Pesquisa divulgada pelo Ibope mostra que 73% desaprovam flexibilização do acesso ao porte
Está cada vez mais evidente que o governo caminha na contramão da opinião pública ao flexibilizar a posse e o porte de armas de fogo. Como mostrou reportagem do GLOBO, pesquisa Ibope revelou que 61% dos entrevistados são contrários à facilitação para que cidadãos tenham armas em casa ou no trabalho, medida que é aprovada por apenas 37%. Já em relação ao porte, a rejeição é ainda maior: 73%, e somente 26% são favoráveis.
A pesquisa foi realizada entre 16 e 19 de março, antes de serem publicados os decretos do presidente Jair Bolsonaro que flexibilizam o porte de armas, uma de suas promessas de campanha. O primeiro deles, editado em 7 de maio, gerou amplo debate na sociedade. Entre inúmeros equívocos, estava o de permitir a compra de fuzis por cidadãos comuns, como revelado pelo “Jornal Nacional”, da Rede Globo. A repercussão negativa fez com que o governo recuasse e apresentasse, no dia 21, uma nova versão, desta vez sem o salvo-conduto para os fuzis. No entanto, na essência, a insensatez prevalece, à medida que, de maneira geral, o texto facilita o acesso ao porte, contrariando o Estatuto do Desarmamento, aprovado pelo Congresso e sancionado em 2003.
De acordo com a pesquisa Ibope, a rejeição às armas se mostra mais alta entre municípios das regiões metropolitanas, onde sete em cada dez pessoas se disseram contrárias à flexibilização. Esse aspecto chama a atenção porque essas cidades costumam ser mais impactadas pela violência, registrando altas taxas de homicídios. Nas capitais e no interior, a desaprovação é um pouco menor: 62% e 58% respectivamente.
Da mesma forma, moradores do Sudeste (76%) e do Nordeste (73%), regiões que sofrem “epidemias” de violência, são os que mais rejeitam a flexibilização do porte de armas —no Sul são 71% e, no Centro-Oeste, 65%.
Essa rejeição à facilitação do acesso às armas já fora captada por outros levantamentos. Pesquisa Datafolha divulgada em 11 de abril mostrou que 64% dos entrevistados concordavam em que a posse de armas de fogo deveria ser proibida, por representar ameaça à vida de outras pessoas. Apenas 34% disseram que deveria ser um direito do cidadão para se defender. As entrevistas foram feitas em 2 e 3 de abril, após decreto de Bolsonaro que flexibilizou a posse de armas em janeiro.
O que esses levantamentos mostram é que, num país em que os homicídios passam de 50 mil por ano —números de guerra —, as pessoas não querem mais armas. Elas sabem que isso significará mais chacinas, assassinatos, balas perdidas. Nesse sentido, as pesquisas não poderiam ser mais eloquentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário