Caciques do partido discutem os rumos da aliança com PT após a negativa de Dilma em entregar a Integração Nacional
Paulo de Tarso Lyra
Surpreendida pela recusa da presidente Dilma Rousseff em dar mais espaço para a legenda durante a reforma ministerial, a cúpula do PMDB reúne-se hoje à noite no Palácio do Jaburu, sede da vice-presidência da República, para saber o que fazer. A hipótese de abandonar o governo é remota, mas a intenção do grupo é encontrar uma maneira de mostrar a insatisfação com a decisão da presidente de avisar ao vice-presidente Michel Temer que não cederá o Ministério da Integração Nacional para a legenda. “A notícia dada pela presidente foi complexa demais para nós. Precisamos ver como ficam as coisas daqui por diante”, avisou o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). “Foi mais que um balde de água fria. Ainda tinha pedras de gelo para bater na nossa cabeça”, reclamou um peemedebista.
Como avisou um interlocutor do partido, existem peemedebistas mais radicais e alguns mais ponderados. Cunha está no primeiro grupo, já que, segundo o relato feito por Temer após a conversa com a presidente, se a Integração Nacional for entregue ao partido, uma das duas pastas ocupadas por deputados é que deverá ser sacrificada, provavelmente o Turismo. O PTB já avisou que se isso acontecer será o primeiro a pleitear o novo cargo.
O jantar de hoje contará com a toda a cúpula do partido. Além do anfitrião Temer, estarão presentes os presidentes da Câmara e do Senado, Henrique Eduardo Alves (RN) e Renan Calheiros (AL); Eduardo Cunha e o líder no Senado, Eunício Oliveira (CE); o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (AM); o vice-presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO); e o senador José Sarney (AP). “Todos sabem que o espaço do PMDB hoje, no governo, não corresponde, na qualidade, à importância do partido. Vamos conversar e tomar uma posição de unidade”, avisou Henrique Alves.
A decisão da presidente de avisar que não haveria espaço para a indicação do senador Vital do Rêgo (PB) surpreendeu até mesmo governistas que acompanham de perto os movimentos da reforma ministerial. “A presidente trucou com o PMDB”, disse um aliado, em uma referência ao tradicional jogo de cartas no qual os jogadores usam e abusam do blefe na tentativa de vencer a partida.
Esses interlocutores lembram que, até o fim de 2013, não se duvidava de que Vital do Rêgo seria o novo ministro da Integração. A hipótese mais provável para a mudança de humor de Dilma é de que a presidente tenha ficado irritada com informações que circularam nos jornais de que o PMDB queria mais do que uma pasta, com notícias de que o partido estaria de olho no Ministério das Cidades, ocupado atualmente pelo PP. “Dilma, com certeza, quis deixar claro que é ela quem manda no processo”, disse uma pessoa próxima à presidente.
Assuntos locais
Relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2014, o deputado Danilo Forte (PMDB-CE) disse que, nos últimos anos, o partido tem sido um dos mais fiéis ao governo. E que isso pode ter atrapalhado o PMDB, em vez de ajudá-lo. “No início do governo, éramos vistos como uma ameaça. Deixamos de ser e acabamos perdendo prestígio. Pelo nosso tamanho, além de mais espaço, deveríamos ter um maior protagonismo na definição das políticas públicas”, reclamou Forte.
As questões locais também podem ter pesado nessa decisão da presidente. Um dos principais caciques do PMDB, o senador José Sarney (AP) está fragilizado com a situação do Maranhão após a explosão de violência deflagrada no presídio de Pedrinhas, em São Luís. No Rio de Janeiro, o governador Sérgio Cabral Filho enfrenta os piores índices de avaliação do mandato. Disse que concorreria ao Senado, mas o presidente estadual do PMDB fluminense, Jorge Picciani, avisou que, se o PT abrir mão da candidatura de Lindbergh Farias ao governo do Rio, poderá indicar o senador na chapa.
Os sinais vindos do PMDB mostram um partido confuso e rachado, com diversos estados, como a Bahia, Pernambuco e o Mato Grosso do Sul, sinalizando que não darão palanque para Dilma nas eleições de outubro. O próprio Ministério da Integração Nacional envolve uma disputa local: o interino é Francisco Teixeira, ligado aos irmãos Cid e Ciro Gomes, do Partido Republicano da Ordem Social (Pros).
No Ceará, circula a informação de que Dilma poderia manter Teixeira como sendo uma indicação dos Gomes — logo, dentro da cota do Pros. Mas eles não estariam dispostos a aceitar isso, preferindo negociar o espaço do partido — e deles próprios — em um eventual segundo mandato de Dilma. “Não sei se procede. Deixar o PMDB irritado e não atender os Gomes me parece uma estratégia arriscada demais”, disse um analista político.
Ninguém aposta em um rompimento total. Mas o Planalto lembra que, por comandar as duas Casas do Congresso, o PMDB pode ditar o ritmo de votações, desengavetar a temida “pauta bomba” de aumento de despesas. “Basta voltarmos no tempo até a MP dos Portos. Nós penamos por causa do PMDB da Câmara”, disse um aliado de Dilma.
Fonte: Correio Braziliense
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