Folha de S. Paulo
Banqueiro do Bradesco mostra equilíbrio ao
falar do papel das expectativas e da demonização do crescimento
Em
entrevista à Folha, Luiz Carlos Trabuco, presidente do Conselho
de Administração do Bradesco,
mostrou cautela e equilíbrio ao comentar a atual situação da economia
brasileira. Reiterou a necessidade de que o crescimento tenha bases
sustentáveis e destacou a importância do famoso tripé macroeconômico, dólar flutuante,
meta de inflação e
responsabilidade fiscal.
Ao mesmo tempo mandou seu recado para o que
parece considerar exageros do discurso de setores ligados ao mundo financeiro,
obcecados pelo ajuste fiscal e com tendências a "demonizar o
crescimento".
Em sua análise, chamou a atenção para a
emergência em cena, junto ao tripé, de um novo parâmetro a pressionar a
formulação e condução da política econômica: "A questão é que existe hoje
um quarto componente que são as expectativas
do mercado", disse.
Tais expectativas fazem parte do processo de hegemonia do capital financeiro. No Brasil, departamentos de consultorias, bancos e outras instituições que atuam no ou para o mercado de papéis, juros, câmbio, crédito etc. desenvolvem modelos, fazem suas previsões e projeções e manifestam, sob esse aparato técnico, interesses do setor —com abundante espuma em veículos de comunicação.
Trabuco, formado em filosofia pela USP e um
caso de ascensão de funcionário modesto ao posto máximo do banco, viveu o tempo
em que o debate na economia era marcado por questões relativas ao
desenvolvimento, aumento de renda e redução de desigualdades. O chamado setor
produtivo tinha maior importância relativa, a economia política era valorizada
e grandes economistas discutiam estratégias para a superação do
subdesenvolvimento.
Tudo isso, para o bem ou para mal, ficou para
trás. Os expoentes das discussões macroeconômicas foram substituídos por uma
legião de economistas que funcionam como contadores das finanças voltados para
contas públicas e redução do Estado. São os especialistas do boletim Focus,
oráculo, aliás, às vezes fora de foco, em especial e sintomaticamente quando o
tema é crescimento, basta ver os equívocos em série nas estimativas do PIB.
É fato que aquela quadra gerou seus frutos, o
país cresceu, ganhou certa musculatura, mas são também conhecidas as distorções
que o protagonismo do Estado gerou, com a modernização incompleta, gastos
descontrolados e inflação —inclusive em sua versão geiselista na ditadura
militar.
Não se trata de voltar a padrões
historicamente superados, mas a história deveria servir para calibrar visões
sobre o futuro e não para jogar a criança junto com a água da bacia. Daí a
pertinência de ponderar sobre um certo frenesi mistificador do fiscalismo no
debate público, fetiche e panaceia que quer tudo explicar.
Trabuco levanta, por exemplo, as associações
esquemáticas em torno das recentes elevações da taxa de câmbio, que teriam sido
causadas, segundo essa perspectiva, por um pacote fiscal pífio, aumento da
dívida etc. A queda vertiginosa da cotação do dólar neste ano não ajuda o
diagnóstico.
Sim, temos problemas fiscais e eles precisam
ser apontados e enfrentados. É preciso, porém, cuidado com as grandes certezas
que servem para demarcar polarizações. Vale para a economia também. As palavras
de Trabuco são um bem-vindo contraponto ao ritmo dessa banda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário