Construção em ilha em
Santos (SP) é o maior negócio flagrado na Operação Porto Seguro, da Polícia
Federal
No cargo de
advogado-geral-adjunto da União, José Weber Holanda ajudou o ex-senador do PMDB
Gilberto Miranda a obter aprovação para construir porto de R$ 2 bilhões em uma
ilha em Santos. É o maior negócio flagrado na Operação Porto Seguro, da Polícia
Federal.
O projeto dependia de
autorização de três órgãos federais. Todos o aprovaram.
A gravação de uma conversa
entre Weber e Paulo Rodrigues Vieira, então diretor da ANA (Agência Nacional de
águas) e hoje preso, sugere pagamento de propina ao ex-servidor da AGU.
Weber foi indiciado
pela PF e afastado da função. Ele não foi localizado para comentar as suspeitas
— assim como os advogados de Vieira e de Miranda.
Procuradora afirma que
ex-chefe de escritório da Presidência em SP recorria a José Dirceu para atender
a interesses da quadrilha.
Ex-assessora usou
e-mail do governo para pedir dinheiro
Grupo ajudou
ex-senador a liberar projeto de R$ 2 bi
Membro da AGU auxiliou Gilberto Miranda na licença para obra em ilha em SP
Localizado em área de proteção permanente, o empreendimento é o maior
negócio flagrado na operação da PF
Mario Cesar Carvalho, José Ernesto Credendio
SÃO PAULO - No cargo de advogado-geral-adjunto da União, José Weber Holanda
ajudou o ex-senador Gilberto Miranda na aprovação do projeto de um complexo
portuário de R$ 2 bilhões na ilha de Bagres, área de proteção permanente ao
lado do porto de Santos.
A obra, que ocuparia 1,2 milhão de m² -área similar à do parque Ibirapuera-,
dependia de autorização do Ibama, da Secretaria de Portos e da Secretaria de
Patrimônio da União. Todos aprovaram.
Weber atuava com Paulo Rodrigues Vieira, preso na última sexta pela Operação
Porto Seguro da Polícia Federal sob acusação de comandar um grupo que fazia
tráfico de influência em órgãos federais.
O empreendimento na ilha de Bagres, cuja construção começaria em 2013, é o
maior negócio flagrado na ação.
Weber era o braço direito do ministro Luís Inácio Adams na AGU
(Advocacia-Geral da União), órgão que defende os interesses do governo.
Indiciado pela PF, ele foi afastado do cargo.
A procuradora que atua no caso, Suzana Fairbanks, escreveu que uma das
conversas telefônicas entre Vieira e Weber, em abril, sugere o pagamento de
propina a Weber.
Vieira diz: "Eu trouxe aquele volume resumido. Tem o volume resumido
que eu mandei comprar pra você e preciso te entregar".
Para a procuradora, "Paulo [Vieira] provavelmente estava pagando Weber
por seu auxílio, enquanto adjunto da AGU, no parecer que fundamentaria a
licença [...] de terminal no porto de Santos".
De acordo com a PF, "livros", "exemplares" e
"volume" são expressões cifradas para designar dinheiro.
O projeto foi aprovado pelo Ibama em um ano, tempo considerado inusual.
Casos assim costumam demorar até três anos. A procuradoria do Ibama é vinculada
à AGU.
Em outra ligação, Vieira diz que foi ele quem escreveu parecer sobre o
projeto: "Foi até eu que deu aquela redação".
A PF diz ter indícios de que os pareceres oficiais chegavam prontos para os
órgãos do governo. Um dos indícios aparece numa conversa de maio entre Miranda
e Vieira.
O ex-senador pergunta se Glauco [Moreira, procurador-geral da Agência
Nacional de Transportes Aquaviários] atenderia pedido do grupo.
"Ele dá sequência?", quer saber Miranda. Vieira responde:
"Dá! Principalmente se levar pronto. Principalmente se levar mel na
chupeta".
Uma assessora da Secretaria do Patrimônio da União, Evangelina Pinho, chegou
a viajar num jato de Miranda para tratar do projeto na ilha.
As gravações mostram que Miranda festeja quando o governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin (PSDB), assina um decreto em que reconhece a "relevância
econômica e social da obra".
A empresa do projeto, a SPE, foi criada em 2009. O principal acionista
chama-se Baron CV, firma registrada na Holanda com capital de R$ 25 milhões. A
PF suspeita que Miranda seja um dos sócios.
Fonte: Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário