O país está gravemente doente. Não é uma doença terminal ou aguda. Definitivamente, não estamos à beira do abismo. Nem de perto nos assemelhamos à combinação de crises econômicas e humanitárias de países assolados por conflitos armados e guerras civis. Não será uma morte súbita. Um infarte ou um AVC grave. Estamos sofrendo de um mal crônico, degenerativo, progressivo. E a sociedade e as instituições parecem anestesiadas. O diagnóstico é frouxo, ralo. E o primeiro passo para buscar a cura sempre é a consciência plena do quadro e um diagnóstico amplo e profundo.
Parecemos alimentados pelo otimismo ingênuo e
infantil de Poliana e seu jogo do contente. Avançamos muito desde a
redemocratização há 40 anos. Mas há 45 anos tínhamos uma renda per capita maior
do que a Coréia do Sul. Hoje o país asiático entrou no clube dos países
desenvolvidos e tem uma riqueza por habitante 3,2 vezes maior que a nossa.
Enquanto os países emergentes investirão em média, de 2021 a 2029, 32,6% de
seus PIBs, e, entre eles, os asiáticos, 38,9%, o Brasil reservará para
investimentos apenas 16,4% do seu PIB. Em 2041, a população brasileira começará
a decrescer. Ou seja, menos gente produzindo. Para aumentar a nossa riqueza só
ampliando a estacionária produtividade brasileira. Isso só com educação de
qualidade, capacidade de inovação na ciência e tecnologia e infraestrutura
adequada. Como fazer isso sem investimento?
O gargalo é fiscal. Ainda assim continuámos a
brincar com fogo. A carga tributária já é alta. No entanto, temos o orçamento
mais engessado do mundo. O PLDO/2026 mostrou que a margem de manobra para
governar, a partir de 2027, tende a zero. Temos que estancar o crescimento da
dívida e derrubar os juros. Mas para isso precisámos gerar um superávit fiscal em
torno de 310 bilhões reais ao ano. No entanto, desde 2014, produzimos déficits.
E não há horizonte de mudança. Ao contrário, as decisões recentes são sempre na
direção do agravamento do quadro.
O próximo presidente da República tem um
encontro inevitável com uma profunda reforma das finanças públicas e com um
radical ajuste fiscal. Mas para isso é preciso diagnóstico correto, formação de
convicção, liderança, coragem para mudar e apoio político. Pode ser que
aconteça. Não parece. Quando um partido importante recusa um ministério e
bancadas com ministros se dividem ao meio em votações cruciais, tudo indica que
nosso presidencialismo de coalizão perdeu sua funcionalidade.
Ou nos convencemos de que é preciso mudar e
construímos um pacto majoritário em torno de uma agenda de reformas, ou nos
restará um cenário nada atraente: crescimento medíocre, juros na estratosfera,
dívida explodindo, falência das políticas públicas, investimentos no chão.
Ou a realidade se impõe e a doença é diagnosticada e curada. Ou virá um novo outsider a la Milei ou Trump para liderar uma nova aventura imprevisível à margem das instituições democráticas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário