Ex-presidente e sucessora traçam estratégia a fim de minimizar os danos das suspeitas que recaem sobre a compra de refinaria
Vera Rosa e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Em encontro de três horas, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversaram nesta sexta-feira, 4, a sós sobre a crise política e a tentativa da oposição de instalar uma CPI da Petrobrás para fustigar o governo na campanha eleitoral. Lula avalia que o Palácio do Planalto deve fazer de tudo para segurar a CPI, considerada uma "arma" perigosa na direção de Dilma.
A reunião entre a presidente e seu padrinho político ocorreu em um elegante hotel da zona sul de São Paulo e foi a primeira depois que veio à tona a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, pela Petrobrás. O negócio é investigado pelo Ministério Público Federal e pelo Tribunal de Contas da União por suspeitas de superfaturamento.
Na avaliação de Lula, Dilma está na defensiva e precisa reagir, intensificando viagens para mostrar que o governo está fazendo. Para ele, a campanha começa a esquentar agora, porque, lém do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Dilma terá em seu encalço o presidente do PSB, Eduardo Campos, que deixou o governo de Pernambuco nesta sexta.
Aécio e Campos serão adversários da presidente na disputa pelo Planalto e acertaram uma ofensiva conjunta para montar a CPI da Petrobrás. A estratégia do governo para inviabilizar a apuração do superfaturamento nos negócios da estatal consiste em apresentar sempre novos pedidos de CPI.
Após vários movimentos de idas e vindas do Planalto, a ideia agora é bater na tecla da necessidade de ampliar o foco das investigações - atingindo, por exemplo, o cartel do Metrô em São Paulo e denúncias de irregularidades no Porto de Suape, em Pernambuco -, para desgastar Aécio e Campos. Na prática, o governo conta com a proximidade da Copa e do calendário de campanha eleitoral para enterrar de vez a CPI.
Lula avalia que Dilma acabou puxando a crise para o Planalto quando disse que só votou favoravelmente à compra de Pasadena porque recebeu laudos incompletos sobre o negócio.
Na época, Dilma era ministra da Casa Civil e presidia o Conselho de Administração da estatal. Lula não gostou de ver sua sucessora praticamente apontando o dedo para José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobrás e indicado por ele para o cargo.
Sem avisar. A conversa desta sexta entre Dilma e Lula não constava da agenda presidencial. O compromisso só foi incluído ali à noite, quase cinco horas após ter ocorrido.
A portas fechadas, o ex-presidente mostrou a Dilma o roteiro que pretende percorrer nesse início de campanha, disse esperar que a cúpula do PT resolva os problemas para a montagem de palanques estaduais com o PMDB e prometeu ir logo a Pernambuco, Estado onde ele e Campos nasceram.
Dilma quer que o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), também participe do núcleo de sua campanha à reeleição, que é coordenada pelo presidente do PT, Rui Falcão, para ajudá-la na região Nordeste.
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