quinta-feira, 13 de março de 2025

Conversa de botequim - Merval Pereira

O Globo

‘E o Lula, hein?’

— O que é que tem?

— Voltou a dar mancada com as mulheres.

— O que que ele disse desta vez?

— Que tinha colocado a Gleisi para negociar com o Congresso porque era uma mulher bonita.

— É mesmo? Pensei que tivesse sido por outras qualidades.

— É por isso que a popularidade dele caiu entre as mulheres.

— Também é implicância, tudo o que ele fala levam para o lado mau. Foi só uma piada.

— É, mas a própria ministra das Mulheres disse que ia conversar com ele. Piada, nem o presidente pode, disse ela. Não sei se teve coragem de falar pessoalmente.

— Se tivesse falado, já teria sido demitida. Demitir mulher do ministério é o que ele faz com mais tranquilidade. Já demitiu três. (Daniela Carneiro, ministra do Turismo; Ana Moser, do Esporte; e Nísia Trindade, da Saúde, que saiu dizendo ter sofrido misoginia). Colocou homens no lugar.

— Mas nomeou uma ministra para o STM (Superior Tribunal Militar).

— Essa não vale, foi advogada da Gleisi.

— Ele já disse que procura mulheres qualificadas para cargos no governo, mas é difícil encontrar. Talvez seja pela pouca experiência em governos, porque as mulheres eram relegadas a segundo plano.

— Ele diz isso para a Janja?

— Ele tem uma visão antiquada, impressionante que tenha evoluído em tantas coisas, mas não deixou de lado o machismo. Outro dia disse que preferia ser amante da democracia, porque os homens são mais apaixonados pela amante que pelas esposas. Isso lá é coisa que se diga?

— Mas ele sempre foi assim. Outro dia lamentou que aumentam os casos de agressão doméstica depois de jogo de futebol, aumenta a violência contra a mulher. Mas fez uma ressalva: “Se o cara é corintiano, tudo bem”.

— Foi uma piada sem graça. Ele não pensa assim, o que vale é a condenação.

— Ah é? Então o que me diz quando ele falou, sobre o mesmo tema: “Mão de homem não foi feita para bater em mulher. Quer bater em mulher? Vá bater em outro lugar, mas não dentro da sua casa ou no Brasil, porque nós não podemos aceitar mais isso”.

— Na verdade, no fundo, no fundo, ele acha que mulher é inferior mesmo. Lembra o que ele disse sobre a relação de marido e mulher? Olha aqui [mostra o jornal para o amigo]: “A gente quer que a nossa mulher seja respeitada; a gente quer que o nosso companheiro homem, quando a sua companheira trabalha, ele tenha a dignidade de ir para a cozinha ajudar no serviço da mulher, porque assim ele vai ser parceiro”, disse o presidenciável no Pará.

— Mas ele estava dizendo que o homem tem que ajudar a mulher na casa! É uma visão moderna, antimachista.

— É? E esta aqui: “Quando uma mulher tem profissão, ela tem salário e ela pode custear a vida dela, ela não vai viver com nenhum homem que não goste dela. Ela não vai viver com necessidade, não vai viver por dependência. Vai viver a vida dela, morar com alguém, se gostar desse alguém. Vai ter a opção dela, ela vai escolher”.

— Mas essa é uma fala feminista. Quer a emancipação da mulher.

— Da mesma maneira que quando falou das mulheres petistas de “grelo duro”?

— Não me lembro.

— Quando estava sendo investigado pela Lava-Jato. Mandou Fátima Bezerra e Maria do Rosário irem para cima dele, um procurador de Rondônia, que tinha histórico de bater na mulher.

— Maria do Rosário, aquela que o Bolsonaro disse que não estupraria porque era feia demais?

— Essa mesma. Essa fala de Bolsonaro é que é machista. Lula pelo menos disse que colocou uma mulher bonita para negociar com deputados e senadores.

— E mais uma vez menosprezou a Clara Ant, uma de suas conselheiras mais antigas. Disse para ela entrar no assunto porque “vive procurando o que fazer”.

— De novo, por quê?

— Você não se lembra da piada que ele fez com ela, apanhada por um grampo da polícia? Disse que, uma vez, a Clara estava em casa, dormindo sozinha, e bateram na porta. Eram vários policiais, e ela achou que era “um presente de Deus”. Tirou uma gargalhada da Dilma.

 

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