sábado, 7 de outubro de 2017

Medo generalizado – Editorial | Folha de S. Paulo

Estudo que veio à luz nesta sexta-feira (6), elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) com o concurso de pesquisa realizada pelo Datafolha, expõe um quadro preocupante em que se constata uma forte sensação de medo na população, além de apoio a afirmações associadas ao pensamento autoritário.

A partir do trabalho, a entidade formulou um Índice de Apoio a Posições Autoritárias. Indicadores do gênero serão sempre alvo de questionamentos quanto à metodologia e os pressupostos envolvidos; os dados coletados, entretanto, mostram-se eloquentes.

Foram elaborados 17 enunciados que o Datafolha submeteu a uma amostra representativa da população com 16 anos ou mais. Os entrevistados foram convidados a manifestar diferentes graus de adesão às frases propostas, ordenadas em três categorias: submissão à autoridade, agressividade autoritária e convencionalismo.

Num exemplo, 69% concordaram que o país necessita mais de líderes valentes e incansáveis do que de leis ou planos políticos.

Numa escala de 0 a 10, o índice geral apurado foi de 8,1. A propensão revelou-se mais elevada entre os menos escolarizados, os de menor renda, os mais velhos, os que vivem em cidades menores e os habitantes da região Nordeste.

Os resultados não destoam do que se poderia intuitivamente supor. Os mais pobres sentem-se mais desprotegidos e ameaçados —e o Nordeste é hoje uma região assolada pela criminalidade, além das carências sociais agudas.

O estudo fez uma série de perguntas sobre o medo de sofrer algum tipo de agressão —como ter a casa invadida ou ser assassinado. As respostas indicam que a sensação é generalizada no país.

Os entrevistados foram divididos em quatro grupos, conforme a intensidade do medo. Numa escala de 0 a 1, os índices nos quartis variaram de 0,5 a 0,94.

Atesta-se o naufrágio das políticas de segurança no país. Há décadas o poder público, a despeito de um ou outro resultado mais auspicioso, fracassa em prover esse direito básico aos cidadãos.

A ilustrar o lastimável desempenho nacional nessa área, a taxa brasileira de homicídios cresceu de 26,1 por 100 mil habitantes, em 2005, para 28,9 dez anos depois. Praticamente não se encontram números piores que esses fora da América Latina.

Há, portanto, um debate urgente a ser travado entre as forças políticas do país, que não pode estar sujeito a primarismos ideológicos.

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