- Folha de S. Paulo
Filhocracia manipula governo e esquema de difamação, dizem ex-líderes bolsonaristas
A filhocracia bolsonariana comanda ou é a frente visível de um mecanismo digital de difamação e propaganda. É o que diz a ex-líder do governo Jair Bolsonaro no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), estrela midiática da primeira onda do bolsonarismo, deposta pelo presidente da República.
A filhocracia bolsonariana comanda ou é a face visível do governo, pois Bolsonaro seria apenas uma marionete de Flavio 01, Carlos 02 e Eduardo 03. É o que diz o ex-líder da bancada do PSL na Câmara, o deputado Delegado Waldir, expoente da bancada da bala, umas das correntes principais do bolsonarismo “raiz”, também deposto pelo presidente.
Uns dois ou três deputados do PSL envolvidos na turumbamba vulgaríssima do partido dizem, de modo mais ou menos vulgar, que podem “implodir” o presidente ou “ferrar”, digamos assim, a bancada governista e muito mais no Congresso.
Nada disso é grande novidade, nem as acusações, nem as suspeitas, nem as vulgaridades oligofrênicas.
Nada disso talvez dê em grande coisa, não pelos riscos evidentes do furdunço de gente que não tem escrúpulos a ponto de ameaçar até a autopreservação. Há tantas pontas soltas que uma delas pode de fato desatar o último nó que prende escândalos do bolsonarismo ou do pesselismo.
Mas nada disso parece se articular com o resto do governo do país, no sentido mais genérico do termo —até que estoure um escândalo, claro, sempre se ressalte.
Mudanças legislativas fundamentais continuam a passar no Congresso Nacional. Goste-se ou não de reformas, a essência de relações trabalhistas, sociais, a capacidade de poupança do país, a regulação de setores centrais da economia das empresas, o padrão de gasto público, a redistribuição de renda, tudo vai sendo alterado desde o governo de Michel Temer.
Esse programa reformista nada tem a ver com as ideias de quem ocupa o centro do Poder Executivo. Ao contrário, na verdade.
Para os políticos que depuseram Dilma Rousseff, MDBs, centrões, fisiologismos e corporativismos regionais entre eles, a “Ponte para o Futuro”, o programa liberal do partido do impeachment, não era muito mais do que um pretexto, beletrismo econômico. Note-se, de passagem, que a ficha corrida do grupo de Temer acabara por derrubar a “Ponte”, em especial no Joesley Day.
Bolsonaro e sua parca turma não têm ideia do que propõe Paulo Guedes. O programa ultraliberal era, como se sabe, um pretexto, uma carta de recomendação para o bolsonarismo se apresentar à elite econômica. A vida inteira, Bolsonaro jamais foi mais do que um sindicalista das corporações armadas e um admirador de um estatismo ferrabrás das cavernas, subgeiseliano.
Claro que a eleição do presidente representou muito mais do que Jair Bolsonaro tinha ou não na cabeça, como costuma acontecer: as novas classes do empreendedorismo pop-periférico e suburbano, os evangélicos, o Brasil que cresceu e enriqueceu no entorno do sucesso agropecuário, os direitistas abafados faz décadas. Etc.
Mas o núcleo e a vontade de poder bolsonarista nada têm a ver com a reforma liberal, assim como seu grupo parece indiferente à ameaça que o sururu representa para a reforma liberal —o bolsonarismo é guerra cultural de extrema direita e autoritarismo político.
Conviria às oposições e aos críticos em geral de Bolsonaro, do governo e do programa liberal do “bloco no poder” se perguntasse quem de fato governa o país desde 2016.
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