quinta-feira, 13 de março de 2025

Entrevista | Tebet chama Haddad de ‘herói ’e diz que acredita que Gleisi vai dar apoio às medidas econômicas necessárias

Míriam Leitão

A ministra Simone Tebet disse que a equipe econômica está incluindo no Orçamento programas como o Auxílio- Gás e o Pé-de-Meia, e que a meta de déficit zero será cumprida. “Se não agora, no tempo determinado pelo Tribunal de Contas”. Ela disse que a equipe econômica, muita vezes, é voz dissidente no governo ao dizer que não existe “almoço grátis” e não querer recriar fórmulas passadas que não deram certo. Para ela, o ministro Fernando Haddad é um verdadeiro herói nesse sentido, ao enfrentar uma resistência do seu próprio partido.

Ainda sobre o PT, Simone considera que Gleisi Hoffmann sabe do projeto em andamento no país e vai dar suporte para aprovar as medidas econômicas necessárias.

- Ela sabe vestir e desvestir a camisa de acordo com o cargo que tem, que é este o papel dela. Ela exercia o papel de presidente de um partido, que era um partido que tinha uma posição ideológica e econômica muito clara. Ela não podia fazer outra coisa enquanto presidente do partido – defende Tebet.

Abaixo a íntegra da entrevista:

A equipe econômica entregou quase 7% de crescimento em dois anos. Apesar disso, tem sido criticada dentro e fora do governo. Como fazer para se manter mais firme no rumo traçado nesses dois ministérios, Economia e Planejamento?

Simone Tebet: Falar de economia hoje é falar de algo muito complexo e que precisa ser, dentro desse processo, inserido o cenário internacional. Eu diria que os números nunca estiveram tão bons. Dois anos consecutivos crescendo acima de 3%, quando que nós vimos isso? Isso reflete no que? Maior geração de emprego, maior renda per capita. Tudo isso está colocado.

Eu gostaria de acrescentar dois fatores que me tocam muito. Nunca tivemos tantos jovens empregados. E nunca tivemos tantas mulheres empregadas. Nunca tivemos tanta formalidade.

É muito difícil falar e fazer economia e fazer um país dar certo num mundo tão conflitado. Vi uma matéria sua, que eu acrescentaria algumas coisas, na qual você falava de incerteza. A incerteza é a pior palavra quando se trata de economia. Mas a incerteza, ela é conjuntural, ela é temporária. Acho que nós estamos passando por algo ainda pior. Nós estamos passando por algo estrutural. A incerteza está virando insegurança na cabeça das pessoas. E a insegurança está levando ao medo. Nós falamos isso em todas as gerações. Nós nunca tivemos tantos conflitos armados no mundo, mais de 40. E aqui um parêntese que é importante, nenhum deles tem a cara de uma mulher. Não tem uma mulher à frente desses conflitos, instigando esses conflitos. Nós temos a insegurança climática atingindo imensamente a mente dos nossos jovens, que não querem nem ter filhos por medo do futuro. E nós temos, por conta da questão climática, a incerteza econômica, além dos conflitos que impactam a economia.

Diante desse cenário, que é um cenário difícil, há um elemento mais novo ainda, que nós estamos na era do mundo digital, onde as verdades são relativas, onde as pessoas se pautam pelas redes sociais e não sabem, afinal, em que mundo estão vivendo. Qual é o Brasil que você vive? É o mesmo que eu vivo? Eu não sei, eu não sei qual a realidade virtual você está tendo. Então, trabalhar economia, trabalhar política nesse universo não é coisa fácil. Qual é a alternativa a isso. Uma delas, eu não tenho dúvida: a comunicação. O governo está errando na comunicação. Começou a dar passos positivos no sentido certo na forma, mas nós também estamos errando no conteúdo.

Mas como é que deveria ser a comunicação do governo? Por que está errando na forma e no conteúdo? Explica melhor isso.

É ter o diagnóstico certo e usar ele a nosso favor. Linguagem simples. Eu não vou entrar no assunto do Sidônio (Palmeira, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do Brasil), a quem aposto todas as minhas fichas, o conheci na campanha quando eu apoiei o presidente Lula no segundo turno, sei da capacidade dele. Na forma é até mais fácil, no conteúdo é muito difícil, ele convencer 37 ministros de que agora tem que dialogar, fazer frases mais curtas, mais simples para dialogar com a população.

Mas eu diria naquilo que é meu, que é do Planejamento, tenho um ministério que no presente lida com Orçamento, é o dia a dia, é o café da manhã, o almoço e o jantar. E eu tenho que trabalhar pensando no futuro. O presente não pode engolir o futuro. A gente tem que pensar no hoje e já projetar a média e longo prazo. Nós estamos fazendo quietinhos, vamos entregar para o Brasil, o governo do presidente Lula vai entregar pela primeira vez na história a estratégia do Brasil que nós queremos para os próximos 25 anos, já a partir de 2026, e como fazer para chegar lá, com indicadores e metas muito claras. Mas tem um ponto que eu acho que, por ser ministra do Planejamento, eu posso ousar. Temos que ter a coragem de enfrentar temas espinhosos, mas que dialogam com a sociedade, que precisam ser enfrentados.

E olha quem está falando aqui é uma ministra que tem uma visão um pouco mais liberal, seja lá o que for isso, porque eu não sou economista.

Mas falando de presente, o Orçamento não está pronto ainda. O Congresso ainda não aprovou. Como executar um Orçamento que não foi aprovado? Isso cria dificuldades, não é verdade?

Olhando pelo lado fiscal, o Orçamento não me faz falta neste momento. Eu preciso do Orçamento por segurança jurídica, porque a Constituição determina, porque nós precisamos realizar políticas públicas e entregar as obras, enfim, fazer a máquina andar e a economia também.

Mas trabalhar com 18 avos (1/18) nos primeiros três meses não é um mau negócio a fim de estrutura fiscal, de responsabilidade fiscal e de meta. Nós temos que cumprir meta zero e nós vamos cumprir meta zero. Vamos fazer isso com toda responsabilidade. Estamos colocando para dentro do Orçamento aquilo que ficou para fora, seja porque o Tribunal de Contas assim o determinou, e é o certo, seja porque o próprio governo reconheceu, no Auxílio Gás ao Pé-de-Meia, passando por todas as políticas públicas, para garantir essa segurança de que nós vamos cumprir meta da forma correta.

Tudo isso estará dentro do Orçamento?

Tudo estará dentro do Orçamento. Se não agora, como colocamos agora o Auxílio-Gás, estamos colocando no ofício que encaminhamos para o Congresso Nacional, naquele tempo determinado pelo Tribunal de Contas em relação ao Pé-de-meia. Isso tudo estará dentro do Orçamento.

Sendo combativa, inclusive, como aquela voz, às vezes, dissidente a equipe econômica dizendo o seguinte: não tem almoço grátis, não vamos inventar subsídios, não vamos criar fórmulas passadas que não deram certo. Não vamos fazer isso. A equipe econômica tem consciência. O ministro Haddad é um verdadeiro herói nesse sentido, de enfrentar uma resistência do próprio partido. E nós vamos conseguir entregar o Orçamento, uma vez aprovado, cumprindo as regras fiscais.

Você falou que ia dar um exemplo do presente.

Nós precisamos dialogar com os interesses da população brasileira e entender que quando nós falamos com esse governo que é mais social, mais esquerda, e fala que a grande missão do país é fazer justiça social e é. Um país tão rico não pode ter um povo tão pobre. Nós temos que ter como meta, e tanto a direita quanto a esquerda tem como meta, a justiça social, podemos ter divergência na forma. Não se faz social sem fiscal, sem controlar as contas públicas, sem gastar com eficiência e qualidade, sem excessos, sem fraudes, sem erros. A forma pode ser distinta, mas o objetivo principal, tanto a esquerda quanto a direita, tem a mesma finalidade.

Será mesmo?

Tem. Tanto a direita quanto a esquerda, não o extremo. Os extremos se encontram, tanto da direita quanto da esquerda, na violência, na privação de liberdades, na autocracia, isso é uma outra história. Obviamente, de alguém que é mais centro-direita na economia, mais centro-esquerda na parte de costumes e convive com os dois lados por ser uma pessoa de centro, quando eu converso com políticos de direita e de esquerda, eu vejo que eles têm o mesmo objetivo. A forma ou a fórmula é que eles podem divergir. Talvez a virtude esteja no meio, nem um fiscalismo desalmado, um fiscalismo que só pense no futuro matando o presente, e nem uma política social que não olha o futuro, gasta, cria subsídios e com isso empurra a conta lá para frente, gerando inflação, dívida pública e tudo mais.

Voltando ao exemplo, ousando, talvez em voz alta, algo que eu já tenho tratado com a minha equipe, quando a gente fala de social, a população já precificou isso como alguma coisa dela. Você fala de Bolsa Família, de vários programas, são programas que a população fala assim, entra governo, sai governo, isso é uma política de Estado. Ninguém vai tirar dinheiro. Agora tem coisas do dia a dia, uma mudança estrutural de mentalidade de gerações que precisa ser colocada na mesa. Nós não temos que ter medo de dialogar com a sociedade, com a academia, com o setor produtivo e nem com o sindicato e com os trabalhadores a questão do fim da jornada de seis por um. A jornada de cinco por dois precisa ser colocada na mesa.

Você é a favor então?

Tebet: De cinco por dois com um período de transição, começando com as grandes empresas, protegendo as pequenas, dando incentivo para que elas possam se adequar, sem dúvida nenhuma. Não é só porque é desumano hoje, é porque isso gera economia, isso vai gerar produtividade, isso vai gerar qualidade no trabalho e o próprio empresário vai ganhar com isso, de forma organizada, com planejamento. Nós estamos trabalhando essa questão. Outra questão que precisa ser colocada é a igualdade salarial entre homens e mulheres, foi uma promessa do presidente Lula comigo e que precisa virar realidade. E se não for por amor, não for assim por amor às mulheres uma questão de igualdade, que seja pelo bolso.

A lei foi aprovada e ainda regulamentada...

Não foi regulamentada por pressão do setor privado, que não está enxergando que ele é o principal beneficiado. Não diria que é quase uma Reforma Tributária, mas ela mexe no PIB brasileiro positivamente ao colocar as mulheres com o melhor salário porque esse salário vai girar a economia.

Porque isso faz parte do Brasil que nós queremos para daqui dois ou três anos. Para que você esteja fazendo entrevista com uma ministra do Orçamento ou com o ministro da Economia ou da Fazenda tratando dos mesmos assuntos: inflação, desemprego, dívida pública e tudo mais. Então acho que é isso. É ter coragem de enfrentar questões com diálogo, com transparência, achando o caminho do meio. É possível avançar nessas questões e são questões que se você conversa com a população brasileira, se você conversa com o trabalhador, são questões que estão no dia a dia dele, que interessam a vida dele.

O Ministério do Planejamento tem colocado uma posição fiscal mais firme, a senhora mesmo já disse, que é preciso enfrentar gastos, cortar gastos, diminuir despesas, mas depois diminuiu um pouco, passou a falar menos sobre isso. Por que? Tem algum foco de corte de despesas possível hoje?

Essa resposta posso te dar de forma bem objetiva. Conheço a realidade da política brasileira, não faço política há pouco tempo e fui do Congresso Nacional nos últimos oito anos. Achávamos que teríamos um parceiro mais fiscalista no Congresso Nacional, não foi o que aconteceu. Não foi o que aconteceu, seja na PEC da transição - eu participei dela, fui responsável também por ela, não estou me eximindo de nenhuma responsabilidade, seja em relação ao arcabouço - , que não foi aprovado do jeito que nós queríamos, seja em relação a esse novo ajuste.

Quer dizer, o Congresso aumenta a despesa, na verdade.

E diminui a contenção. Então não é o Congresso fiscalista que nós imaginávamos. Então não adianta dar murro em ponta de faca. Democracia é isso e não temos que fazer qualquer crítica em relação a isso. Faz parte do jogo democrático. Dentro disso, e com pragmatismo que a vida inteira me pautou, vejo na janela de 2026 a oportunidade que eu não estou vendo na janela de 2024 e 2025. Explico: a janela de novembro e dezembro de 2022 foi a janela da gastança. (Depois) Precisávamos recuperar políticas públicas, Farmácia Popular, Bolsa Família, ciência, tecnologia, educação, inovação, e gastamos. Injetamos R$ 140 bi a mais por ano, que é acumulado ano a ano, de gastos públicos. Chegou o momento em que 2027, seja quem for o próximo presidente da República, não governa com esse arcabouço fiscal, com essas regras fiscais sem gerar inflação, dívida pública e detonar a economia. Então nós temos uma janela de oportunidade que não é agora, a véspera de uma possível eleição em 2026, não é por conta nossa. Converse com 54 senadores que vão para a reeleição, eles não querem tratar desse assunto, eu não tenho dúvida, conheço meus colegas e não os critico.

O que nós temos de janela de oportunidade, é o avesso do que foi feito em 2022, em 2026, em novembro, em dezembro, seja o presidente Lula candidato e reeleito, seja um outro candidato, um outro presidente eleito, é fazer o dever fiscal. Cortar gastos, cortar o supérfluo, fazer uma política num arcabouço mais rigoroso, que não mate o paciente, obviamente. A diferença do veneno e do remédio está na dose, mas que permita garantir sustentabilidade da vida pública, baixar juros, baixar a inflação e fazer a economia crescer. Essa janela de oportunidade nós não podemos perder.

A incerteza agora, nesse momento, tem nome e sobrenome, Donald Trump. Como enfrentar essa relação tão tumultuada? Como vai afetar a economia?

primeiro com diplomacia. Se a gente achar que deve apostar em dobrar aposta no Brasil, nós vamos perder.

Mas a gente vai vender mais para China?

Acho que diplomacia, entendendo a importância do parceiro comercial como os Estados Unidos, está dando tempo do presidente americano perceber que ele chegou tarde na eleição dele para implementar o que ele queria, porque o mundo está diferente, mudou nos últimos quatro anos. O maior parceiro comercial do Brasil é a China, sim, mirando mais os países asiáticos de um modo geral. Fui para a China, eu tenho conversado, dialogado com autoridades e empresários do mercado asiático, e colocando para funcionar efetivamente, depois de quase 40 anos de sonho, as rotas de integração sul-americana.

Enquanto a América do Norte comercializa entre si - por isso, o problema Canadá, México e Estados Unidos não é tão simples - 40% do comércio americano é regional, só depois compra um do mundo, na América do Sul é apenas 15%. Nós temos 200 milhões de sul-americanos que são possíveis consumidores nossos e nós precisamos aproveitar e vice-versa. Eles têm 200 milhões de brasileiros à disposição para consumir produtos deles.

Então, essa integração sul-americana está pronta para sair do papel, não é um projeto novo, a gente começou desde 1º de janeiro no nosso ministério. O PAC veio com as obras estruturantes sem aumentar um centavo de fiscal, não tem impacto fiscal, porque nós aproveitamos as obras estruturantes do PAC. A infraestrutura é apenas um meio para se conseguir o fim.

Você está falando de melhorar a logística para esses países?

Para melhorar nossa balança comercial, o fluxo comercial. Exemplo, a Bolívia tem o que o Brasil precisa para produzir um agronegócio que é o fertilizante, minerais nobres, lítio, etc. Nós temos a agro, indústria, o produto semi-elaborado, elaborado, o próprio automóvel e alimentos para abastecer a Bolívia. Estamos do lado, eemos um rio só que divide, uma ponte que nos une.

Paralelo a isso, a percepção correta e isso já está acontecendo, de que o caminho mais próximo para a China, para o Vietnã, para a Tailândia, para o Singapura, não é pelo Atlântico, não é só pelo Porto de Santos, é pelo Pacífico. Nós vamos diminuir em 10 mil quilômetros a distância, portanto, nós estamos falando de diminuir o custo dos nossos produtos quando essas rotas estiverem prontas. E elas começam a ficar prontas a partir do fim deste ano. É o encurtamento da distância entre a China e o Brasil pela costa do Pacífico.

Queria falar um pouco de política. Gleisi Hoffmann, no Ministério das Relações Institucionais. Ele sempre fez um discurso contra a política econômica. Como é que você está vendo isso?

Nós sempre estivemos em lados opostos, mas sempre tivemos uma gentileza no trato. Conheci Gleisi, talvez, quando ninguém nos conhecia. Eu era deputada estadual em Mato Grosso do Sul, ela era secretária de gestão do primeiro governo eleito pelo PT estadual, que era o governo do Zeca do PT. Eu era líder da oposição, ela era secretária de gestão. Acho que a capacidade não só dela, não estou dizendo só como mulher, mas além de tudo da experiência dela, de vestir e desvestir a camisa de acordo com o cargo que tem, que é este o papel dela. Ela exercia o papel de presidente de um partido, que era um partido que tinha uma posição ideológica e econômica muito clara. Ela não podia fazer outra coisa enquanto presidente do partido.

Agora ela é uma ministra palaciana, fidelíssima ao presidente Lula, ela tem uma fidelidade que ninguém discute ao presidente Lula e sabe que o projeto de país que está em andamento na parte econômica é o projeto do governo. Acredito que ela agora vai cuidar das relações institucionais, da relação com outros Poderes, e vai dar o suporte necessário para aprovar as medidas econômicas, microeconômicas em especial, que a equipe econômica e que o ministro Haddad tem. Acho que a relação dos dois é de aproximação.

E seu futuro político, porque tem várias coisas que eu tenho ouvido. Primeiro, senadora pelo Mato Grosso do Sul. Segundo, governadora, porque já foi vice-governadora e tem perfil executivo também. Foi muito bem no parlamento como senadora, mas tem um perfil executivo. Ou vice na candidatura na chapa do presidente Lula...

Eu posso dizer que eu sou candidata a continuar servindo ao Brasil. Falei isso há quatro anos, quando eu fui candidata, sabendo que dificilmente ganharia para a presidente da República e que, portanto, eu estaria voltando para casa. Eu tive a oportunidade de estar com o governo passado quando eu era presidente da Comissão de Constituição e Justiça e me ofereceram tudo. Eu tive a oportunidade de estar do outro lado do palanque no segundo turno quando me ofereceram não um, mas dois ministérios com porteira fechada. Eu não fiz isso por uma questão muito clara na minha vida, isso eu devo ao berço que eu tenho, a minha mãe que é muito religiosa, ao meu pai que nasceu e morreu como ser político. É preferível perder do lado certo, do que ganhar do lado errado. O meu discurso nunca vai ferir o meu ser. Quando o meu discurso ferir o meu ser, eu paro de fazer política. Eu faço política porque eu devo isso ao Brasil. Com cargo ou sem cargo.

De forma objetiva, não sou candidata ao governo do Estado. Apoio a reeleição do governador Eduardo Riedel pelo excelente trabalho que está fazendo lá. Ainda se não fosse isso, mas aqui só como parênteses, porque isso tudo é público, meu marido é chefe da Casa Civil do governo atual. E independente disso, porque temos vidas políticas também distintas. Segundo, todas as vezes em que eu mirei na política para um lado, a vida, Deus me encaminhou para o outro. Eu conto rapidamente isso num pequeno livro, que é um gesto que eu fiz para as jovens brasileiras, no qual falo que as vezes que eu mais ganhei na vida foi quando eu perdi, quando eu tive a coragem de defender teses nas quais acreditava.

Então, se o presidente falar assim: preciso que você continue no ministério até o final, eu vou continuar no ministério. Se houver um projeto da necessidade de um fortalecimento do Senado, de partidos de centro, centro-esquerda, centro-direita, direita, sem os extremos, e isso exigir de mim uma possível candidatura ao Senado Federal - hoje não é o que me move, não é o que o meu coração me pede - eu farei.

Agora, depois de 25 anos de vida pública, tendo sido prefeita, reeleita prefeita, deputada estadual, secretária estadual de governo, vice-governadora, senadora, enfim, hoje ministra do Planejamento e Orçamento, já tendo cumprido todas as missões, eu não posso ser fisiológica e escolher cargos.

Acho que o Brasil está passando por um momento, nós falamos das incertezas e inseguranças, que exige de todos nós uma parcela de contribuição. Sou muito feliz por estar trabalhando pelo Brasil e procurar estar fazendo algo que me move. Se é uma coisa que a política me deu ou me fez forjar, foi fazer uma menina do interior do Brasil extremamente tímida e, eu diria que até recatada, ser forjada na coragem. Eu aprendi a ser corajosa para defender aquilo que eu acredito, aquilo que eu amo. Então, isso me basta.

Você falou que se define como centro-direita e elogiou a direita também, dizendo que direita e esquerda têm o mesmo objetivo, mas separou os extremos. O problema é que o mundo está fortalecendo os extremos, principalmente a extrema-direita. Como fazer para proteger o Brasil de um novo governo desastroso como foi o governo de extrema direita. Seu trabalho na CPI da Covid ajudou a tornar claro qual era o principal erro daquele governo: ele ficou contra a vida.

Nós temos vários, mas isso tudo passa por partidos políticos fortes e pelo fortalecimento do centro. Quer dizer, quando o centro se desfacelou no Brasil, nós tínhamos na referência no MDB, por exemplo, a grande força que aglutinava, nós começamos a produzir candidatos autônomos, outsiders. E essa pergunta me permite dizer que a minha grande preocupação para 2026 é, num possível segundo turno, a figura de um outsider, de alguém de fora da política. Porque, de novo, eu não tenho medo da direita ou da esquerda tradicional, eu tenho medo de um outsider que vem com ideias mirabolantes de um mundo totalmente distópico.

É preciso o fortalecimento dos partidos políticos, o fortalecimento do centro democrático, que voltemos a tratar de valores que realmente interessam à sociedade e que tenhamos, obviamente, no Congresso Nacional, um pouco mais de equilíbrio em relação às emendas parlamentares. Isso pode virar um caso de polícia, eu já vi essa história antes, eu já vi esse filme antes, eu não sou contra emendas parlamentares, acho que elas são saudáveis, mas nesse patamar eu sou contra. Nesse patamar (o Congresso) tem exatamente para investimento o que o Executivo tem para investimento, isso não existe em lugar nenhum do mundo.

As emendas geram uma distorção da democracia no sentido de comprar apoios políticos, evita a renovação, mas não é isso. O cansaço da população brasileira é silencioso. A população brasileira vai engolindo até o momento que ela vomita, e vomita corretamente. Foi assim com os centavos do transporte coletivo lá atrás, que não foi pelos 10 centavos, foi um cansaço. A população não queria. Então por isso que eu voltei a questão de termos coragem de discutir pautas que interessam à população. Ou nós entendemos isso, a política tradicional entende que tem que estar do lado do povo, ouvindo o povo e não tentando ensinar o povo, mas ouvindo os seus problemas para tentar achar soluções conjuntas ou a sensação da população que essa política não me serve, que essa política só visa o seu próprio interesse.

Então procurar alternativas e não são as alternativas ideais, não são as alternativas saudáveis, são as alternativas que não só flertam com a autocracia, mas com o que há de pior do ser humano. Passa por partidos políticos, passa por fortalecimento do centro e passa por uma modernização da pauta. Vamos dialogar com a população brasileira, vamos ouvir a população brasileira. É a tal da sabedoria popular que precisa voltar para o cenário da política brasileira.

Um pulo rápido na economia. Você conhece o agronegócio. Vamos ter alimentos mais baratos esse ano ou pelo menos não subindo tanto quanto no ano passado?

No geral, sim. Uma árvore de café leva 4, 5 anos para começar a produzir o primeiro café. Com a quebra da safra no mundo, pode fazer isenção de imposto que for, porque você não consegue abaixar o preço do café.

Mas o ovo, quem sabe?

Sem dúvida, é muito mais rápido. O pintinho para virar uma galinha leva 30 dias para colocar o ovo e tudo mais. A isenção de imposto vai beneficiar alguns produtos, do azeite ao óleo e tudo mais. Embora sejamos exportadores, no caso da própria carne, há um efeito moral. Pensam: “se está isento a importação de carne, ao invés de só exportar tanto, eu vou deixar um pouco mais para o mercado nacional, com isso baixo o preço, para evitar a concorrência de fora”. Há um conjunto de fatores que vão mostrar que nos próximos 30 dias muitos produtos vão começar a baixar o preço.

O Brasil precisa redescobrir o Brasil. Os economistas, a classe política precisa redescobrir o Brasil. A economia está muito diversa. Não só diversa, não depende só de um setor ou indústria ou comércio ou agro. É que dentro do agro não depende só do boi e da soja mais. Ele tem o milho, ele tem a celulose, ele tem o papel, tem o etanol, tem o etanol de segunda geração, tem um combo nesse cesto. Então quando uma coisa está dando errada, a outra coisa está dando certa. Por isso que eu falo assim, eu não posso ser mais romântica pelo tempo que eu tenho de vida, mas eu sou uma otimista, realista, porque eu conheço a realidade do Brasil e sei que o Brasil tem tudo para dar certo.

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