O veto à Rede pelo TSE e uma noite em claro não foram suficientes para a ex-ministra Marina Silva decidir seu futuro: ela só vai anunciar hoje, último dia do prazo para filiações, se vai ou não para outro partido a fim de disputar a eleição de 2014. Divididos, seus aliados já se filiam a outras legendas. O deputado Alfredo Sirkis (RI) expôs a crise: disse que Marina falhou como operadora política e que ela tem um processo de decisão caótico. Entre as sete siglas que ofereceram abrigo a Marina, PPS e PEN se destacam, mas o primeiro apoiou o Código Florestal criticado pela ex-ministra. Petistas comemoraram a derrota da Rede.
Indecisão e debandada
Marina adia para hoje anúncio sobre candidatura à Presidência, e aliados vão para outras siglas
Paulo Celso Pereira, Fernanda Krakovics e Isabel Braga
BRASÍLIA- A principal dúvida da disputa eleitoral de 2014 continua em vigor. Apesar de ter afirmado que anunciaria ontem se seria ou não candidata à Presidência da República, a ex-senadora Marina Silva adiou a decisão para hoje, último dia possível para candidatos às próximas eleições se filiarem a algum partido político. Cortejada por várias legendas e detentora da segunda posição em todas as pesquisas de intenção de voto, Marina passou a madrugada de quinta-feira e a manhã e tarde de ontem ouvindo aliados. Seus apoiadores estão divididos entre a hipótese de Marina manter-se apegada integralmente aos princípios defendidos por sua Rede Sustentabilidade — e não ser candidata — ou se filiar a uma das siglas existentes para poder ter chance de pôr em prática suas aspirações. Os deputados que a acompanhavam, no entanto, anunciaram ontem que disputarão as eleições por outros partidos.
— Há um momento que é de reflexão. Ontem (quinta-feira), fizemos uma conversa com militantes e dirigentes até o amanhecer. Hoje (ontem), houve uma série de conversas, que continuam para que tenhamos um posicionamento que seja compatível e inteiramente coerente. Um dos nossos maiores objetivos é pensar em como contribuir para que se tenha um projeto de país onde o desenvolvimento sustentável em todas as suas dimensões possa ser efetivado. E é isso que está em questão neste momento. Exatamente porque é sério, eu ainda tenho uma longa noite e um dia. Estou no processo decisório — justificou a ex-senadora, dizendo estar passando por um dos três maiores desafios de sua vida: — Eu não acho que eu seja a única pessoa que pode dar essa contribuição para acabar com a lógica da oposição pela oposição e da situação pela situação.
Existe hoje uma divisão ciara entre os aliados de Marina. Segundo um integrante da direção da Rede, na reunião que varou a madrugada de sexta-feira, havia uma ligeira maioria em defesa da candidatura presidencial e da consequente filiação a um novo partido. Já nos encontros de ontem de manhã, que envolveram cerca de 60 pessoas em uma videoconferência, e de tarde, apenas com a executiva da Rede, passou a ser ligeiramente majoritária a posição em defesa de que a ex-senadora continue construindo seu próprio partido sem disputar a eleição de 2014.
Temor sobre outros partidos
Apesar de ao menos sete partidos terem oferecido espaço à ex-senadora, as conversas giram principalmente em torno de duas siglas: o PPS ou o PEN. Há, no entanto, muito temor em relação a ambas as hipóteses. No caso do PPS, principalmente pelo fato de sua bancada ter votado majoritariamente a favor do Gódigo Florestal; e no do PEN, em função de seus dirigentes serem figuras cujo passado é uma incógnita. O desafio de manter a coerência entre a migração para um partido já existente e o discurso de promoção de uma "nova política" é um dos aspectos fundamentais da decisão de hoje.
— Esse é o manejo que estamos fazendo: como manter os princípios e a coerência e, ao mesmo tempo, darmos uma contribuição ao Brasil. O que pesa mais para a tomada de posição tem a ver com a escolha do que mais contribui para este Brasil que queremos — afirmou.
A implosão da Rede dividiu os deputados federais que acompanhavam Marina. Tirando Walter Feldman (sem partido-SP), que não pretende disputar as próximas eleições, todos abriram ontem negociações para se filiar a partidos políticos sem esperar a decisão da ex-senadora. Do grupo mais próximo de Marina, o deputado Alfredo Sirkis (ex-PV-RJ) culpou a ex-senadora pessoalmente pelo fracasso na criação da Rede. Retaliado pelo PV, que não lhe daria legenda para disputar as eleições do ano que vem, Sirkis se desfílióú ontem do partido e está negociando com o PPS e com o PSB. Questionado se não seria uma contradição ingressar no PPS, já que o partido votou contra o Código Florestal, Sirkis disse que é um preço a se pagar:
— Qualquer partido vai ter problema. Essa situação de a Rede não ter sido legalizada é um preço político a pagar.
Detentor da maior eleição proporcional em 2010 para a Câmara, Reguffe (PDT) foi o único a se manter em seu atual partido. O deputado Miro Teixeira (RJ), que também era do PDT, anunciou sua saída para o recém-criado PROS. Domingos Dutra (MA) também escolheu uma nova legenda, o Solidariedade. Sua principal preocupação era ir para um partido que não fizesse aliança com a família Sarney.
— Optei pelo Solidariedade porque o Paulinho (Pereira da Silva) aceitou minha agenda de luta pelos movimentos sociais. E não serei obrigado a fazer oposição cerrada à (presidente) Dilma. Não posso negar minha história no PT. Infelizmente, como Sarney se amigou com Lula, sou obrigado a interromper 33 anos de luta no PT.
Fonte: O Globo
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