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Capital Político
Dependendo do olhar que se lance sobre a Amazônia Legal, ora ela parece um
gigante, ora um anão. Geográfica e fisicamente ela é indiscutivelmente
superlativa: 61% do território nacional, com mais de 5.2 milhões de Km2; um
terço de todas as florestas tropicais do mundo, 20% da água potável do planeta,
idem maior bacia hidrográfica, maior rio, maior banco genético e diversidade.
Se fosse um país, a Amazônia internacional seria o sexto maior em extensão,
espalhando-se por nove países sul-americanos. Na outra face da moeda, a região
detinha apenas 8% do PIB em 2018, e 12.3% da população total do país, algo como
23 milhões de habitantes – destes, 69% concentrados nas áreas urbanas.
Em 2007, as áreas protegidas (reservas indígenas + áreas ambientais + reservas
militares) somavam 209 milhões de hectares, dos quais 53% em situação fundiária
incerta, segundo o Imazon. Em resumo, a gigante Amazônia é um “vazio de
poder”, em termos econômicos, populacionais e políticos. Historicamente, apenas
em 1953, no segundo governo Vargas, foi criada a SPVEA – Secretaria Para a
Valorização Econômica da Amazônia, antecessora da igualmente impotente SUDAM.
A Amazônia sempre foi para o Brasil um “outro” – longínquo, desconhecido,
exótico, misterioso. Não sabemos o querer dela; inexiste um projeto nacional
para a região. E sua voz, desde sempre, foi pouco audível. A região se
caracteriza mais pelo olhar externo sobre ela, do que pela sua voz sobre si
mesma.
E não por acaso vêm de fora os ventos da mudança. Globalização e alterações
climáticas internacionalizaram definitivamente a região. Mais e mais, o mundo
crê que a Amazônia está para o seu futuro como algo capital, em termos de
equilíbrio ambiental e sobrevivência humana. A Amazônia é considerada um dos 15
“hot spots” do mundo com impacto no clima global. O que tende a
exacerbar pressões que se chocam com nossa soberania sobre a região.
O desmatamento, queimadas e exploração mineral de terras indígenas no topo das
mídias globais, são a expressão mais visível desse entrechoque, que ameaça
setores exportadores, podendo levar à perda de mercados e sanções.
Não se iludam, a Amazônia, pela primeira vez estará na agenda presidencial de
2022. Afinal, ela está na agenda do mundo. Ergo, estará na nossa também, como
atesta a criação da Coalizão Brasil, Clima Florestas e Agricultura,
integrada por mais de 250 empresas do agronegócio, grandes bancos, academia e
ONGs.
Decifrar essa esfinge e solucionar a atual e antiga crise, requer um projeto
nacional voltado para o desenvolvimento sustentável. Sem este, não há como alinhar
a defesa da nossa soberania, a preservação do meio ambiente e as preocupações
globais.
*Raul Jungmann - ex-deputado federal, foi Ministro do Desenvolvimento Agrário e Ministro Extraordinário de Política Fundiária do governo FHC, Ministro da Defesa e Ministro Extraordinário da Segurança Pública do governo Michel Temer.
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