quinta-feira, 13 de março de 2025

Mulheres e as transformações - Míriam Leitão

O Globo

Ministra Elizabeth Rocha no STM defende igualdade, a ministra Simone defende igualdade salarial. Mulheres sonhando`juntas e realizando

A ministra Simone Tebet disse que a ministra Gleisi Hoffmann tem a capacidade de “vestir e desvestir a camisa de acordo com o cargo que ocupa” e, por isso, acredita que ela “vai dar o suporte necessário para aprovar as medidas que a equipe econômica e o ministro Fernando Haddad têm”. Explicou que, na vida política, ela e Gleisi estiveram em lados opostos, “mas sempre tivemos gentileza no trato”. Em outro momento, Tebet disse que o ministro Fernando Haddad tem sido “um verdadeiro herói de enfrentar a resistência em seu próprio partido”.

Nessa entrevista que ela me concedeu na GloboNews, Tebet passou por vários assuntos, defendendo inclusive a redução da jornada de trabalho. Sobre inflação, ela disse que “há um conjunto de fatores que vão mostrar que nos próximos 30 dias muitos produtos vão começar a baixar de preço”.

Ontem foi um dia em que, para reportar às leitoras e aos leitores tudo o que vi, eu precisava de duas colunas. Então tenham paciência comigo nesse espaço, em que irei de uma coisa a outra, mas em tudo estará presente a mulher e a busca de mudanças. De manhã, entrevistei Simone Tebet, de tarde fui ver a posse da ministra Elizabeth Rocha.

Pela primeira vez em 217 anos, desde que foi criado o tribunal militar no Brasil, uma mulher assumiu a presidência por eleição. Na posse, havia sinais de mudanças em vários detalhes, como o do hino nacional, primeiro cantado por Aida Kellen soprano negra, depois pela indígena Djuena Tikuna, em idioma tikuna.

Naquele tribunal eu fui julgada, em 1977. Absolvida. Eu fui acusada de ter pichado muros, espalhado panfletos, feito reuniões “subversivas”, mas jamais fui acusada de ação armada. Fui absolvida também em 1974 na 1ª Auditoria da Aeronáutica. Nunca houve muito do que me acusar, apesar da violência da prisão. Foi inevitável para mim sentir emoção ao ver a posse de uma mulher no STM.

“Sou feminista e me orgulho de ser mulher. Nós mulheres temos o sonho da igualdade. Não tenho dúvidas de que o ideário se imbrica com o humanista quando buscam identificar um mundo sem constrangimentos. Os segmentos minoritários esbatem-se, desde sempre, em um ambiente permeado por hostilidades e intolerâncias, a impor o rompimento das travas opostas à igualação”. Misturei aqui alguns trechos do discurso, todo ele marcado pela denúncia do patriarcado e pela rejeição a todas as discriminações de gênero, de raça e de orientação sexual. Elizabeth pediu licença poética a Milton Nascimento e Lô Borges, para dizer “porque se chamavam mulheres, também se chamavam sonhos e sonhos não envelhecem”.

Estava eu ali sonhando com esse mundo de mudanças posto no discurso e na posse da ministra Elizabeth, sonho que nunca envelheceu em mim, quando recebo a informação de que o senador Jorge Seif (PL-SC) acabara de me atacar no plenário do Senado, mentindo e me acusando de ter praticado atos violentos na juventude. Logo depois o Fato ou Fake do G1 me procurou para dizer que voltara a circular fortemente a fake news de que eu assaltei um banco em 1968.

Queridos leitores e leitoras, eu jamais peguei em uma arma na minha vida. Em 1968, eu tinha 15 anos e morava em Caratinga. Aquele tribunal militar, onde eu estava, me emocionando com o hino nacional lindamente cantado em português e em tikuna, guarda os anais do que aconteceu comigo em 1972, aos 19 anos. Não fui acusada de um único ato violento. Fui presa, torturada, ameaçada de morte e denunciei a tortura durante o julgamento. Essa é a verdade. O senador mentiu sobre mim e alimentou mais um ataque da velha fake news.

Fui longe porque o dia me empurrou de um lado para o outro. Volto à entrevista de Simone Tebet, que vocês poderão conferir no Globoplay ou transcrita no meu blog. Ela defendeu a redução da jornada de trabalho.

—Nós não temos que ter medo de dialogar com a sociedade, com a academia, com o setor produtivo, nem com os sindicatos e com os trabalhadores a questão do fim da jornada de seis por um. A jornada de cinco por dois precisa ser colocada na mesa. Não é só porque é desumano hoje (a escala 6x1) é porque gera economia, vai gerar produtividade, vai gerar qualidade de trabalho. Outra coisa que precisa ser colocada é a igualdade salarial entre homens e mulheres, foi uma promessa do presidente Lula que tem que virar realidade. Se não for por amor às mulheres ou à questão da igualdade, que seja pelo bolso”.

Pois é, meus velhos sonhos estão vivos.

 

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