Míriam Leitão
A ministra Simone
Tebet disse que a equipe econômica está incluindo no Orçamento
programas como o Auxílio- Gás e o Pé-de-Meia, e que a meta de déficit zero será
cumprida. “Se não agora, no tempo determinado pelo Tribunal de Contas”. Ela
disse que a equipe econômica, muita vezes, é voz dissidente no governo ao dizer
que não existe “almoço grátis” e não querer recriar fórmulas passadas que não
deram certo. Para ela, o ministro Fernando
Haddad é um verdadeiro herói nesse sentido, ao enfrentar uma
resistência do seu próprio partido.
Ainda sobre o PT, Simone considera que Gleisi
Hoffmann sabe do projeto em andamento no país e vai dar suporte
para aprovar as medidas econômicas necessárias.
- Ela sabe vestir e desvestir a camisa de
acordo com o cargo que tem, que é este o papel dela. Ela exercia o papel de
presidente de um partido, que era um partido que tinha uma posição ideológica e
econômica muito clara. Ela não podia fazer outra coisa enquanto presidente do
partido – defende Tebet.
Abaixo a íntegra da entrevista:
A equipe econômica entregou quase 7% de
crescimento em dois anos. Apesar disso, tem sido criticada dentro e fora do
governo. Como fazer para se manter mais firme no rumo traçado nesses dois
ministérios, Economia e Planejamento?
Simone Tebet: Falar de economia hoje é
falar de algo muito complexo e que precisa ser, dentro desse processo, inserido
o cenário internacional. Eu diria que os números nunca estiveram tão bons. Dois
anos consecutivos crescendo acima de 3%, quando que nós vimos isso? Isso
reflete no que? Maior geração de emprego, maior renda per capita. Tudo isso
está colocado.
Eu gostaria de acrescentar dois fatores que
me tocam muito. Nunca tivemos tantos jovens empregados. E nunca tivemos tantas
mulheres empregadas. Nunca tivemos tanta formalidade.
É muito difícil falar e fazer economia e
fazer um país dar certo num mundo tão conflitado. Vi uma matéria sua, que eu
acrescentaria algumas coisas, na qual você falava de incerteza. A incerteza é a
pior palavra quando se trata de economia. Mas a incerteza, ela é conjuntural,
ela é temporária. Acho que nós estamos passando por algo ainda pior. Nós
estamos passando por algo estrutural. A incerteza está virando insegurança na
cabeça das pessoas. E a insegurança está levando ao medo. Nós falamos isso em
todas as gerações. Nós nunca tivemos tantos conflitos armados no mundo, mais de
40. E aqui um parêntese que é importante, nenhum deles tem a cara de uma
mulher. Não tem uma mulher à frente desses conflitos, instigando esses
conflitos. Nós temos a insegurança climática atingindo imensamente a mente dos
nossos jovens, que não querem nem ter filhos por medo do futuro. E nós temos,
por conta da questão climática, a incerteza econômica, além dos conflitos que
impactam a economia.
Diante desse cenário, que é um cenário
difícil, há um elemento mais novo ainda, que nós estamos na era do mundo
digital, onde as verdades são relativas, onde as pessoas se pautam pelas redes
sociais e não sabem, afinal, em que mundo estão vivendo. Qual é o Brasil que
você vive? É o mesmo que eu vivo? Eu não sei, eu não sei qual a realidade
virtual você está tendo. Então, trabalhar economia, trabalhar política nesse
universo não é coisa fácil. Qual é a alternativa a isso. Uma delas, eu não
tenho dúvida: a comunicação. O governo está errando na comunicação. Começou a
dar passos positivos no sentido certo na forma, mas nós também estamos errando
no conteúdo.
Mas como é que deveria ser a comunicação do
governo? Por que está errando na forma e no conteúdo? Explica melhor isso.
É ter o diagnóstico certo e usar ele a nosso
favor. Linguagem simples. Eu não vou entrar no assunto do Sidônio (Palmeira,
ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do Brasil), a quem aposto
todas as minhas fichas, o conheci na campanha quando eu apoiei o
presidente Lula no
segundo turno, sei da capacidade dele. Na forma é até mais fácil, no conteúdo é
muito difícil, ele convencer 37 ministros de que agora tem que dialogar, fazer
frases mais curtas, mais simples para dialogar com a população.
Mas eu diria naquilo que é meu, que é do
Planejamento, tenho um ministério que no presente lida com Orçamento, é o dia a
dia, é o café da manhã, o almoço e o jantar. E eu tenho que trabalhar pensando
no futuro. O presente não pode engolir o futuro. A gente tem que pensar no hoje
e já projetar a média e longo prazo. Nós estamos fazendo quietinhos, vamos
entregar para o Brasil, o governo do presidente Lula vai entregar pela primeira
vez na história a estratégia do Brasil que nós queremos para os próximos 25 anos,
já a partir de 2026, e como fazer para chegar lá, com indicadores e metas muito
claras. Mas tem um ponto que eu acho que, por ser ministra do Planejamento, eu
posso ousar. Temos que ter a coragem de enfrentar temas espinhosos, mas que
dialogam com a sociedade, que precisam ser enfrentados.
E olha quem está falando aqui é uma ministra
que tem uma visão um pouco mais liberal, seja lá o que for isso, porque eu não
sou economista.
Mas falando de presente, o Orçamento não está
pronto ainda. O Congresso ainda não aprovou. Como executar um Orçamento que não
foi aprovado? Isso cria dificuldades, não é verdade?
Olhando pelo lado fiscal, o Orçamento não me
faz falta neste momento. Eu preciso do Orçamento por segurança jurídica, porque
a Constituição determina, porque nós precisamos realizar políticas públicas e
entregar as obras, enfim, fazer a máquina andar e a economia também.
Mas trabalhar com 18 avos (1/18) nos
primeiros três meses não é um mau negócio a fim de estrutura fiscal, de
responsabilidade fiscal e de meta. Nós temos que cumprir meta zero e nós vamos
cumprir meta zero. Vamos fazer isso com toda responsabilidade. Estamos
colocando para dentro do Orçamento aquilo que ficou para fora, seja porque o
Tribunal de Contas assim o determinou, e é o certo, seja porque o próprio
governo reconheceu, no Auxílio Gás ao Pé-de-Meia, passando por todas as
políticas públicas, para garantir essa segurança de que nós vamos cumprir meta
da forma correta.
Tudo isso estará dentro do Orçamento?
Tudo estará dentro do Orçamento. Se não
agora, como colocamos agora o Auxílio-Gás, estamos colocando no ofício que
encaminhamos para o Congresso Nacional, naquele tempo determinado pelo Tribunal
de Contas em relação ao Pé-de-meia. Isso tudo estará dentro do Orçamento.
Sendo combativa, inclusive, como aquela voz,
às vezes, dissidente a equipe econômica dizendo o seguinte: não tem almoço
grátis, não vamos inventar subsídios, não vamos criar fórmulas passadas que não
deram certo. Não vamos fazer isso. A equipe econômica tem consciência. O
ministro Haddad é um verdadeiro herói nesse sentido, de enfrentar uma
resistência do próprio partido. E nós vamos conseguir entregar o Orçamento, uma
vez aprovado, cumprindo as regras fiscais.
Você falou que ia dar um exemplo do presente.
Nós precisamos dialogar com os interesses da
população brasileira e entender que quando nós falamos com esse governo que é
mais social, mais esquerda, e fala que a grande missão do país é fazer justiça
social e é. Um país tão rico não pode ter um povo tão pobre. Nós temos que ter
como meta, e tanto a direita quanto a esquerda tem como meta, a justiça social,
podemos ter divergência na forma. Não se faz social sem fiscal, sem controlar
as contas públicas, sem gastar com eficiência e qualidade, sem excessos, sem
fraudes, sem erros. A forma pode ser distinta, mas o objetivo principal, tanto
a esquerda quanto a direita, tem a mesma finalidade.
Será mesmo?
Tem. Tanto a direita quanto a esquerda, não o
extremo. Os extremos se encontram, tanto da direita quanto da esquerda, na
violência, na privação de liberdades, na autocracia, isso é uma outra história.
Obviamente, de alguém que é mais centro-direita na economia, mais
centro-esquerda na parte de costumes e convive com os dois lados por ser uma
pessoa de centro, quando eu converso com políticos de direita e de esquerda, eu
vejo que eles têm o mesmo objetivo. A forma ou a fórmula é que eles podem
divergir. Talvez a virtude esteja no meio, nem um fiscalismo desalmado, um
fiscalismo que só pense no futuro matando o presente, e nem uma política social
que não olha o futuro, gasta, cria subsídios e com isso empurra a conta lá para
frente, gerando inflação,
dívida pública e tudo mais.
Voltando ao exemplo, ousando, talvez em voz
alta, algo que eu já tenho tratado com a minha equipe, quando a gente fala de
social, a população já precificou isso como alguma coisa dela. Você fala de
Bolsa Família, de vários programas, são programas que a população fala assim,
entra governo, sai governo, isso é uma política de Estado. Ninguém vai tirar
dinheiro. Agora tem coisas do dia a dia, uma mudança estrutural de mentalidade
de gerações que precisa ser colocada na mesa. Nós não temos que ter medo de dialogar
com a sociedade, com a academia, com o setor produtivo e nem com o sindicato e
com os trabalhadores a questão do fim da jornada de seis por um. A jornada de
cinco por dois precisa ser colocada na mesa.
Você é a favor então?
Tebet: De cinco por dois com um período de
transição, começando com as grandes empresas, protegendo as pequenas, dando
incentivo para que elas possam se adequar, sem dúvida nenhuma. Não é só porque
é desumano hoje, é porque isso gera economia, isso vai gerar produtividade,
isso vai gerar qualidade no trabalho e o próprio empresário vai ganhar com
isso, de forma organizada, com planejamento. Nós estamos trabalhando essa
questão. Outra questão que precisa ser colocada é a igualdade salarial entre
homens e mulheres, foi uma promessa do presidente Lula comigo e que precisa
virar realidade. E se não for por amor, não for assim por amor às mulheres uma
questão de igualdade, que seja pelo bolso.
A lei foi aprovada e ainda regulamentada...
Não foi regulamentada por pressão do setor
privado, que não está enxergando que ele é o principal beneficiado. Não diria
que é quase uma Reforma Tributária, mas ela mexe no PIB brasileiro
positivamente ao colocar as mulheres com o melhor salário porque esse salário
vai girar a economia.
Porque isso faz parte do Brasil que nós
queremos para daqui dois ou três anos. Para que você esteja fazendo entrevista
com uma ministra do Orçamento ou com o ministro da Economia ou da Fazenda
tratando dos mesmos assuntos: inflação, desemprego, dívida pública e tudo mais.
Então acho que é isso. É ter coragem de enfrentar questões com diálogo, com
transparência, achando o caminho do meio. É possível avançar nessas questões e
são questões que se você conversa com a população brasileira, se você conversa
com o trabalhador, são questões que estão no dia a dia dele, que interessam a
vida dele.
O Ministério do Planejamento tem colocado uma
posição fiscal mais firme, a senhora mesmo já disse, que é preciso enfrentar
gastos, cortar gastos, diminuir despesas, mas depois diminuiu um pouco, passou
a falar menos sobre isso. Por que? Tem algum foco de corte de despesas possível
hoje?
Essa resposta posso te dar de forma bem
objetiva. Conheço a realidade da política brasileira, não faço política há
pouco tempo e fui do Congresso Nacional nos últimos oito anos. Achávamos que
teríamos um parceiro mais fiscalista no Congresso Nacional, não foi o que
aconteceu. Não foi o que aconteceu, seja na PEC da transição - eu participei
dela, fui responsável também por ela, não estou me eximindo de nenhuma
responsabilidade, seja em relação ao arcabouço - , que não foi aprovado do
jeito que nós queríamos, seja em relação a esse novo ajuste.
Quer dizer, o Congresso aumenta a despesa, na
verdade.
E diminui a contenção. Então não é o
Congresso fiscalista que nós imaginávamos. Então não adianta dar murro em ponta
de faca. Democracia é isso e não temos que fazer qualquer crítica em relação a
isso. Faz parte do jogo democrático. Dentro disso, e com pragmatismo que a vida
inteira me pautou, vejo na janela de 2026 a oportunidade que eu não estou vendo
na janela de 2024 e 2025. Explico: a janela de novembro e dezembro de 2022 foi
a janela da gastança. (Depois) Precisávamos recuperar políticas públicas, Farmácia
Popular, Bolsa Família, ciência, tecnologia, educação, inovação, e gastamos.
Injetamos R$ 140 bi a mais por ano, que é acumulado ano a ano, de gastos
públicos. Chegou o momento em que 2027, seja quem for o próximo presidente da
República, não governa com esse arcabouço fiscal, com essas regras fiscais sem
gerar inflação, dívida pública e detonar a economia. Então nós temos uma janela
de oportunidade que não é agora, a véspera de uma possível eleição em 2026, não
é por conta nossa. Converse com 54 senadores que vão para a reeleição, eles não
querem tratar desse assunto, eu não tenho dúvida, conheço meus colegas e não os
critico.
O que nós temos de janela de oportunidade, é
o avesso do que foi feito em 2022, em 2026, em novembro, em dezembro, seja o
presidente Lula candidato e reeleito, seja um outro candidato, um outro
presidente eleito, é fazer o dever fiscal. Cortar gastos, cortar o supérfluo,
fazer uma política num arcabouço mais rigoroso, que não mate o paciente,
obviamente. A diferença do veneno e do remédio está na dose, mas que permita
garantir sustentabilidade da vida pública, baixar juros, baixar a inflação e
fazer a economia crescer. Essa janela de oportunidade nós não podemos perder.
A incerteza agora, nesse momento, tem nome e
sobrenome, Donald
Trump. Como enfrentar essa relação tão tumultuada? Como vai afetar a
economia?
primeiro com diplomacia. Se a gente achar que
deve apostar em dobrar aposta no Brasil, nós vamos perder.
Mas a gente vai vender mais para China?
Acho que diplomacia, entendendo a importância
do parceiro comercial como os Estados
Unidos, está dando tempo do presidente americano perceber que ele
chegou tarde na eleição dele para implementar o que ele queria, porque o mundo
está diferente, mudou nos últimos quatro anos. O maior parceiro comercial do
Brasil é a China, sim, mirando mais os países asiáticos de um modo geral. Fui
para a China, eu tenho conversado, dialogado com autoridades e empresários do
mercado asiático, e colocando para funcionar efetivamente, depois de quase 40
anos de sonho, as rotas de integração sul-americana.
Enquanto a América do Norte comercializa
entre si - por isso, o problema Canadá, México e Estados Unidos não é tão
simples - 40% do comércio americano é regional, só depois compra um do mundo,
na América do Sul é apenas 15%. Nós temos 200 milhões de sul-americanos que são
possíveis consumidores nossos e nós precisamos aproveitar e vice-versa. Eles
têm 200 milhões de brasileiros à disposição para consumir produtos deles.
Então, essa integração sul-americana está
pronta para sair do papel, não é um projeto novo, a gente começou desde 1º de
janeiro no nosso ministério. O PAC veio com as obras estruturantes sem aumentar
um centavo de fiscal, não tem impacto fiscal, porque nós aproveitamos as obras
estruturantes do PAC. A infraestrutura é apenas um meio para se conseguir o
fim.
Você está falando de melhorar a logística
para esses países?
Para melhorar nossa balança comercial, o
fluxo comercial. Exemplo, a Bolívia tem o que o Brasil precisa para produzir um
agronegócio que é o fertilizante, minerais nobres, lítio, etc. Nós temos a
agro, indústria, o produto semi-elaborado, elaborado, o próprio automóvel e
alimentos para abastecer a Bolívia. Estamos do lado, eemos um rio só que
divide, uma ponte que nos une.
Paralelo a isso, a percepção correta e isso
já está acontecendo, de que o caminho mais próximo para a China, para o Vietnã,
para a Tailândia, para o Singapura, não é pelo Atlântico, não é só pelo Porto
de Santos, é pelo Pacífico. Nós vamos diminuir em 10 mil quilômetros a
distância, portanto, nós estamos falando de diminuir o custo dos nossos
produtos quando essas rotas estiverem prontas. E elas começam a ficar prontas a
partir do fim deste ano. É o encurtamento da distância entre a China e o Brasil
pela costa do Pacífico.
Queria falar um pouco de política. Gleisi
Hoffmann, no Ministério das Relações Institucionais. Ele sempre fez um discurso
contra a política econômica. Como é que você está vendo isso?
Nós sempre estivemos em lados opostos, mas
sempre tivemos uma gentileza no trato. Conheci Gleisi, talvez, quando ninguém
nos conhecia. Eu era deputada estadual em Mato Grosso do Sul, ela era
secretária de gestão do primeiro governo eleito pelo PT estadual, que era o
governo do Zeca do PT. Eu era líder da oposição, ela era secretária de gestão.
Acho que a capacidade não só dela, não estou dizendo só como mulher, mas além
de tudo da experiência dela, de vestir e desvestir a camisa de acordo com o
cargo que tem, que é este o papel dela. Ela exercia o papel de presidente de um
partido, que era um partido que tinha uma posição ideológica e econômica muito
clara. Ela não podia fazer outra coisa enquanto presidente do partido.
Agora ela é uma ministra palaciana,
fidelíssima ao presidente Lula, ela tem uma fidelidade que ninguém discute ao
presidente Lula e sabe que o projeto de país que está em andamento na parte
econômica é o projeto do governo. Acredito que ela agora vai cuidar das
relações institucionais, da relação com outros Poderes, e vai dar o suporte
necessário para aprovar as medidas econômicas, microeconômicas em especial, que
a equipe econômica e que o ministro Haddad tem. Acho que a relação dos dois é
de aproximação.
E seu futuro político, porque tem várias
coisas que eu tenho ouvido. Primeiro, senadora pelo Mato Grosso do Sul.
Segundo, governadora, porque já foi vice-governadora e tem perfil executivo
também. Foi muito bem no parlamento como senadora, mas tem um perfil executivo.
Ou vice na candidatura na chapa do presidente Lula...
Eu posso dizer que eu sou candidata a
continuar servindo ao Brasil. Falei isso há quatro anos, quando eu fui
candidata, sabendo que dificilmente ganharia para a presidente da República e
que, portanto, eu estaria voltando para casa. Eu tive a oportunidade de estar
com o governo passado quando eu era presidente da Comissão de Constituição e
Justiça e me ofereceram tudo. Eu tive a oportunidade de estar do outro lado do
palanque no segundo turno quando me ofereceram não um, mas dois ministérios com
porteira fechada. Eu não fiz isso por uma questão muito clara na minha vida,
isso eu devo ao berço que eu tenho, a minha mãe que é muito religiosa, ao meu
pai que nasceu e morreu como ser político. É preferível perder do lado certo,
do que ganhar do lado errado. O meu discurso nunca vai ferir o meu ser. Quando
o meu discurso ferir o meu ser, eu paro de fazer política. Eu faço política
porque eu devo isso ao Brasil. Com cargo ou sem cargo.
De forma objetiva, não sou candidata ao
governo do Estado. Apoio a reeleição do governador Eduardo
Riedel pelo excelente trabalho que está fazendo lá. Ainda se não
fosse isso, mas aqui só como parênteses, porque isso tudo é público, meu marido
é chefe da Casa Civil do governo atual. E independente disso, porque temos
vidas políticas também distintas. Segundo, todas as vezes em que eu mirei na
política para um lado, a vida, Deus me encaminhou para o outro. Eu conto
rapidamente isso num pequeno livro, que é um gesto que eu fiz para as jovens
brasileiras, no qual falo que as vezes que eu mais ganhei na vida foi quando eu
perdi, quando eu tive a coragem de defender teses nas quais acreditava.
Então, se o presidente falar assim: preciso
que você continue no ministério até o final, eu vou continuar no ministério. Se
houver um projeto da necessidade de um fortalecimento do Senado, de partidos de
centro, centro-esquerda, centro-direita, direita, sem os extremos, e isso
exigir de mim uma possível candidatura ao Senado Federal - hoje não é o que me
move, não é o que o meu coração me pede - eu farei.
Agora, depois de 25 anos de vida pública,
tendo sido prefeita, reeleita prefeita, deputada estadual, secretária estadual
de governo, vice-governadora, senadora, enfim, hoje ministra do Planejamento e
Orçamento, já tendo cumprido todas as missões, eu não posso ser fisiológica e
escolher cargos.
Acho que o Brasil está passando por um
momento, nós falamos das incertezas e inseguranças, que exige de todos nós uma
parcela de contribuição. Sou muito feliz por estar trabalhando pelo Brasil e
procurar estar fazendo algo que me move. Se é uma coisa que a política me deu
ou me fez forjar, foi fazer uma menina do interior do Brasil extremamente
tímida e, eu diria que até recatada, ser forjada na coragem. Eu aprendi a ser
corajosa para defender aquilo que eu acredito, aquilo que eu amo. Então, isso
me basta.
Você falou que se define como centro-direita
e elogiou a direita também, dizendo que direita e esquerda têm o mesmo
objetivo, mas separou os extremos. O problema é que o mundo está fortalecendo
os extremos, principalmente a extrema-direita. Como fazer para proteger o
Brasil de um novo governo desastroso como foi o governo de extrema direita. Seu
trabalho na CPI da Covid ajudou a tornar claro qual era o principal erro
daquele governo: ele ficou contra a vida.
Nós temos vários, mas isso tudo passa por
partidos políticos fortes e pelo fortalecimento do centro. Quer dizer, quando o
centro se desfacelou no Brasil, nós tínhamos na referência no MDB, por exemplo,
a grande força que aglutinava, nós começamos a produzir candidatos autônomos,
outsiders. E essa pergunta me permite dizer que a minha grande preocupação para
2026 é, num possível segundo turno, a figura de um outsider, de alguém de fora
da política. Porque, de novo, eu não tenho medo da direita ou da esquerda
tradicional, eu tenho medo de um outsider que vem com ideias mirabolantes de um
mundo totalmente distópico.
É preciso o fortalecimento dos partidos
políticos, o fortalecimento do centro democrático, que voltemos a tratar de
valores que realmente interessam à sociedade e que tenhamos, obviamente, no
Congresso Nacional, um pouco mais de equilíbrio em relação às emendas
parlamentares. Isso pode virar um caso de polícia, eu já vi essa história
antes, eu já vi esse filme antes, eu não sou contra emendas parlamentares, acho
que elas são saudáveis, mas nesse patamar eu sou contra. Nesse patamar (o
Congresso) tem exatamente para investimento o que o Executivo tem para
investimento, isso não existe em lugar nenhum do mundo.
As emendas geram uma distorção da democracia
no sentido de comprar apoios políticos, evita a renovação, mas não é isso. O
cansaço da população brasileira é silencioso. A população brasileira vai
engolindo até o momento que ela vomita, e vomita corretamente. Foi assim com os
centavos do transporte coletivo lá atrás, que não foi pelos 10 centavos, foi um
cansaço. A população não queria. Então por isso que eu voltei a questão de
termos coragem de discutir pautas que interessam à população. Ou nós entendemos
isso, a política tradicional entende que tem que estar do lado do povo, ouvindo
o povo e não tentando ensinar o povo, mas ouvindo os seus problemas para tentar
achar soluções conjuntas ou a sensação da população que essa política não me
serve, que essa política só visa o seu próprio interesse.
Então procurar alternativas e não são as
alternativas ideais, não são as alternativas saudáveis, são as alternativas que
não só flertam com a autocracia, mas com o que há de pior do ser humano. Passa
por partidos políticos, passa por fortalecimento do centro e passa por uma
modernização da pauta. Vamos dialogar com a população brasileira, vamos ouvir a
população brasileira. É a tal da sabedoria popular que precisa voltar para o
cenário da política brasileira.
Um pulo rápido na economia. Você conhece o
agronegócio. Vamos ter alimentos mais baratos esse ano ou pelo menos não
subindo tanto quanto no ano passado?
No geral, sim. Uma árvore de café leva 4, 5
anos para começar a produzir o primeiro café. Com a quebra da safra no mundo,
pode fazer isenção de imposto que for, porque você não consegue abaixar o preço
do café.
Mas o ovo, quem sabe?
Sem dúvida, é muito mais rápido. O pintinho
para virar uma galinha leva 30 dias para colocar o ovo e tudo mais. A isenção
de imposto vai beneficiar alguns produtos, do azeite ao óleo e tudo mais.
Embora sejamos exportadores, no caso da própria carne, há um efeito moral.
Pensam: “se está isento a importação de carne, ao invés de só exportar tanto,
eu vou deixar um pouco mais para o mercado nacional, com isso baixo o preço,
para evitar a concorrência de fora”. Há um conjunto de fatores que vão mostrar
que nos próximos 30 dias muitos produtos vão começar a baixar o preço.
O Brasil precisa redescobrir o Brasil. Os economistas, a classe política precisa redescobrir o Brasil. A economia está muito diversa. Não só diversa, não depende só de um setor ou indústria ou comércio ou agro. É que dentro do agro não depende só do boi e da soja mais. Ele tem o milho, ele tem a celulose, ele tem o papel, tem o etanol, tem o etanol de segunda geração, tem um combo nesse cesto. Então quando uma coisa está dando errada, a outra coisa está dando certa. Por isso que eu falo assim, eu não posso ser mais romântica pelo tempo que eu tenho de vida, mas eu sou uma otimista, realista, porque eu conheço a realidade do Brasil e sei que o Brasil tem tudo para dar certo.
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