A
pandemia revela o tipo real de político que temos
Um
balanço das previsões feitas sobre a pandemia sugere que a expectativa inicial
de uma hecatombe econômica foi superestimada e deflagrou respostas que
reduziram ainda mais a magnitude do impacto esperado. E produziram efeitos não
antecipados, estes sim de grande impacto. O principal deles —o auxílio
emergencial— alavancou a popularidade de um governo que entrara em modo
sobrevivência.
O
descompasso entre expectativa e realidade é notável: esperava-se que o colapso
da economia seria sistemicamente desestabilizador para o governo, que não
sobreviveria ao saldo cumulativo de mortes e do desemprego.
Havia expectativas sobre quem seria responsabilizado politicamente pela catástrofe. Já discuti anteriormente duas conjeturas rivais. A primeira é que a pandemia seria um choque que produziria efeitos negativos que afetariam a popularidade dos governos, em qualquer nível federativo. O eleitor aqui seria míope e reagiria, em “retrospecção cega” para usar o jargão, ao mal-estar social produzido pelo choque.
Em
suma, todos os agentes políticos seriam afetados. Curiosamente, com o auxílio
emergencial o
jogo da responsabilização converteu-se na busca do crédito político mais que de
culpabilização. Mas agora com seu fim o jogo inverteu-se e o objeto da
disputa muda: do lockdown para a vacinação.
A
segunda era que a pandemia funcionaria como uma lente de aumento sobre o
desempenho dos governantes. O eleitor, desatento em relação à política,
premiaria os bons gestores e puniria os maus.
Suspeito,
grosso modo, que isso foi o que ocorreu. As eleições municipais confirmam a
expectativa a despeito do fato que o jogo da responsabilização envolve
principalmente governadores e o presidente, e não prefeitos. A alta taxa de
reeleição de prefeitos de 63% (46%, em 2016) parece contrariar esta conclusão.
Mas ela reflete a campanha curta e assimétrica, pró incumbentes, e não uma
avaliação positiva dos gestores locais. Mas os casos de má gestão ficaram
evidentes, e foram punidos. E vice-versa.
Como
na economia, as expectativas do impacto da pandemia sobre a democracia
mostraram-se exageradas. A
democracia só se deteriorou onde já havia “co-morbidades institucionais”.
Nestes contextos, líderes populistas aproveitaram-se da situação de emergência
para concentrar poderes e coagir a oposição. Entre nós, iniciativas neste
sentido foram inexpressivas (ou não relacionadas com a pandemia) ou foram
frustradas pelas instituições de freios e contrapesos.
É claro que qualquer avaliação sobre o impacto social, econômico e consequentemente político da pandemia é temerária já que ela ainda está em curso. O teste para valer será em 2021.
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