Elio Gaspari
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Planalto gasta em chocolates e sorvetes do Aerolula o valor da preservação da memória anual de uma câmera
O GABINETE de Segurança Institucional, como a Receita Federal, serve ao Estado, não ao governo. Pois de lá veio a informação de que a cada 30 dias o sistema de monitoramento da circulação de pessoas pelo Palácio do Planalto apaga as imagens gravadas pelas câmeras colocadas nos seus corredores. Em benefício do GSI, admita-se que isso é verdade. Nesse caso, trata-se de um exemplo de incompetência ou de desinteresse pela preservação do que acontece na sede do governo. Indica que há mais interesse em apagar a memória do que lá acontece do que em preservá-la.
A preocupação com a capacidade de armazenamento de arquivos digitais é coisa de quem tem mais de 50 anos e há pelo menos dez não lê sobre o assunto. No século passado, para economizar espaço em seu arquivos, a Nasa apagou o vídeo da chegada de Neil Armstrong na Lua, mas as gravações estavam em fitas. Hoje o material caberia num iPod.
O GSI tem dezenas de câmeras espalhadas pelo Planalto. Supondo-se que elas sejam acionadas ao detectar movimentos e gravem 15 quadros por segundo, sua memória, comprimida, armazena 156 gigabytes por mês, ou 1,8 terabytes por ano. Parece muita coisa, mas uma caixinha capaz de guardar tudo isso sai por apenas US$ 200 na loja newegg.com. (Esse foi o custo dos chocolates e sorvetes colocado no Aerolula num de seus voos para os Estados Unidos.)
Admitindo-se que uma vigilância seletiva exija pelo menos 50 câmeras, a despesa vai para US$ 10 mil, ou R$ 19 mil. Em termos de segurança, trata-se de um cascalho, equivale ao custo anual de três cachorros treinados para farejar explosivos a serviço da Casa Branca. Na contabilidade dos companheiros do Planalto, a despesa cobre três meses de gastos do cartão corporativo de um agente a serviço de um familiar de Nosso Guia em 2007.
A explicação do Gabinete de Segurança Institucional decorreu de um pedido do deputado Ronaldo Caiado. Ele queria todos os registros de novembro e dezembro de 2008 para conferir se a secretária da Receita Federal, Lina Vieira, estivera no gabinete da ministra Dilma Rousseff. A solicitação era absurda, pois nenhum governo deve entregar todos os seus vídeos a curiosos. O GSI teria sólidos motivos para dizer que não atenderia à solicitação, em nome da segurança do Estado.
O Estado é aquela instituição a que serve a cúpula demissionária da Receita Federal. Doze servidores que ocupavam cargos cobiçados por empresários poderosos, ministros e parlamentares da base do governo, preferiram deixar as cadeiras, retornando ao chão de suas repartições. Nenhum deles suspendeu o serviço. Devolver cargo de confiança está mais para sacrifício do que para rebelião. Eles defendem o fortalecimento da instituição. (Vale lembrar que 2010 será um ano de eleições gerais.) Numa época em que o Planalto prefere se desmoralizar nas cavalariças do Senado, esses servidores preferiram defender seus nomes e os interesses do Estado.
Há os que saem, como os "12 da Receita", Marina Silva e Flávio Arns. Há os que, irrevogavelmente, ficam, como o senador Aloizio Mercadante. A letra do samba imortalizado por Jamelão mudou de significado. Ele dizia que "quem samba fica, quem não samba vai embora".
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Planalto gasta em chocolates e sorvetes do Aerolula o valor da preservação da memória anual de uma câmera
O GABINETE de Segurança Institucional, como a Receita Federal, serve ao Estado, não ao governo. Pois de lá veio a informação de que a cada 30 dias o sistema de monitoramento da circulação de pessoas pelo Palácio do Planalto apaga as imagens gravadas pelas câmeras colocadas nos seus corredores. Em benefício do GSI, admita-se que isso é verdade. Nesse caso, trata-se de um exemplo de incompetência ou de desinteresse pela preservação do que acontece na sede do governo. Indica que há mais interesse em apagar a memória do que lá acontece do que em preservá-la.
A preocupação com a capacidade de armazenamento de arquivos digitais é coisa de quem tem mais de 50 anos e há pelo menos dez não lê sobre o assunto. No século passado, para economizar espaço em seu arquivos, a Nasa apagou o vídeo da chegada de Neil Armstrong na Lua, mas as gravações estavam em fitas. Hoje o material caberia num iPod.
O GSI tem dezenas de câmeras espalhadas pelo Planalto. Supondo-se que elas sejam acionadas ao detectar movimentos e gravem 15 quadros por segundo, sua memória, comprimida, armazena 156 gigabytes por mês, ou 1,8 terabytes por ano. Parece muita coisa, mas uma caixinha capaz de guardar tudo isso sai por apenas US$ 200 na loja newegg.com. (Esse foi o custo dos chocolates e sorvetes colocado no Aerolula num de seus voos para os Estados Unidos.)
Admitindo-se que uma vigilância seletiva exija pelo menos 50 câmeras, a despesa vai para US$ 10 mil, ou R$ 19 mil. Em termos de segurança, trata-se de um cascalho, equivale ao custo anual de três cachorros treinados para farejar explosivos a serviço da Casa Branca. Na contabilidade dos companheiros do Planalto, a despesa cobre três meses de gastos do cartão corporativo de um agente a serviço de um familiar de Nosso Guia em 2007.
A explicação do Gabinete de Segurança Institucional decorreu de um pedido do deputado Ronaldo Caiado. Ele queria todos os registros de novembro e dezembro de 2008 para conferir se a secretária da Receita Federal, Lina Vieira, estivera no gabinete da ministra Dilma Rousseff. A solicitação era absurda, pois nenhum governo deve entregar todos os seus vídeos a curiosos. O GSI teria sólidos motivos para dizer que não atenderia à solicitação, em nome da segurança do Estado.
O Estado é aquela instituição a que serve a cúpula demissionária da Receita Federal. Doze servidores que ocupavam cargos cobiçados por empresários poderosos, ministros e parlamentares da base do governo, preferiram deixar as cadeiras, retornando ao chão de suas repartições. Nenhum deles suspendeu o serviço. Devolver cargo de confiança está mais para sacrifício do que para rebelião. Eles defendem o fortalecimento da instituição. (Vale lembrar que 2010 será um ano de eleições gerais.) Numa época em que o Planalto prefere se desmoralizar nas cavalariças do Senado, esses servidores preferiram defender seus nomes e os interesses do Estado.
Há os que saem, como os "12 da Receita", Marina Silva e Flávio Arns. Há os que, irrevogavelmente, ficam, como o senador Aloizio Mercadante. A letra do samba imortalizado por Jamelão mudou de significado. Ele dizia que "quem samba fica, quem não samba vai embora".
Nosso Guia preside um governo onde é preferível não sambar.
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