quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Após protestos e críticas, presidente pede desculpas aos chilenos em rede nacional

Presidente Piñera pede perdão na TV por ‘falta de visão’ sobre gravidade dos problemas que levaram à onda de protestos e anuncia pacote de medidas; oposição e órgão de direitos humanos denunciam abusos por parte das forças de segurança

Janaína Figueiredo |- O Globo

BUENOS AIRES - As imagens da repressão das Forças Armadas chilenas contra manifestantes que estão nas ruas de todo o país protestando contra o governo do presidente Sebastián Piñera estão provocando impacto dentro eforado Chile e levando importantes dirigentes da oposição afalarem em “ações típicas de uma ditadura”. Essa foi a expressão usada pelo presidente do Senado, Jaime Quintana, do Partido pela Democracia (PPD), e pelo senador Jaime Naranjo, do Partido Socialista (PS), presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, em entrevista ao GLOBO.

Ambos questionaram a violência dos militares e a falta de informação oficial sobre os mortos, detidos e feridos.

— Em matéria de direitos humanos, o que estamos vendo no Chile é similar, típico de uma ditadura — denunciou Quintana, que domingo passado foi convocado pelo presidente para discutira crise.

123 FERIDOS A BALA
O PPD participou de um encontro com o chefe de Estado ontem, no Palácio de la Moneda. Já o PS e a esquerdista Frente Ampla se negaram a ir, alegando que o âmbito para um debate sobre saídas para a crise é o Parlamento e, também, que não estão dispostos a dialogar com um governo que, segundo eles, está violando os direitos humanos.

O número de mortos nos protestos desde a semana passadasubi upara 15, dos quais 11 na região metropolitana de Santiago, informou o subsecretário de Interior, Rodrigo Ubilla. Enquanto isso, o Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH), entidade pública independente, informou que 123 pessoas foram feridas por armas de fogo, muitas no olho, e cobrou das autoridades o esclarecimento dos casos, além de denunciar episódios de tortura e detenções ilegais.

A organização também denunciou a prisão de 1.601 pessoas nas manifestações.

Dos 15 mortos, apenas sete foram identificados até agora, e, segundo o Ministério Público, quatro destes foram atingidos a tiros pelas forças de segurança. Os mortos incluem um equatoriano e um peruano. Em entrevista coletiva, o general Javier Iturr iaga, responsável pela implementação do estado de emergência decretado no sábado pelo presidente, foi questionado sobre vídeos que mostram excessos dos militares e da polícia na repressão aos protestos.

— Estamos investigando todas essas situações. Não vamos esconder nada — respondeu Iturriaga.

Segundo o ministro Ubilla, todas as mortes na capital e no entorno estão associadas a saques e incêndios de estabelecimentos comerciais. Fora da capital, ele reconheceu que um morto foi atropelado por uma viatura militar. Somente ontem, porém, os nomes de 7 dos 15 mortos — com idades entre 23 e 47 anos — foram revelados pelo Ministério Público.

A oposição está dividida em relação ao apoio a Piñera agora, mas coincide em fazer um alerta sobre a repressão.

E quase todos os partidos opositores já falam em “metodologias ditatoriais”. Em estado de emergência, Santiago e arredores também estão sob toque de recolher.

— Vemos por parte do governo uma manobra que busca dividir a oposição. Se querem nos ouvir, que ouçam todos... e no Parlamento. As organizações sociais também devem ser incluídas — enfatizou o presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado.

Os partidos que participaram da reunião ontem foram o PPD, a Democracia Cristã e o Partido Radical.

À noite, em uma ação para tentar conter os protestos, Piñera anunciou na TV um pacote de medidas e pediu perdão pelos problemas que provocaram as manifestações.

—É verdade que os problemas se acumulavam há décadas, e que os vários governos não foram, nem nós fomos, capazes de reconhecer essa situação em toda sua magnitude. Reconheço e peço perdão por essa falta de visão.

AGENDA SOCIAL
Piñera também explicou as medidas que pretende adotar para fazer frente às demandas populares, chamadas de Agenda Social. A principal delas estabelece mudanças no sistema de pensões e pagamentos de benefícios sociais, que serão reajustados em 20%. Outro ponto é a criação de um teto de gastos familiares com saúde — se o valor ultrapassar esse teto, os custos serão assumidos por um seguro público.

Também foram anunciadas medidas para elevar o piso salarial, com complementação do governo quando for necessário, ações de controle das tarifas de eletricidade, um imposto adicional sobre salários acima de 8 milhões de pesos (R$ 44.967,60 ) e a redução dos salários de parlamentares e funcionários da administração pública.

As medidas precisam ser aprovadas pelo Congresso.

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