• Juiz da Operação Lava Jato deu mais 15 dias para Polícia Federal investigar empresa de ex-ministro petista
Mateus Coutinho Julia Affonso Ricardo Brandt Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo
O juiz federal Sérgio Moro já vê provas de crime de lavagem de dinheiro e também indícios de autoria do ex-ministro Antonio Palocci, preso preventivamente pela Operação Lava Jato. Ele deu mais 15 dias para a Polícia Federal investigar a Projeto, empresa de consultoria do ex-titular da Fazenda e da Casa Civil nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, respectivamente. A Lava Jato suspeita de que a empresa foi usada para lavar dinheiro de propina que Palocci teria recebido da Odebrecht para favorecer a empreiteira nas gestões petistas.
Em despacho de anteontem, o juiz de Curitiba entendeu que o grande volume de documentos apreendidos pela PF na Operação Omertà, deflagrada no dia 26 do mês passado, demanda mais tempo para ser analisado. “Apesar das provas já referidas na decisão em questão, apontando provas de materialidade de crimes e indícios de autoria em relação ao investigado, afigura-se salutar conceder mais tempo à Polícia Federal para melhor análise do material apreendido”, escreveu Moro.
Palocci também é alvo de investigações em pelo menos outras três frentes da Lava Jato, sendo dois inquéritos em Curitiba e um no Supremo Tribunal Federal, que apura seu envolvimento e de outras dezenas de políticos por suspeita de quadrilha no esquema de corrupção na Petrobrás. Esta última investigação faz parte do principal inquérito da Lava Jato no STF, que foi fatiado semana passada pelo ministro Teori Zavascki.
Nele, Palocci é investigado com outros 11 petistas, incluindo o ex-presidente Lula. Além deles, o Supremo analisa, em outras frentes, os políticos do PP e do PMDB que teriam participado do esquema de loteamento político na Petrobrás por partidos da base aliada dos governos do PT entre 2003 e 2014.
Um dos ministros mais poderosos dos governos petistas, ao lado de José Dirceu – preso desde agosto de 2015 e já condenado na Lava Jato –, Palocci foi preso temporariamente na Operação Omertà, sob suspeita de ser o elo da Odebrecht com o PT, tendo atuado supostamente para favorecer a empreiteira em troca de dinheiro para ele para o partido – o que é rechaçado pela defesa do ex-ministro.
A suspeita é de que a Odebrecht teria repassado ao ex-ministro e ao PT R$ 128 milhões e, por isso, o juiz da Lava Jato determinou o bloqueio de bens de todos os investigados neste valor. O sequestro alcançou a Projeto, que teve R$ 30 milhões congelados. Na semana passada, a defesa do ex-ministro pediu a liberação de R$ 79,3 mil das contas da empresa, referentes ao pagamento de despesas como impostos, salários e vale-transporte para os funcionários. Moro ainda não decidiu sobre o caso.
Consultoria. Não é a primeira vez que a Lava Jato chega a empresas de consultoria de políticos suspeitas de serem usadas para lavar dinheiro. Em maio, o ex-ministro José Dirceu foi condenado na Lava Jato por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no esquema na Petrobrás.
Uma das formas pela quais Dirceu, que foi o responsável pela indicação de Renato Duque à Diretoria de Serviços da estatal, recebia propina do esquema era também por meio de sua empresa de consultoria, a JD Assessoria. O lobista e delator Milton Pascowitch, preso em maio de 2015, admitiu que fez contrato de fachada com a JD para justificar repasses ao ex-ministro.
Defesa. O criminalista José Roberto Batochio, que defende Palocci, disse que o ex-ministro não recebeu valores ilícitos. Ele contestou a interpretação de que o juiz aponta, em despacho, a existência de “materialidade e indícios de autoria”.
“Não entendo que ele (juiz Sérgio Moro) tenha declarado isso, seria um prejulgamento. Acho que essa interpretação está equivocada. O que o juiz quer dizer é que prorrogou o prazo do inquérito porque a polícia está investigando. O que ele quer dizer é que o inquérito está dentro dos parâmetros. Não significa antecipação de conclusão”, afirmou Batochio.
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