Cristian Klein
SÃO PAULO - A política de alianças do PT para as eleições deste ano tem pela frente o desafio de abandonar dois aliados intimamente ligados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: o senador José Sarney, patriarca do clã que domina o Maranhão há quase 50 anos, e o governador do Rio, Sérgio Cabral, cuja popularidade jamais se recuperou depois dos protestos de junho.
Ciente de que não é aconselhável comprar duas brigas ao mesmo tempo com caciques do PMDB, maior parceiro no governo federal, o PT tende a jogar ao mar apenas um deles. A escolha de Sofia dos petistas, ao que tudo indica até agora, tem um nome: Cabral.
Se pudessem, os petistas se livrariam dos dois. No Maranhão, porque o cálculo é que a dívida de gratidão de Lula por Sarney ter lhe apoiado nos momentos mais difíceis da crise do mensalão, em 2005, já teria sido paga. Em 2010, o PT nacional tratorou o diretório regional para impor a adesão à reeleição de Roseana Sarney. Agora que o clã quer eleger um sucessor apagado - o secretário da Casa Civil Luís Fernando Silva - os petistas cogitam apoiar Flávio Dino (PCdoB), preterido há quatro anos. O momento é mais do que apropriado para o descolamento. O descalabro das condições carcerárias no Maranhão, que vem chocando a opinião pública com dezenas de mortes de presidiários, alguns degolados, deixa o PT numa situação de constrangimento.
No Rio de Janeiro, a história também vem desde 2010, quando o petista Lindbergh Farias, ex-prefeito de Nova Iguaçu, ensaiou disputar o governo estadual, contra a reeleição de Cabral. Com o projeto abortado, Lindbergh se cacifou para o Senado - derrotando um dos capos da máquina do PMDB fluminense, Jorge Picciani, que ficou em terceiro - e passou a acumular força. Sua candidatura já era vista com simpatia por integrantes da direção do PT antes das manifestações de junho. Depois da derrocada de Cabral, tornou-se praticamente irreversível.
Ao comprar essa briga com o PMDB do Rio, no entanto, o PT sabe que perde graus de liberdade em outras frentes. Fazer o mesmo no Maranhão pode ser por demais arriscado. Insatisfeita, a cúpula pemedebista ressuscita a ideia de antecipar a convenção nacional da legenda, numa ameaça de não apoiar a reeleição de Dilma Rousseff. Se vários Estados se opuserem - as seções gaúchas e baianas, por exemplo, são refratárias - fica mais difícil repetir a aliança e a chapa presidencial com Michel Temer como vice.
A escolha por abandonar Cabral é mais racional: deixar de concorrer no Rio, num cenário de fragmentação e desintegração da base, seria perder oportunidade única. O Estado é o segundo maior PIB, terceiro maior colégio eleitoral do país, e o PT tem um candidato competitivo, com mais intenção de votos do que o vice Luiz Pezão, apadrinhado do governador. No limite, o PT pode argumentar que Cabral caiu com as próprias pernas e escândalos: o escárnio dos guardanapos na cabeça em restaurante de Paris, a relação estreita com o empreiteiro Fernando Cavendish, dono da construtora Delta, o estilo de governo à distância, com inúmeras viagens internacionais, e a ação truculenta da polícia durante os protestos de rua.
No Maranhão, o PT não conta com um candidato forte, nem tem expressão eleitoral. Ainda depende de uma estrutura de poder que ajudou Dilma a obter 79% dos votos no segundo turno de 2010. Foi o segundo melhor desempenho nas 27 unidades da Federação, atrás apenas do Amazonas, onde amealhou 80% dos eleitores.
O sangue do presídio de Pedrinhas representa o horror mas, pelo jeito, pesará pouco na equação política dos petistas.
Fonte: Valor Econômico
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