Felipe Canêdo
Uma cerimônia no Palácio Tiradentes ontem, na Cidade Administrativa, marcou os 70 anos do Manifesto dos Mineiros – tido como o primeiro brado contra o Estado Novo, de Getúlio Vargas – e celebrou o lançamento de um livro comemorativo sobre o tema, contendo reprodução fidedigna do documento original, divulgado em 24 de outubro de 1943.
Familiares dos signatários e autoridades rememoraram as circunstâncias em que o texto foi escrito, em plena Segunda Guerra Mundial, sob a mão pesada da censura política imposta à imprensa e em tempos de repressão implacável comandada pela batuta de Filinto Müller (1900-1973). O manifesto foi impresso clandestinamente em Barbacena e distribuído nas principais capitais brasileiras. Ainda residente na cidade na Zona da Mata, a esposa de Achiles Maia – um dos 92 signatários e um dos responsáveis pela impressão do documento, dona Virgínia Pitanga Maia Buscacio, de 89 anos, resumiu: "Eles tiveram muita coragem para fazer o manifesto".
O governador Antonio Anastasia (PSDB) ressaltou a coragem dos que tomaram posição e não se furtaram à luta por democracia: "Mineiros ilustres resolveram arriscar, até suas vidas, para apresentar um grito de liberdade, que aliás, como o próprio manifesto evoca, é o grito de Minas Gerais". Para ele, o texto servirá sempre como inspiração "para aqueles que têm compromisso com a causa pública em Minas e no país".
Em seu discurso, Anastasia destacou o papel importante que o Estado de Minas teve fazendo frente ao arbítrio e defendendo a democracia, inclusive com a adesão de seu redator-chefe à época, Geraldo Teixeira da Costa, ao manifesto. "Ele foi um dos criadores da União Democrática Nacional (UDN), o partido que foi fundado para combater a ditadura na época", lembrou seu filho, Álvaro Teixeira da Costa, diretor-presidente o EM, que acompanhou a solenidade ao lado do filho Geraldo Teixeira da Costa Neto, diretor-executivo do jornal.
"O manifesto forneceu uma moldura institucional política partidária que deu a condução por mais pelo menos 20 anos da nossa política. As lições do manifesto falaram muito mais fundo e também inspiraram o movimento de redemocratização, em 1984 e 1985, quando Tancredo Neves capitaneou pelo Brasil afora até reestabelecermos o regime que felizmente hoje vivemos", afirmou o governador.
O presidente da Imprensa Oficial de Minas, Eugênio Ferraz, que coordenou a elaboração do livro comemorativo, apontou que o manifesto tem importância hoje para o desenvolvimento cívico, social e político do estado. "Em verdade, Minas não seria fiel a si mesma se abandonasse sua instintiva inclinação para sentir e realizar os interesses fundamentais de toda a nação", afirmou, citando um trecho do documento. A advogada Juliana Campos Horta, neta do governador Milton Campos, participou da solenidade e disse que o manifesto continua vivo e atual, "pois vivemos um momento em que a defesa das liberdades se faz importante", ela considerou.
O biólogo Mário Lúcio Brant, neto de João Eduardo Caldeira Brant e sobrinho-neto de Mário Brant, compareceu representando seu pai, Edmundo Caldeira Brant, de 92 anos, que escreveu uma carta lembrando a trajetória política do pai. No texto, ele destaca a defesa da democracia que João Edmundo fazia: "Em todas as suas cartas (ele) escrevia um bilhete: "o Brasil quer e há de ser uma democracia"", sublinhou o biólogo.
Na esteira das celebrações dos 70 anos do manifesto, hoje será lançada a medalha comemorativa, e, em 6 de novembro, os Correios lançam um selo comemorativo.
Fonte: Estado de Minas
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