quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Um pulso firme, de braço amigo


Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO

A receita já existe há meses e vem sendo transmitida boca a boca, sem formalidades inúteis. Primeiro, tem que ser alguém muito ligado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, isto é uma necessidade e uma exigência; o escolhido tem que possuir autoridade política e liderança partidária; é preciso ser um quadro com capacidade para conduzir alianças, no plano nacional e nos Estados. Com estas características, o indicado terá que ter força para aproximar o presidente da República e o partido. Assim, ficará viabilizada, sem maiores riscos, a sucessão, e garantidas as conquistas do governo.

Este é o perfil declarado do futuro presidente do PT, definido pelos próprios dirigentes partidários e assessores do presidente, com negociações em estágio avançado. O nome que pode a ele se amoldar, no entanto, não está oficialmente confirmado, embora seja unânime a conclusão de que só há um: Gilberto Carvalho, chefe do gabinete do presidente da República.

Numa ala do partido, informa-se que Lula vetou a saída de Gilberto alegando que ele está muito bem no Palácio e é melhor procurarem outro candidato. É verdade, disse mesmo. Outras opiniões abalizadas, porém, avaliam que o presidente sabe que não há outro nome e está vendendo caro o passe de seu mais próximo auxiliar. Vender caro significa que quer unanimidade e facilidade para o trabalho de quem vai presidir o partido na sucessão presidencial. E, mais perto da eleição, para não haver desgastes desnecessários desde hoje, vai ceder.

O sucessor indicado por Lula até este momento, a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, tem que ser preparada interna e externamente. Dilma existe menos no PT do que nacionalmente, onde as pesquisas já lhe dão de 8 a 10% de conhecimento e apoio. Será do presidente do PT, a partir de determinado momento do processo, a tarefa de aproximá-la mais do partido, sobretudo das bases, que Lula comanda apenas com o discurso mas esta é uma habilidade que ninguém mais consegue reproduzir. Ao mesmo tempo em que prepara o candidato, o dirigente petista terá a função de organizar o partido, fortalecê-lo para não perder tudo o que considera haver conquistado nos dois mandatos presidenciais.

Neste aspecto a crise econômica atual é considerada um fator importante na definição de rumos. Acredita os petistas que se o governo conseguir gerir bem a crise, não deixar que tenha impactos sobre três pilares que considera características de suas gestões - emprego, baixa inflação e distribuição de renda - manterá retraídos os problemas maiores. Se houver, porém, influência da crise e o PT começar a ter medo de perder a eleição, desesperar-se com a proximidade da desocupação da máquina, o futuro será cada vez mais uma incógnita.

O novo presidente terá que ser capaz, também, de não deixar o processo de eleição direta, mesmo com uma base que Lula ainda consegue comandar, transformar-se numa guerra interna a estraçalhar a coesão do partido, que o presidente considera fundamental para ter êxito na disputa.

Isto não significa que estão proibidas as prévias para escolha do candidato à sucessão, sempre um fator de tensão. Mas as expectativas têm que estar sob o controle de Lula. Assim, o nome do momento é Dilma, que o presidente do PT terá que fazer passar sem traumas pelas instâncias do partido. Se, em outro momento mais à frente, for o de Antonio Palocci, por exemplo, - que pode ser deslocado do quadro de candidatos ao governo de São Paulo caso a crise econômica se agrave - o presidente do PT, sendo muito ligado a Lula, terá papel fundamental na mudança para o nome de quem pode levar o Brasil ao porto seguro.

Há, ainda, a nunca esquecida hipótese de ter o PT que transformar o trabalho em torno de um sucessor para, objetivamente, tornar viável o terceiro mandato para o próprio Lula.

Em diferentes alas partidárias colhe-se a opinião de que Gilberto Carvalho é mesmo a opção certa para qualquer destas tarefas. Marco Aurélio Garcia, assessor do presidente em assuntos de política externa, assumiu a presidência do PT na crise do dossiê armado pelo partido contra adversários políticos, foi considerado independente demais, cheio de idéias próprias, costurou pessoalmente o acordo com o PMDB que resultou na eleição de Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara, e voltou ao governo queimado entre os petistas.

O atual presidente, Ricardo Berzoini, não teria a menor condição para permanecer no cargo, já não é tão próximo a Lula e não lidera o partido, muito menos detém as condições necessárias para negociar alianças.

Na Presidência da República, gozando da confiança de Lula e com boa base no PT, há o secretário geral Luiz Dulci, que criou para si, porém, arestas em alas partidárias inteiras a partir das últimas eleições municipais. Tal como ocorreu com o petista Tarso Genro, ministro da Justiça, que já se incompatibilizara antes mesmo das últimas eleições. O atual secretário geral do partido, José Eduardo Cardozo, citado entre os presidenciáveis do partido, ainda é visto como alguém não totalmente absorvido internamente, depois de ter, nas avaliações internas, feito um discurso para o público externo nas crises éticas atravessadas pelo partido.

Nos últimos meses, têm aparecido com maior nitidez os movimentos do ex-ministro e ex-presidente do PT, José Dirceu, para voltar à cena partidária. Artífice das candidaturas Lula e das alianças partidárias que sustentaram os dois mandatos petistas na Presidência da República, Dirceu não tem perdido uma só oportunidade para se manifestar, por meios legalmente ainda à sua disposição, hoje, sobre todos os assuntos nacionais e partidários. Pode conseguir, até o processo de eleições diretas, resgatar seu espaço, mas ainda não conseguiu.

Um eleição sem José Dirceu e sem Lula é um desafio imenso para o PT, que tem a responsabilidade de apresentar seu projeto renovado. Não pode ser menos do que acredita estar fazendo, nem pode apresentar-se com resquícios oposicionistas que ainda o acompanharam nas últimas campanhas eleitorais.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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