora com custos. Entre emendas e penduricalhos assemelhados, o governo se comprometeu a colocar R$ 61 bilhões nas mãos de deputados e senadores. Equivale a 70% do investimento federal em 2024 (boa parte das emendas é investimento, mas se trata aqui de ordem de grandeza); o Bolsa Família levou quase R$ 171 bilhões no ano passado.
Gleisi Hoffmann, ministra das relações
políticas, tida como belicosa, fez o acordo, com apoio de Casa Civil e Fazenda.
O Orçamento tem contas fictícias, o que é "business as usual" e vai
exigir contenções grandes, lá por maio —se o governo quiser manter a calmaria.
Mas a aprovação diminui receios de tumulto, o
que deve agradar até aos povos dos mercados. Por falar neles, a reação à lei de
mudança no Imposto de Renda foi quase nenhuma.
Os presidentes da Câmara, Hugo Motta
(Republicanos-PB), e do Senado, David
Alcolumbre (União Brasil-AP), têm preferido conversas reservadas a ruídos
públicos, em especial quanto ao essencial, emendas. No mais, eles e os novos
presidentes de comissões importantes do Congresso têm afirmado que não vão dar
trela para pautas da "polarização".
A manifestação
de domingo, pró-golpe e anistia, foi grande o bastante para não desanimar
militantes que a viram pelas telas; na política, apenas a extrema direita tem
levado gente para a rua. Mas não alarmou o país, não se espalhou e nem parece
fazer parte de um "crescendo" de ruído político: "não pintou um
clima".
Lula diz disparates demagógicos sobre inflação,
diesel, ovo e picanha. Mas seu governo não tomou decisão maluca sobre preços. O
projeto do novo consignado, apesar do escândalo estereotipado que causou em
parte de "o mercado", vai na direção do que é justo e eficiente; o
impacto negativo ora previsível na política monetária será pequeno.
Uma mudança importante nas aplicações
financeiras dos donos do dinheiro grosso do mundo fez o preço do dólar baixar e
até deu oxigênio para a esquálida Bolsa brasileira. Parte do dinheiro que sai
dos EUA parece pingar em emergentes ou, no mínimo, a reviravolta americana
contribui para encarecer e tornar arriscadas "apostas" na alta do
dólar.
No Brasil, em parte também por causa da
dureza do Banco Central,
os juros no
mercado recuaram em relação aos picos de janeiro (caindo um ponto percentual no
caso de taxas para 2 e 3 anos). Sim, ainda é arrocho. Não haverá refresco maior
enquanto não se der jeito na situação fiscal, que é grave.
Por falar "no fiscal", como diz o
povo do mercado, até o aumento de gasto do governo federal foi contido. Sim, a
despesa cresceu 12% em termos reais, acima da inflação, desde o início de Lula
3, um espanto. Mas, nos 12 meses até este janeiro de 2025, a despesa CAIU 0,8%.
Depois do Carnaval, o ano começou
estranhamente ameno.
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