A solução para o
problema, segundo ele, passa pelo aperfeiçoamento do sistema democrático
chinês, "com o objetivo de garantir que o povo possa ter eleições e
decisões democráticas". Embora a democracia de que fala Hu Jintao tenha
pouco a ver com a que se conhece no Ocidente, é interessante notar que ele
identifica na ampliação das "decisões democráticas" uma das formas de
derrotar a corrupção no país.
Na vida real, a China
enfrenta denúncias de escândalos de corrupção na política que são divulgadas
seletivamente. O líder Bo Xilai, que deveria estar tendo um papel de destaque
no atual Congresso, foi expulso do partido e está preso sob acusações diversas,
inclusive de assassinato.
Já as informações da
imprensa internacional, especialmente do New York Times, sobre enriquecimento
de parentes do futuro presidente Xi Jinping e do primeiro-ministro Wen Jiabao
são censuradas no país.
Também a presidente Dilma
Rousseff encontrou no discurso de abertura da conferência internacional
anticorrupção, que o Brasil sedia pela primeira vez, um momento ideal para
falar indiretamente dos efeitos do processo de mensalão na política brasileira,
especialmente depois que as eleições municipais revelaram um número acima da
média histórica de votos brancos, nulos e abstenções:
"O combate ao
malfeito não pode ser usado para atacar a credibilidade da ação política tão
importante nas sociedades modernas, complexas e desafiadoras. O discurso
anticorrupção não deve se confundir com o discurso antipolítica, ou antiestado,
que serve a outros interesses. Deve, ao contrário, valorizar a política, a
esfera pública, a ética, o conflito democrático entre projetos que nela tem de
ter lugar. Deve reconhecer o papel do Estado como instrumento importante para o
desenvolvimento, a transparência e a participação política."
Um pronunciamento
perfeito, que separa as questões de Estado das partidárias e dá uma dimensão
valorizada da atividade política, muito além do toma lá dá cá a que a própria
presidente cede na rotina diária de seu governo.
Recentemente, em uma
entrevista ao Prosa e Verso, do GLOBO, por ocasião de seus 80 anos, o
intelectual público Eduardo Portella já repudiava a associação automática entre
política e corrupção:
- Há um desinteresse
político do intelectual. Não que ele deva ser político, mas deve estar o tempo
todo assistido por uma consciência política e deve tomar decisões de
repercussão política. Isso é fundamental. Alguns são alienados por natureza,
interessados apenas em fazer seu sonetinho. Outros são céticos estruturais, é a
turma do voto em branco. E há quem seja desconfiado porque confunde política
com mensalão. O mensalão é um absurdo da vida política, mas o exercício da
política é necessidade da democracia.
O publicitário Jorge
Maranhão, dedicado à causa da cidadania e coordenador da ONG Voz do Cidadão,
acha que a presidente Dilma tem sido mais feliz como chefe de Estado do que de
governo. "A impressão que se tem é a de que se entrincheira na função de
chefe de Estado para evitar o embate duro e nem sempre limpo e leal da política
cotidiana." Mesmo na barganha de cargos em campanhas eleitorais, Maranhão
ressalta que "ela não cede além dos cargos do Poder Executivo, de resto
direito seu, mas evitando o jogo para os cargos das demais instituições de
estado".
Para ele, sua
consciência funcional é inequívoca "quando não submete a políticas de
governo de interesse partidário as políticas de Estado de interesse público,
como quando se relaciona com instituições como as Forças Armadas, os Tribunais
de Justiça, o Ministério Público, a Receita Federal, o Banco Central e a
Polícia Federal, por exemplo".
Mais recentemente,
Maranhão lembra que a presidente tem feito prevalecer uma política de Estado
também com as instituições de controle e gestão, "e aí é que tem feito
toda a diferença, reconhecida, inclusive, por organismos multilaterais da
área".
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário