Oito siglas da base governista rejeitam reforma política valendo para 2014
Deputados contrariam plano da presidente e querem comandar mudança na regra; PT e PC do B são as exceções
Márcio Falcão, Fernanda Odilla
BRASÍLIA- Dos dez principais partidos da base aliada na Câmara, apenas PT e PC do B apoiam a sugestão da presidente Dilma Rousseff de realizar plebiscito para discutir uma reforma no sistema político brasileiro que tenha efeitos nas eleições do ano que vem.
Pressionada, Dilma sugeriu a consulta popular em resposta às manifestações de rua no país e anteontem enviou ao Congresso mensagem propondo que a população seja ouvida sobre cinco pontos.
O plebiscito sugerido pela presidente discutiria mudanças no financiamento de campanhas eleitorais e no sistema de votação, o fim dos suplentes no Senado, do voto secreto no Congresso e das coligações partidárias para eleições de parlamentares.
A proposta de Dilma esbarrou em duas questões principais: nas reações de políticos que entendem que a presidente atropelou o Congresso ao impor pauta de discussão sem consultá-los e no tempo dado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) necessário para elaborar um plebiscito.
"Vamos conversar com o PT para mostrar que não há como realizar plebiscito já. Não há tempo", afirmou o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ).
Principal aliado do Planalto e a segunda maior bancada da Casa, o PMDB faz ressalvas ao projeto do Planalto. Peemedebistas defendem uma reforma política produzida no Congresso, que, depois, seja levada a referendo dos eleitores.
Os deputados aliados, em sua maioria, defendem basicamente dois pontos: que uma reforma política seja elaborada pelo Congresso e submetida a referendo ou plebiscito no ano que vem com efeitos para as eleições de 2016; e que sigam as votações de mudanças pontuais na legislação no próprio Congresso.
"O ideal é um plebiscito junto com a eleição de 2014. Assim se economiza dinheiro e será possível dar aos eleitos atribuição para revisar a Constituição", afirmou o líder do PR, Anthony Garotinho (RJ).
O PR e o PDT defendem o plano da presidente para o plebiscito, mas querem uma consulta sobre a realização ou não da reforma.
Assim, o próximo Congresso funcionaria como constituinte e teria a prerrogativa de formular mudanças no sistema político.
Ontem, o líder do PSD na Câmara, Eduardo Sciarra (PR), levou ao presidente do partido Gilberto Kassab a rejeição à proposta de consulta popular imediata.
O PSD propõe que as mudanças comecem a ser elaboradas pelo Legislativo e, se não avançarem, que ocorra um plebiscito em 2014. "Não queremos assumir um desgaste de que vamos fazer algo que depois não vai sair. Temos que ser cautelosos", disse Sciarra.
PSB e PSC pregam um plebiscito somente nas eleições de 2014. O PSB quer votar imediatamente o fim das coligações e o fim do voto secreto no Congresso.
O PSC já tem pronto um esboço de um projeto de decreto legislativo para a consulta aos eleitores. São dez perguntas, entre elas sobre o financiamento de campanha.
Timing
Para o PT e PC do B, mesmo que as medidas não tenham efeito para a disputa eleitoral de 2014, é importante ouvir a sociedade sobre quais as mais importantes mudanças que seriam necessárias para o sistema político do país.
"A decisão [da bancada] foi, como centralidade, a defesa do plebiscito. Vamos conversar com a sociedade civil e com outras forças políticas na Câmara, para que não prospere o movimento conservador, que defende não sair nada", disse o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE).
Na terça-feira, os líderes da Câmara se reúnem para definir os rumos do plebiscito. Se a proposta não decolar, um grupo de trabalho será criado para em 90 dias propor mudanças no sistema político eleitoral.
Alckmin vê 'confusão e açodamento' em plebiscito
Para tucano, governo erra na resposta à crise
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), criticou ontem a proposta da presidente Dilma Rousseff (PT) de propor um plebiscito para a reforma política.
O tucano disse que as iniciativas para fazer frente à crise provocada pelas manifestações de rua estão sendo propagadas com "açodamento" e de maneira "confusa".
Alckmin, que vinha evitando polemizar sobre o assunto, adotou tom semelhante ao da oposição no Congresso. A nova posição se definiu após uma reunião com líderes do PSDB de São Paulo, inclusive seu antecessor, José Serra, no último domingo, em que o plebiscito foi discutido.
"Há uma questão política que precisa ser enfrentada, mas há a questão da saúde, da mobilidade, da impunidade", disse o governador. "Da forma como está sendo colocado parece que com quatro, cinco perguntas vai se responder tudo", concluiu.
Na última segunda-feira, Dilma fez uma crítica velada ao tucano. Disse que não adotaria medidas demagógicas, como extinção de cargos não ocupados, após Alckmin ter anunciado o corte de 2.000 cargos vagos.
Questionado, o tucano disse que a presidente "certamente" não estava se referindo a São Paulo. "Coloquei claramente que não vamos inventar dinheiro. Quando ninguém diz o que vai cortar, pode escrever: vai diminuir investimento. E tudo o que o Brasil não pode ter é redução do investimento."
Fonte: Folha de S. Paulo
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