Por Fernando Exman
BRASÍLIA - O governo Dilma Rousseff está ciente das movimentações de grupos de jovens e evangélicos para a organização de manifestações durante a Jornada Mundial da Juventude e quer evitar que ocorra um novo desgaste político entre o Executivo e a Igreja, num momento em que era esperada uma reaproximação entre o governo Dilma e o Vaticano.
A Jornada Mundial da Juventude, evento organizado pela Igreja Católica que pode mobilizar cerca de 3 milhões de jovens e peregrinos, está agendada para os dias 23 a 28 de julho, no Rio de Janeiro. Representantes do Palácio do Planalto já alertaram aos seus interlocutores que o evento poderá acontecer em meio a manifestações, mas que não aceitará a ocorrência de episódios violentos. O governo federal está em contato permanente com o governo fluminense e a Prefeitura do Rio de Janeiro. A segurança do evento contará com o apoio das Forças Armadas e demais tropas federais.
Autoridades do governo e do PT acreditam que a Igreja sob o papado de Bento XVI teve um comportamento inadequado na eleição de 2010, quando às vésperas do segundo turno de um pleito repleto de debates de ordem moral o papa criticou projetos políticos favoráveis à legalização do aborto e pediu que os líderes religiosos orientassem os eleitores. Com a eleição de um novo papa que colocou no centro de sua agenda a área social e o combate à fome e à pobreza, temas caros à administração federal, a expectativa de auxiliares da presidente Dilma Rousseff é de que esse mal-estar passe de vez.
Além de manifestações semelhantes às que ocorreram nas últimas semanas em que setores da sociedade aproveitaram a Copa das Confederações para pedir melhores serviços, há a possibilidade de grupos evangélicos protestarem contra os gastos públicos na organização da visita do papa. Em resposta, integrantes da Igreja argumentam que não se pode esquecer que o papa Francisco é um chefe de Estado e o evento demanda um esquema especial de segurança e logística. Segundo informações publicadas recentemente pela imprensa, o papa citará a onda de protestos em seu discurso no Rio por considerar que as reivindicações por maior justiça não contradizem o Evangelho.
A missa de abertura da Jornada Mundial da Juventude acontecerá no dia 23, na Praia de Copacabana. Ela será celebrada pelo arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta. O papa Francisco participará de cerimônias nos dias seguintes na Praia de Copacabana e em Guaratiba.
O papa Francisco também pretende visitar uma comunidade carente na Zona Norte da cidade e um hospital e centro de recuperação de dependência química. Ele deve receber jovens detentos e ir ao Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, no interior paulista.
Por ora, está previsto que a presidente receba o papa no aeroporto e tenha em seguida uma reunião bilateral com o pontífice. A presidente também deve acompanhá-lo na visita ao centro de saúde, que recebe recursos do governo federal. Ainda não está fechada a participação de Dilma em algum ato religioso ou na despedida do papa Francisco.
O chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, é um dos principais interlocutores do governo com a Igreja e outras lideranças religiosas e movimentos sociais. Além da ponte feita pela Secretaria-Geral da Presidência, a organização da Jornada Mundial da Juventude conta no governo com o apoio de uma comissão especial composta por representantes da Casa Civil, Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Secretaria de Aviação Civil e dos ministérios das Relações Exteriores, Justiça, Defesa, Fazenda, Comunicações e Turismo.
A última Jornada Mundial da Juventude foi promovida em 2011 em Madri, na Espanha, e contou com aproximadamente 2 milhões de participantes. A anterior reuniu menos fiéis, em 2008, na Austrália. A jornada foi criada pelo papa João Paulo II em 1985 e ocorre anualmente em âmbito diocesano. A cada dois ou três anos, porém, são realizados grandes eventos internacionais.
Fonte: Valor Econômico
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