O Estado de S. Paulo
Lula abandonou qualquer pretensão de mudança
de rota política e econômica já há algum tempo. Refugiou-se nas poucas ideias
velhas, nas táticas conhecidas e surradas e nos rostos de sempre. A questão é
saber se funcionam para 2026.
O que parece surgir para Lula como “caminho seguro” na verdade é uma aposta política de risco altíssimo. Causado por sensíveis mudanças sociais que alteraram a percepção dos benefícios fornecidos pelo Estado, e também pela sensível deterioração do poder do Executivo frente ao Legislativo. Diminuiu, em termos relativos, o peso do voto ligado ao assistencialismo.
Além disso, como o espaço para prosseguir na
expansão fiscal vem se estreitando perigosamente (devido a armadilha que Lula
criou para si mesmo), a necessidade política de estimular a demanda sofre com a
lei das consequências não intencionais. A mais evidente delas é uma persistente
inflação e seu corrosivo efeito político. Em outras palavras, a busca pelo
efeito eleitoral aumenta as dificuldades políticas (entre elas, incluir no
Orçamento os programas sociais).
Para tratar de um problemão, que é a
ampliação de alianças e apoios para 26, Lula está caminhando na direção
contrária. Aposta na força de uma agremiação política minoritária que passa por
evidente crise de idade, não sabe mais exatamente onde está sua “base social”,
sofre simultaneamente com a falta de quadros experientes e lideranças
rejuvenescidas. E se recusa a dividir o poder dentro do Palácio do Planalto.
No plano tático o empenho é promover a figura
de um líder populista cujo encanto está diminuindo com a idade e o tempo que
ocupa segurando microfones. Nos últimos dias Lula parece ter enxergado na
figura de Donald Trump a possibilidade de disputar com os bolsonaristas a
primazia do uso dos símbolos nacionalistas no embate político. Não é tarefa
fácil: o ranço antiamericano tradicional nas esquerdas brasileiras não tem a
mesma amplitude no eleitorado em geral.
O que melhor tem funcionado para Lula nessa
aposta de alto risco é a postura das forças políticas adversárias. Elas não
produziram até aqui um “polo” de aglutinação política nem uma liderança
incontestada capaz de conduzir o imenso espectro de “centro-direita”,
claramente majoritário no eleitorado. Parecem confiar numa “irresistível”
inércia pela qual num segundo turno todo mundo se junta mesmo para derrotar o
candidato da esquerda.
É o que explica em boa medida – além da força descomunal das plataformas digitais e redes sociais – o espaço aberto para aventureiros políticos de todo tipo. “Mitos” e seu personalismo trazem no fundo pouca capacidade de transformação e mudança, apesar da força disruptiva em eleições. Ironicamente, o que diminui os riscos para Lula são seus próprios adversários.
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