segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Dilma erra ao criticar racionamento do governo FH

DEU EM O GLOBO

Ministra diz, equivocadamente, que árvores de Natal foram apagadas na crise de energia de 2001

Gustavo Paul e Chico de Góis

BRASÍLIA. Após ser criticada dentro e fora do governo pelo tom duro e arrogante adotado na primeira entrevista coletiva que concedeu sobre o apagão, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, falou ontem com serenidade e ironia sobre o episódio. Mas acabou escorregando ao criticar a oposição e comparar mais uma vez os problemas de abastecimento de energia ocorridos em 2001 e este ano. Para mostrar que a situação hoje é melhor do que a do fim do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, a ministra disse que entre 2001 e 2002 — durante e depois do racionamento de energia — não havia possibilidade de as árvores de Natal do país serem iluminadas.

— Sabe a árvore de Natal da Lagoa Rodrigo de Freitas? Sabe a outra no Parque Ibirapuera (em São Paulo)? Sabe a outra árvore de Natal que tem ali no Rio Grande do Sul, à beira do Guaíba, ou em Natal, ou em qualquer outro estado da federação? A hipótese de ter árvore de Natal em 2001 e 2002 era zero! Porque não tinha energia. Hoje temos árvore de Natal — disse uma sorridente Dilma.

Traída pela ironia, a ministra não se deu conta de que naqueles dois anos a árvore da Lagoa Rodrigo de Freitas, por exemplo, não perdeu o brilho. Em 2001, o Natal foi menos iluminado do que o normal, mas a árvore foi ligada diariamente com ajuda de três geradores. Em 2002, sem racionamento, foram utilizadas pela primeira vez luzes dançantes.

Entre dezembro de 2001 e fevereiro de 2002, com início do período chuvoso, o governo federal abrandou as metas de economia de energia. Já em São Paulo, o convênio da prefeitura com o Banco Santander, que permitiu a instalação da árvore de Natal do Ibirapuera, começou em 2002. E no caso da árvore do Guaíba, em Porto Alegre, o convênio com várias empresas só foi assinado em 2007.

Dilma não poupou a oposição de críticas, e disse que aqueles que se opõem ao governo não podem comparar o blecaute, que atingiu 18 estados e afetou cerca de 60 milhões de pessoas, com o apagão de 2001.

— A oposição tem memória curta.

Comparar o que aconteceu, que é um blecaute de cinco horas com outro que ocorreu entre 2001 e 2002, que é de cinco horas e 11 meses, é um certo exagero.

Estamos conversando sobre coisas que não são comparáveis — disse.

Ao chegar para votar nas eleições internas do PT, disse que vai comparecer ao Congresso para falar sobre o blecaute ocorrido, caso seja de interesse do governo e do próprio Congresso.

Dilma disse, ainda, que o governo não considera prejudicial à ampliação da capacidade de geração de energia o fato de a licitação para a construção da hidrelétrica de Belo Monte ter ficado para o próximo ano, e não para o mês que vem, como se previa. O Ibama ainda não concedeu a licença prévia para a obra.

— A área técnica que trata dessa questão do Ministério de Minas e Energia informou ao governo que esse deslocamento não traz efeitos maiores — disse a ministra, que aproveitou para fazer uma defesa da geração de energia hidrelétrica.

Adotando um discurso ecológico, a ministra ressaltou que a matriz energética brasileira é a mais limpa, pois tem um forte componente hidrelétrico. Num recado a ecologistas, órgãos ambientais e ao Ministério Público — que apresentam resistências à liberação de licenças para construção de usinas — a ministra alertou que não existem alternativas melhores e que o país precisará continuar crescendo a geração de energia: — Acho que o Brasil como um todo tem que aumentar o grau de consciência a respeito da importância da hidreletricidade na geração de energia limpa no Brasil. Porque não tendo hidreletricidade a outra alternativa é térmica. Se retirar o gás, que é menos poluente, mas ainda é mais poluente que a água, sobra carvão, diesel e óleo combustível.

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