quinta-feira, 20 de outubro de 2022

César Felício - Falta de transferência de votos de Lula para Bolsonaro ainda trava reversão do quadro

Valor Econômico

O cenário de segundo turno está em aberto porque há apenas dez dias de campanha pela frente

A oscilação mínima registrada pela pesquisa Datafolha nesta quarta-feira (19), em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve-se com 49% de intenção de voto e o presidente Jair Bolsonaro (PL) passou de 44% para 45% ganha relevo pelo campo da pesquisa. Diminuiu o intervalo entre os levantamentos do instituto. No caso atual, apenas cinco dias separam a pesquisa divulgada hoje da anterior. No primeiro turno, o Datafolha saía com frequência semanal.

Bolsonaro teve que enfrentar, nos últimos dias, fatores negativos, o mais relevante dos quais a polêmica sobre as meninas venezuelanas com quem se encontrou durante a pandemia, registrou ter “pintado um clima” e sugeriu de maneira injustificada serem prostitutas. Tão prejudicial foi o episódio que o presidente veio a público duas vezes para se explicar.

Muito possivelmente este caso refreou fatores que impulsionam o presidente nos últimos dias. Bolsonaro tem feito uma ganha organizada e volumosa no Sudeste, especialmente em Minas Gerais, onde o governador Romeu Zema (Novo) praticamente parou de governar para fazer campanha pela reeleição do presidente. De acordo com o Datafolha, no Sudeste, que representa 45% do eleitorado brasileiro, o presidente tem metade das intenções de voto, e Lula, 43%.

Também houve nos últimos dias o debate entre Bolsonaro e Lula na TV Bandeirantes, que provavelmente não é explicação para o resultado da pesquisa. O confronto foi equilibrado, com o presidente se saindo mal em relação ao tema da covid e o ex-presidente sofrendo para explicar a corrupção que houve em seu governo.

Bolsonaro também conta com algo que vem desde antes do primeiro turno, que é a frequência de anúncios quase bissemanal de benefícios de caráter eleitoreiro. É um gotejar contínuo. Se essa campanha do segundo turno se estendesse por mais um mês, e não por mais dez dias, poderia-se afirmar com segurança que o presidente seria o favorito nessa disputa. O cenário de segundo turno, contudo, está em aberto porque há apenas dez dias de campanha pela frente. Como Lula está se mantendo com 49%, fica nítido que, até o momento, de acordo com o Datafolha, Bolsonaro não retirou votos do petista.

Para sobrepujá-lo sem uma transferência direta entre um e outro, o presidente precisaria convencer ao menos dois terços dos eleitores que estão indecisos ou pretendem votar nulo ou em branco, uma proeza que seria mais factível se a rejeição de Lula fosse maior que a de Bolsonaro, o que não é o caso. O presidente é repudiado por 50% da amostra e o petista é rechaçado por 46%, o que significa que, praticamente, metade do eleitorado nacional detestará quem quer que seja eleito.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Muita gente não gosta dos dois.