sexta-feira, 28 de março de 2025

Bolsonaro será condenado, mas bolsonarismo seguirá vivo - Bernardo Mello Franco

O Globo

Extrema direita dominou campo conservador e voltará a disputar com Lula em 2026

Jair Bolsonaro virou réu e, pelo que se viu e ouviu no Supremo, caminha para ser condenado nos próximos meses. O capitão já estava inelegível pelos ataques à urna eletrônica. Agora deve receber uma pena dura pela tentativa de golpe.

Na quarta-feira, uma jornalista quis saber quem ele apoiará em 2026. O ex-presidente se invocou com a pergunta, engrossou com a repórter e arriscou uma piada: “Se não for o Jair, vai ser o Messias. Quer um terceiro nome? O Bolsonaro”.

O capitão não quer largar o osso tão cedo. Enquanto estiver solto, deve sustentar a ficção de que será candidato. A insistência serve a dois objetivos: evitar a desmobilização da tropa e elevar o preço de um endosso eleitoral no ano que vem.

Acostumado a fazer política em família, o ex-presidente estimulava o deputado Eduardo Bolsonaro a se apresentar como “plano B”. Com a fuga do filho para os Estados Unidos, ele será pressionado a escolher outro herdeiro que prometa indultá-lo.

Não faltam candidatos a esse tipo de acordo. Primeiro da fila, Tarcísio de Freitas se apressou para bater continência e jurar fidelidade ao padrinho. “Bolsonaro é a principal liderança política do Brasil e assim seguirá”, derramou-se, ao fim do julgamento.

Se o governador ainda disfarça a aspiração presidencial, seus aliados já rasgaram a fantasia. Em dois dias, três deles se ofereceram abertamente para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes: o prefeito Ricardo Nunes, o secretário Gilberto Kassab e o deputado André do Prado.

Quando o Supremo estiver próximo de bater o martelo, restarão a Bolsonaro duas opções: esperar o veredito ou fugir do país para escapar da cadeia. Isso não significa que o bolsonarismo sairá de cena.

Comandada pelo capitão, a extrema direita fincou raízes, cresceu e se tornou hegemônica no campo conservador. É dessa linhagem autoritária, e não de um centro imaginário, que deverá emergir o adversário do PT em 2026.

A História do Brasil também sugere que é arriscado descartar a hipótese de um retorno do Messias. De Getúlio a Lula, o país já teve outros presidentes que perderam o poder e chegaram a ser dados como mortos para a política. Até ressuscitarem.

 

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