• Conforme reportagem do 'Estadão' publicada neste sábado, ex-presidente e ex-diretor da Petrobrás se reuniram antes da compra de Pasadena
Fábio Fabrini - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A oposição na CPI da Petrobrás vai cobrar explicações ao Planalto e à estatal sobre reunião, em 2006, do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ex-diretor de Abastecimento da companhia Paulo Roberto Costa, ocorrida a um mês de a controversa compra da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), ser autorizada.
Conforme reportagem de O Estado, publicada neste sábado, a agenda consta de um relatório da Petrobrás, intitulado "Viagens Pasadena", no qual a companhia lista deslocamentos feitos por funcionários e executivos, no Brasil e no exterior, em missões relacionadas ao negócio, considerado um dos piores já feitos pela estatal.
Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) diz que a aquisição, feita em duas etapas, entre 2006 e 2012, deu prejuízo de US$ 792 milhões aos cofres públicos. A presidente Dilma Rousseff, que em 2006 era ministra da Casa Civil de Lula, deu aval, como então presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, à compra dos primeiros 50% da refinaria. O ex-presidente, contudo, nunca admitiu publicamente participação nas tratativas para o negócio.
O relatório de viagens relacionadas a Pasadena registra uma visita de Paulo Roberto a Brasília para "reunião com o presidente Lula" em 31 de janeiro daquele ano, no Palácio do Planalto. Foi exatos 31 dias antes de o Conselho de Administração, sob o comando de Dilma, autorizar a aquisição de metade dos ativos.
O deputado Antônio Imbassahy (PSDB-BA), vice-presidente da CPI da Petrobrás na Câmara, disse neste sábado que seu partido apresentará requerimentos para que a Presidência da República e a Petrobrás detalhem o que foi tratado no encontro. Para ele, Lula pode ter alguma responsabilidade no negócio, o que, por ora, não está esclarecido. "Ele (o então presidente), no mínimo, é informado. A decisão de comprar uma refinaria no exterior não é tomada somente pela Petrobrás", afirma o deputado.
Imbassahy disse ser estranho Lula não explicar qual foi a pauta do encontro. A conversa foi inscrita na agenda do então presidente, divulgada à época pelo Planalto, apenas como "Reunião Petrobrás" e sem a descrição dos presentes. Questionado pelo Estado, o petista sustentou, por meio de sua assessoria, que o encontro "com a Petrobrás" foi "há mais de nove anos" e "não tratou de Pasadena". Porém, não quis detalhar o que, afinal, foi discutido.
Lula sustentou ainda, por meio de sua assessoria, que nunca teve uma conversa "particular" com Paulo Roberto e que, na ocasião, estava presente o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli. Gabrieli, no entanto, alegou não se recordar da reunião. "Duvido que isso tenha acontecido isso", declarou.
A deputada Eliziane Gama (PPS-MA), integrante da CPI, afirma que os dados do relatório reforçam a necessidade de convocar Lula para dar explicações à comissão. Ela diz ser "indigesta" a explicação de que o então presidente não teve nenhuma participação no negócio de Pasadena.
O PPS já apresentou requerimento para convocar Lula, ainda não votado. A aprovação, no entanto, esbarra na resistência dos partidos governistas, principalmente PT e PMDB, que têm maioria na comissão e quadros importantes sendo investigados na Operação Lava Jato. "A CPI não vai convocar políticos, e isso é sério e grave. Parece que há um acordão", critica a congressista.
O relatório da Petrobrás foi produzido para embasar as investigações da comissão interna que apurou irregularidades na compra de Pasadena. Além da viagem de Paulo Roberto, registra outros 209 deslocamentos de executivos e funcionários ligados à aquisição e à gestão da refinaria americana, entre março de 2005 e fevereiro de 2009.
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