sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Eliane Cantanhêde - Brasil busca consenso, EUA se isolam

O Estado de S. Paulo

Por que o veto dos EUA a uma resolução propondo ‘pausa humanitária’? Vá-se entender...

Os Estados Unidos tinham boas razões para empurrar com a barriga a votação de uma “pausa humanitária” articulada pelo Brasil na guerra de Israel. Com o amplo apoio à proposta de resolução entre os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU, cinco permanentes e dez rotativos, o governo Joe Biden sabia que seria o único voto contrário, ficaria isolado no próprio conselho e atrairia chuvas e trovoadas do mundo árabe e de sociedades mundo afora.

Foi o que ocorreu, depois que o Brasil percebeu a manobra protelatória e submeteu a resolução a voto. Todos os membros rotativos, inclusive o Japão, aliado dos EUA, votaram a favor da pausa para proteger as populações civis que já sofreram tanto nesta guerra. Dos cinco permanentes, dois votaram a favor, França e China, e dois se abstiveram, Rússia e Reino Unido, o que é considerado positivo, pois abstenção não impede aprovação.

Com poder de veto, os EUA, sozinhos, na contramão dos demais, derrubaram a resolução consensual, alegando que o texto não previa o direito de Israel de reagir ao ataque terrorista do Hamas. Itamaraty e Planalto rebatem: esse direito é legítimo e já é garantido pelas leis internacionais, só não se pode confundi-lo com provocar um êxodo obrigatório de mais de um milhão de pessoas e impor condições sub-humanas a famílias inteiras de civis, sem casa, água, luz, comida e medicamentos.

Afinal, por que não aprovar uma pausa na guerra, temporária, restrita geograficamente e diferente de um cessar-fogo?

Enquanto isso, os EUA enviavam a Israel o secretário de Estado, o secretário de Segurança e, enfim, o próprio presidente Joe Biden, para negociarem por conta própria, e não com as Nações Unidas, não em aliança com a comunidade internacional. Donos do mundo?

O Brasil nem teve uma vitória nem uma derrota estrondosa, como as torcidas dos dois lados esperavam, mas faça-se justiça: o Itamaraty voltou a atuar, o chanceler Mauro Vieira tem sido incansável, o embaixador Sérgio Danese coordenou bem as reuniões do conselho da ONU. E o assessor internacional Celso Amorim e a diplomacia brasileira também tiveram papel ativo no acordo entre Venezuela e EUA e na retirada de mais de mil nacionais de Israel.

Falta resgatar em torno de 30 brasileiros ilhados em Gaza, correndo alto risco, mas isso depende mais de Israel e Egito do que do Brasil. Que, aliás, não vai discutir as versões sobre quem bombardeou o hospital em Gaza, com 500 mortos. “Nesse pântano não vamos entrar”, resumiu quem está na linha de frente das negociações e dá a dimensão da atuação brasileira: “A gente faz o que é possível”.

 

2 comentários:

Daniel disse...

Mais um papelão de Biden e dos EUA! Cúmplices incondicionais dos crime de guerra israelenses!

ADEMAR AMANCIO disse...

Bombardear hospital vai contra os mandamentos da quarta convenção de Genebra.