O saudoso José Menezes do Rego Lima, Zeca, era um homem bom, digno, inteligente e comunicativo. Ele conheceu duas paixões: o Sport Club do Recife e o Partido Comunista Brasileiro-PCB (ou Partidão). E um amor: a bela Terezinha, com quem teve seis filhos. Zeca nasceu em São Lourenço da Mata, onde o pai trabalhava numa usina. Lá, foi menino feliz e estudou.
Desde essa época, sensibilizara-se com as questões sociais, concluindo que o sonho generoso e libertário do socialismo resolveria tudo em prol da humanidade. E para provar isso aderiu ao Partidão em 1945, aos 17 anos. Funcionário administrativo do Porto do Recife e já casado, na capital pernambucana ele se fez sindicalista e vice-presidente da União dos Portuários do Brasil.
Mas o golpe militar cassou seus direitos políticos e o prendeu. Ao sair da cadeia, foi clandestino para São Paulo e Goiás manter a família trabalhando em posto de combustível e frigorífico - empresas de parentes -, até a anistia. De volta a Pernambuco, ele compôs o comando do PCB, àquela altura uma organização de militância inexpressiva, porém que reunia nas campanhas eleitorais inúmeros simpatizantes, como era o meu caso.
Decerto, o dirigente Zeca não foi um dogmático comissário do povo. Tanto que, pra corrigir o partido - no qual talvez não visse o êxito do Sport ou o prazer da sua vida amorosa -, pedia conselho aos aliados. Melhor: era pela oxigenação da política e da economia nos países socialistas (incluindo a URSS), sendo ele - dos que conheci - o primeiro comuna de carteirinha a falar sobre tais medidas democráticas e inadiáveis.
Mas essa vida aqui sintetizada findaria com uma infecção hospitalar em 1982. Três anos adiante, em Moscou, Mikhail Gorbachev se bateu por reformas de transparência política e reestruturação econômica - grosso modo, a abertura preconizada por Zeca. Só que aí já era tarde e, em 1991, a União Soviética deu com os burros n"água, levando de roldão a quase totalidade dos partidos comunistas. E isso feriu o idealismo moral mundo afora.
No entanto, convenceu-me que o finado sonhador pernambucano foi - e ainda é - um exemplo de humanista em todos os sentidos.
Antonio Falcão é escritor
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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