DEU NO VALOR ECONÔMICO
Para quem crê naquele PMDB que assumirá o poder no caso de Dilma Rousseff (PT) eleger-se Presidente, e ainda se o partido quiser mesmo assumir o papel de poder moderador oferecendo garantias contra a repetição, aqui, de arroubos autoritários que destroçam países vizinhos, a expectativa é que entre logo em ação aquele partido de imagem construída por Doutor Ulysses. Neste momento é a hora certa, pois vão logrando êxito, na reta final da campanha eleitoral que reúne em chapa as duas maiores legendas do país, as vozes do radicalismo.
Os ataques à imprensa no governo Lula não são novidade, sempre existiram, vêm de toda parte, e estão explicitados, com intenção específica de controle, no programa de governo do seu partido. Embora não tenha Lula os transformado efetivamente em medida concreta, ao longo de seus quase oito anos de mandato, algumas medidas tentadas foram frustradas pela reação. Mas não desistiu do principal ideário de anulação do pensamento discordante. Tanto que se repetiram no programa da candidata do partido à sua sucessão e até foram enviados ao Tribunal Superior Eleitoral como documento oficial (com um leve recuo a posteriori para não criar mais polêmicas na campanha).
Como é um modelo sempre em perspectiva, transforma-se em ameaça aguda tão logo o governo se vê diante da necessidade de enfrentar novas denúncias de corrupção ou até mesmo uma manifestação simples de opinião diversa.
Fiador da democracia, PMDB confia nos aliados
As recentes denúncias sobre a persistência de vida ativa em núcleos de corrupção bem próximos ao gabinete do Presidente da República e no próprio gabinete que foi ocupado pela candidata à sua sucessão, a Casa Civil, tiveram o condão de acionar o costumeiro script: primeiro a desqualificação, depois o sofisma, um ensaio de defesa pelo ataque aos adversários, em seguida um gesto no sentido de ordenar apuração que resulta em nada, ficando o grande final para o ataque contundente, violento, para o qual arregimenta rapidamente todos os instrumentos que mantém azeitados, à imprensa.
Ao longo dos anos Lula, as vítimas, com a contribuição da indignação da sociedade e apoio de algumas figuras de governo com convicções democráticas mais firmes -, pelo menos dois deles cotados para continuar no poder no caso de vitória da candidata do PT -, vinham conseguindo evitar a mão de força contra o pensamento discordante. As ameaças, porém, nunca cessaram, e este é um momento de total fertilidade para elas por causa das novas suspeitas de irregularidades.
Só que, desta vez, à voz do deputado cassado José Dirceu em pregação a sindicalistas na Bahia, e ao acionamento precoce da militância com seus tambores de guerra, além da convocação dos sindicatos contra a mídia, juntaram-se o presidente Lula e a candidata Dilma em injustas e distorcidas considerações sobre o trabalho da imprensa. Em uníssono.
Com a proximidade do fim da campanha e a retomada do governo, com as ameaças em estado febril, não são mais tão remotas as possibilidades de se viver, aqui, a opressão que vivem vizinhos até há poucos anos exemplos de desenvolvimento econômico e democracia.
Um Congresso em que muitos parlamentares tiveram seus malfeitos também denunciados, e por isso se juntaram aos que querem calar a imprensa, o governo terá na próxima legislatura maioria esmagadora, portanto em condições de amplificar esses sinais de radicalização.
O PMDB, mesmo com muitos de seus parlamentares envolvidos em escândalos denunciados pela imprensa, está prometendo, desde o início da formulação do programa de governo, não embarcar em propostas totalitárias.
O deputado Moreira Franco, ex-diretor da Caixa Econômica Federal no governo Lula, coordenador da elaboração do programa do PMDB, principal representante do partido no grupo de aliados que compatibilizaram as ideias da coligação entregues à candidata petista, até duvida que a ameaça à democracia exista. Assegura que é para valer e tem classificação prioritária um dos 13 itens do projeto conjunto, o que firma o compromisso com as liberdades democráticas.
"O que vale, na vida democrática, é você partir do pressuposto que existe dissenso. O consenso é uma utopia autoritária. Todo mundo não pensa igual", diz o deputado que, no momento, trabalha em Estados onde o PMDB está dividido para haver o mínimo de defecções na inédita união partidária em torno dos candidatos Dilma Rousseff e Michel Temer (PMDB).
Diz, sobre a pregação de José Dirceu (que, de resto, resume as posições do partido contra a imprensa), não ter a menor dúvida que é uma opinião isolada da qual não compartilham a candidata, nem a maioria das pessoas que estão na campanha, nem refletem o pensamento dos partidos que a apoiam.
"Sobretudo o PMDB. O nosso legado, a nossa luta, a luta de uma geração inteira foi exatamente por liberdade: liberdade de imprensa, de organização, de expressão. Não vamos agora cuspir na nossa biografia".
Moreira Franco argumenta que o PMDB tem posição clara quanto à democracia, fez um programa consistente, com compromissos bem definidos em relação aos temas polêmicos, entregou-o à candidata publicamente, discutiu-o publicamente. "Adotamos a atitude mais transparente, até contundente".
O PMDB espera fazer de 95 a 100 deputados e a maior bancada de senadores. Crê o coordenador do programa que, após a eleição, o partido seguirá unido, mas não haverá necessidade de mediar nada, como não há razão para antecipar a busca do equilíbrio. "Todos os indicativos que tenho são de que a Dilma tem compromissos democráticos muito claros, ela tem uma biografia comprometida com esses valores, ela reiterou para nós, várias vezes, que esses são os compromissos de vida dela".
O PMDB, diz o coordenador, está vendo as ameaças do momento sem inquietação, mais como discurso, que não exigem mobilização, ainda. Mesmo com o fim da campanha chegando e tornando-se real a possibilidade de as ameaças ultrapassarem a fronteira da retórica.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
Para quem crê naquele PMDB que assumirá o poder no caso de Dilma Rousseff (PT) eleger-se Presidente, e ainda se o partido quiser mesmo assumir o papel de poder moderador oferecendo garantias contra a repetição, aqui, de arroubos autoritários que destroçam países vizinhos, a expectativa é que entre logo em ação aquele partido de imagem construída por Doutor Ulysses. Neste momento é a hora certa, pois vão logrando êxito, na reta final da campanha eleitoral que reúne em chapa as duas maiores legendas do país, as vozes do radicalismo.
Os ataques à imprensa no governo Lula não são novidade, sempre existiram, vêm de toda parte, e estão explicitados, com intenção específica de controle, no programa de governo do seu partido. Embora não tenha Lula os transformado efetivamente em medida concreta, ao longo de seus quase oito anos de mandato, algumas medidas tentadas foram frustradas pela reação. Mas não desistiu do principal ideário de anulação do pensamento discordante. Tanto que se repetiram no programa da candidata do partido à sua sucessão e até foram enviados ao Tribunal Superior Eleitoral como documento oficial (com um leve recuo a posteriori para não criar mais polêmicas na campanha).
Como é um modelo sempre em perspectiva, transforma-se em ameaça aguda tão logo o governo se vê diante da necessidade de enfrentar novas denúncias de corrupção ou até mesmo uma manifestação simples de opinião diversa.
Fiador da democracia, PMDB confia nos aliados
As recentes denúncias sobre a persistência de vida ativa em núcleos de corrupção bem próximos ao gabinete do Presidente da República e no próprio gabinete que foi ocupado pela candidata à sua sucessão, a Casa Civil, tiveram o condão de acionar o costumeiro script: primeiro a desqualificação, depois o sofisma, um ensaio de defesa pelo ataque aos adversários, em seguida um gesto no sentido de ordenar apuração que resulta em nada, ficando o grande final para o ataque contundente, violento, para o qual arregimenta rapidamente todos os instrumentos que mantém azeitados, à imprensa.
Ao longo dos anos Lula, as vítimas, com a contribuição da indignação da sociedade e apoio de algumas figuras de governo com convicções democráticas mais firmes -, pelo menos dois deles cotados para continuar no poder no caso de vitória da candidata do PT -, vinham conseguindo evitar a mão de força contra o pensamento discordante. As ameaças, porém, nunca cessaram, e este é um momento de total fertilidade para elas por causa das novas suspeitas de irregularidades.
Só que, desta vez, à voz do deputado cassado José Dirceu em pregação a sindicalistas na Bahia, e ao acionamento precoce da militância com seus tambores de guerra, além da convocação dos sindicatos contra a mídia, juntaram-se o presidente Lula e a candidata Dilma em injustas e distorcidas considerações sobre o trabalho da imprensa. Em uníssono.
Com a proximidade do fim da campanha e a retomada do governo, com as ameaças em estado febril, não são mais tão remotas as possibilidades de se viver, aqui, a opressão que vivem vizinhos até há poucos anos exemplos de desenvolvimento econômico e democracia.
Um Congresso em que muitos parlamentares tiveram seus malfeitos também denunciados, e por isso se juntaram aos que querem calar a imprensa, o governo terá na próxima legislatura maioria esmagadora, portanto em condições de amplificar esses sinais de radicalização.
O PMDB, mesmo com muitos de seus parlamentares envolvidos em escândalos denunciados pela imprensa, está prometendo, desde o início da formulação do programa de governo, não embarcar em propostas totalitárias.
O deputado Moreira Franco, ex-diretor da Caixa Econômica Federal no governo Lula, coordenador da elaboração do programa do PMDB, principal representante do partido no grupo de aliados que compatibilizaram as ideias da coligação entregues à candidata petista, até duvida que a ameaça à democracia exista. Assegura que é para valer e tem classificação prioritária um dos 13 itens do projeto conjunto, o que firma o compromisso com as liberdades democráticas.
"O que vale, na vida democrática, é você partir do pressuposto que existe dissenso. O consenso é uma utopia autoritária. Todo mundo não pensa igual", diz o deputado que, no momento, trabalha em Estados onde o PMDB está dividido para haver o mínimo de defecções na inédita união partidária em torno dos candidatos Dilma Rousseff e Michel Temer (PMDB).
Diz, sobre a pregação de José Dirceu (que, de resto, resume as posições do partido contra a imprensa), não ter a menor dúvida que é uma opinião isolada da qual não compartilham a candidata, nem a maioria das pessoas que estão na campanha, nem refletem o pensamento dos partidos que a apoiam.
"Sobretudo o PMDB. O nosso legado, a nossa luta, a luta de uma geração inteira foi exatamente por liberdade: liberdade de imprensa, de organização, de expressão. Não vamos agora cuspir na nossa biografia".
Moreira Franco argumenta que o PMDB tem posição clara quanto à democracia, fez um programa consistente, com compromissos bem definidos em relação aos temas polêmicos, entregou-o à candidata publicamente, discutiu-o publicamente. "Adotamos a atitude mais transparente, até contundente".
O PMDB espera fazer de 95 a 100 deputados e a maior bancada de senadores. Crê o coordenador do programa que, após a eleição, o partido seguirá unido, mas não haverá necessidade de mediar nada, como não há razão para antecipar a busca do equilíbrio. "Todos os indicativos que tenho são de que a Dilma tem compromissos democráticos muito claros, ela tem uma biografia comprometida com esses valores, ela reiterou para nós, várias vezes, que esses são os compromissos de vida dela".
O PMDB, diz o coordenador, está vendo as ameaças do momento sem inquietação, mais como discurso, que não exigem mobilização, ainda. Mesmo com o fim da campanha chegando e tornando-se real a possibilidade de as ameaças ultrapassarem a fronteira da retórica.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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