DEU NA FOLHA DE S. PAULO
As agruras dos deserdados da Europa revelam consequências do estatismo de ocasião depois de uma orgia de liberalidades
Abalroados pela crise financeira, os "periféricos" da zona do euro -Portugal, Irlanda, Grécia, Espanha- vivem a angústia do default. Elos frágeis da União Europeia, os chamados Pigs usufruíram as delícias da euforia financeira dos anos 90 do século passado e do início do milênio. Todos capricharam no consumismo e alguns se esmeraram na formação de bolhas imobiliárias, tudo financiado a crédito barato por bancos domésticos e estrangeiros.
Hoje, enfrentam os temores das instituições financeiras em prover recursos para financiar os desequilíbrios fiscais -deficit e dívida pública alentados-, além de buracos no balanço de pagamentos. Pavlos Tzimas, comentarista político grego, lamentou: "As pessoas passaram a maior parte da década pensando: "Pronto, nós conseguimos, estamos ricos" e de repente lhes dizem que o país está falido".
As agruras dos deserdados da Europa revelam de forma clara as consequências do estatismo de ocasião depois de uma orgia de liberalidades financeiras privadas. Instrumentos de curto prazo de sustentação dos lucros das empresas e de proteção dos portfólios do setor bancário privado, as políticas de geração de deficit e de criação de nova dívida pública incitam, hoje, a emergência de expectativas perversas. Os senhores da finança, salvos do naufrágio, passam a se orientar por suposições acerca da evolução da "crise financeira do Estado". O fato relevante nos próximos meses será a avaliação dos detentores de riqueza, sobretudo dos controladores do crédito, acerca dos rumos da política fiscal, de endividamento público e de redução do deficit externo.
Os Pigs agarram-se, agora, às esperanças de programas drásticos de arrocho fiscal, o que inclui naturalmente uma recessão com redução de salários e do emprego no setor público e na esfera privada. Fossem poucas as desgraças, a adesão à moeda única impede a utilização da desvalorização cambial para auxiliar no ajustamento do balanço de pagamentos.
O povaréu (gregos e troianos) resiste ao arrocho. Diante da reação da populaça, os mercados consideram improvável que os desditosos governos da periferia europeia consigam corrigir a trajetória do deficit fiscal, da dívida pública e do desequilíbrio de balanço de pagamentos. Nesse clima, elevam-se os prêmios de risco e restringem-se os mercados para contratos de prazos mais longos, comprometendo a própria capacidade do Estado de emitir dívida nova e de administrar o estoque de endividamento existente.
A propósito das políticas anticíclicas e de suas consequências, Keynes dizia ao economista James Meade: "Você acentua demais a cura e muito pouco a prevenção. A flutuação de curto prazo no volume de gastos em obras públicas é uma forma grosseira de cura, provavelmente destinada ao insucesso". Para ele, o investimento autônomo do Estado e a regulação rigorosa da finança pelos bancos centrais -com o propósito de impedir (e não de reparar) as flutuações agudas da renda e do emprego- deveriam estar inscritas de forma permanente nas políticas do Estado.
Luiz Gonzaga Belluzzo , 67, é professor titular de economia da Unicamp. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).
As agruras dos deserdados da Europa revelam consequências do estatismo de ocasião depois de uma orgia de liberalidades
Abalroados pela crise financeira, os "periféricos" da zona do euro -Portugal, Irlanda, Grécia, Espanha- vivem a angústia do default. Elos frágeis da União Europeia, os chamados Pigs usufruíram as delícias da euforia financeira dos anos 90 do século passado e do início do milênio. Todos capricharam no consumismo e alguns se esmeraram na formação de bolhas imobiliárias, tudo financiado a crédito barato por bancos domésticos e estrangeiros.
Hoje, enfrentam os temores das instituições financeiras em prover recursos para financiar os desequilíbrios fiscais -deficit e dívida pública alentados-, além de buracos no balanço de pagamentos. Pavlos Tzimas, comentarista político grego, lamentou: "As pessoas passaram a maior parte da década pensando: "Pronto, nós conseguimos, estamos ricos" e de repente lhes dizem que o país está falido".
As agruras dos deserdados da Europa revelam de forma clara as consequências do estatismo de ocasião depois de uma orgia de liberalidades financeiras privadas. Instrumentos de curto prazo de sustentação dos lucros das empresas e de proteção dos portfólios do setor bancário privado, as políticas de geração de deficit e de criação de nova dívida pública incitam, hoje, a emergência de expectativas perversas. Os senhores da finança, salvos do naufrágio, passam a se orientar por suposições acerca da evolução da "crise financeira do Estado". O fato relevante nos próximos meses será a avaliação dos detentores de riqueza, sobretudo dos controladores do crédito, acerca dos rumos da política fiscal, de endividamento público e de redução do deficit externo.
Os Pigs agarram-se, agora, às esperanças de programas drásticos de arrocho fiscal, o que inclui naturalmente uma recessão com redução de salários e do emprego no setor público e na esfera privada. Fossem poucas as desgraças, a adesão à moeda única impede a utilização da desvalorização cambial para auxiliar no ajustamento do balanço de pagamentos.
O povaréu (gregos e troianos) resiste ao arrocho. Diante da reação da populaça, os mercados consideram improvável que os desditosos governos da periferia europeia consigam corrigir a trajetória do deficit fiscal, da dívida pública e do desequilíbrio de balanço de pagamentos. Nesse clima, elevam-se os prêmios de risco e restringem-se os mercados para contratos de prazos mais longos, comprometendo a própria capacidade do Estado de emitir dívida nova e de administrar o estoque de endividamento existente.
A propósito das políticas anticíclicas e de suas consequências, Keynes dizia ao economista James Meade: "Você acentua demais a cura e muito pouco a prevenção. A flutuação de curto prazo no volume de gastos em obras públicas é uma forma grosseira de cura, provavelmente destinada ao insucesso". Para ele, o investimento autônomo do Estado e a regulação rigorosa da finança pelos bancos centrais -com o propósito de impedir (e não de reparar) as flutuações agudas da renda e do emprego- deveriam estar inscritas de forma permanente nas políticas do Estado.
Luiz Gonzaga Belluzzo , 67, é professor titular de economia da Unicamp. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).
Nenhum comentário:
Postar um comentário