sexta-feira, 21 de março de 2025

Direita dá um tempo no esperneio - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Os adultos na sala da oposição avaliam que é hora de aguardar o tom e o rumo do julgamento no STF

Com o julgamento das ações por tentativa de golpe de Estado e atos correlatos prestes a começar, tudo que os adultos sentados na sala da direita não querem é criar confusão com o Supremo Tribunal Federal nem conturbar ainda mais o ambiente político.

Daí que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL) foi aconselhado a se afastar da cena e desistir de presidir a Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Daí decorre também o certo alívio naquele campo com o ato esvaziado em prol da anistia aos executores de atos antidemocráticos entre o fim de 2022 e início de 2023.

O filho do ex-presidente iria para a comissão com o intuito de tumultuar, criando situações para insinuar reprimendas dos Estados Unidos ao Supremo, reforçando apreço por Donald Trump enquanto o presidente americano afronta o mundo democrático, Brasil incluído, e põe em risco a economia global. Eduardo Bolsonaro fará seu show nesse roteiro de qualquer jeito, mas fora da cena nacional.

Não é prudente, avalia-se, colocar o carro à frente dos bois, bem como aconselha-se a não menosprezar a inteligência dos ministros do STF acreditando que cairiam em provocações que reforçassem a tese de um julgamento persecutório. São sagazes o suficiente para não entrar nessa pilha. Há também a percepção de que quanto mais Bolsonaro se coloca na linha de frente da defesa da anistia, figurando assim como principal beneficiário, menos chances o projeto tem de ser aprovado tão cedo. Ilustra a própria vaidade, mas inibe apoios à defesa de alívios de penas em casos pontuais.

A coisa perdeu tração no Congresso. Os presidentes da Câmara e do Senado não estão a fim de comprar tensões adicionais com o Executivo e o Judiciário. Comandantes de partidos do centrão, como PSD e Republicanos, tampouco. A despeito de às vezes se posicionarem com um pé lá e outro cá, ainda permanecem de corpo a alma agarrados aos ministérios.

Por essas e algumas outras (emendas) é que os mais experientes acham melhor esperar o tom e o rumo do julgamento para só então espernear.

 

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