- O Globo
O presidente Temer escolheu o ataque como defesa, investiu contra o procurador-geral da República e disse que o acusam sem provas. Temer, de fato, recebeu um empresário investigado, preocupou-se em que ele não fosse identificado e que não houvesse a presença da imprensa, ouviu confissão de crimes e não os comunicou às autoridades competentes. O que Janot deveria ter feito diante de tudo isso?
Imagina se diante de tantos indícios de crimes o procurador não denunciasse o presidente Temer. Que explicação haveria? Temer disse que o deputado Rodrigo Rocha Loures era homem de sua estrita confiança. E depois Loures é filmado carregando uma mala na qual estavam R$ 500 mil. Aliás, ele devolveu o dinheiro para provar que a suspeita de que recebeu vantagem indevida era real. O procurador acusa de ser ele, Temer, o destinatário final. Mas há antecedentes, como o dinheiro entregue no sítio do coronel amigo de Temer. Isso não são apenas ilações.
Evidentemente Janot também deve explicações sobre o fato de um ex-assessor ter ido trabalhar no JBS imediatamente antes da gravação. Aliás, já deveria ter feito o esclarecimento desse fato há mais tempo, exatamente porque o país está com os nervos à flor da pele vivendo um enredo tenso e crítico e Janot tem um papel de protagonista da acusação.
Mas o foco é o presidente da República e o comportamento que ele ainda não explicou. Todas, rigorosamente todas, as explicações sobre aquele encontro não convencem. Mas ele recebeu o investigado e não o produtor de proteína. Qual foi a parte em que se falou de proteína naquela conversa?
A situação de Temer é frágil desde aquele 17 de maio. Mesmo assim, o governo acredita que consegue evitar que a Câmara aprove a aceitação da denúncia, porque acha que a oposição a seu governo pode não conseguir 342 deputados dispostos a ir ao plenário para proferir o voto contra ele. Se acontecer esse cenário, de as denúncias não prosperaram, ele ficaria governando, mas como um moribundo.
— Temer hoje está agarrado a um trono que boia no oceano — diz o deputado Miro Teixeira.
Um sinal da sua situação de extrema fragilidade é que seu maior aliado é o PSDB, mas o presidente Fernando Henrique está pedindo a sua renúncia, e a bancada está dividida.
As afirmações de Temer de que ninguém o destruirá ou as que fez no longo discurso de ontem lembram as de outros governantes em períodos de queda. Parecem, por exemplo, com as declarações que Dilma fez na posse de Lula em 17 de março de 2016, dois meses antes de ser afastada, ou a bravata de Collor convocando manifestantes para defender seu governo no ato que serviu de senha para os protestos contra ele. Todos os governos em queda se parecem. Eles declaram guerra aos fatos.
O período final de José Sarney não pode ser usado como prova de que uma administração sem apoio pode permanecer. Naquela época, em janeiro de 1989, último ano de seu governo, ele ainda fez uma tentativa de estabilizar a inflação, o Plano Verão. Só meses depois ficou claro que o Verão também fracassara e a inflação voltava a galopar, mas aí a campanha presidencial já estava na rua e havia uma contagem regressiva para o fim do governo. O Palácio do Planalto ficou na prática sem inquilino, porque o presidente vivia seu isolamento e ocaso, enquanto a equipe econômica mantinha o governo minimamente operacional, preparando a transição. Foi um tempo mais curto do que o longo período de 18 meses que temos pela frente.
Michel Temer foi citado em várias etapas da investigação da Lava-Jato, mas não se abriu nenhum inquérito contra ele por falta de provas consistentes. O que houve agora foi que, ao receber Joesley, Temer tornou concreto o que era suspeita. Foi nesse caminho que o procurador-geral formulou sua denúncia.
Na mesma delação, Joesley conta que pagou propina nas operações que fez no BNDES nos governos Lula e Dilma. Disse ainda que em pleno gabinete presidencial ele ouviu de Dilma que desse R$ 30 milhões para a campanha de Fernando Pimentel. Lula, Dilma e Temer alegam inocência e dizem que Janot acusou sem provas.
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