terça-feira, 27 de setembro de 2022

Carlos Andreazza - Voto útil e cheque em branco

O Globo

'O problema de dar cheque em branco com lastro em conquistas de 20 anos atrás é que aquele Brasil, aquele mundo, não existe mais'

Não há qualquer problema no voto útil em primeiro turno. Se um candidato avalia estar perto de vencer já, por que não pedir o voto de quem pretenderia votar em outro? É do jogo. Se o eleitor, provocado a mudar de posição, refletir sobre o movimento e decidir deixar o candidato com que mais se identifica, terá sido por meio de exercício político que só reforçaria a fibra democrática.

Perde-se tempo com bobagem. Trabalhar por voto útil é tão legítimo quanto ficarem aborrecidos os candidatos cujos votos intencionados se tenta levar. Ninguém é dono de eleitor. E, até o encontro com a urna, não existirá voto. Só intenção. E disputa.

O problema não está em pedir. Mas em pedir voto útil e cheque em branco.

Quem pede voto útil deveria apresentar formas de convencimento que não somente ser a alternativa ao cramulhão. Pode chocar, mas isso não bastará a muitos. São poucos os que elaboram o voto nos termos ideais da militância lulopetista; o que justificaria, porque contra o fascismo, um passe livre.

Há quem simplesmente esteja cansado de Bolsonaro e à procura de alguma previsibilidade. É sentimento mais frequente do que supõe o militante cuja atividade se orienta em criminalizar o voto não puro — aquele não dado sob adesão absoluta. O indivíduo exausto de Bolsonaro, que poderia votar em Lula, poderá votar em Lula mesmo desconfiando — não gostando mesmo — de Lula.

Essa será a própria definição de voto útil. Tê-lo dependeria de explorar o principal elemento competitivo de Lula em 2022, por oposição a Bolsonaro: a perspectiva de estabilidade. Exploração cujo máximo aproveitamento derivará de informar o que fará com a economia de um Brasil depauperado. Qual o plano? Não é favor apresentá-lo. Tampouco será tarde. Seria inteligente fazê-lo, se para catar voto hoje tendente a Ciro Gomes ou Simone Tebet.

Lula tem a seu favor, insisto, o panorama da estabilidade. Nisso a memória — até a negativa — do período em que governou lhe serve com propriedade. Foi governo previsível. Para o bem e para o mal. Donde seja possível prever os erros que cometeria caso presidente mais uma vez. No país de Bolsonaro, isso é um ativo.

Falar que acabará com o teto de gastos cultiva somente os já tidos. Não há mais teto de gastos. Lula estaria reivindicando para si ação que Bolsonaro já tomou. Para muitos, voto útil em Lula se tornaria palatável a partir de o candidato dizer o que colocará no lugar. Se deixa margem para que se pense que o fim do teto de gastos significará um tempo de gastos sem limite, enfraquece a campanha pelo voto do cidadão que sente falta do governo Temer.

Isso não é preocupação de minoria partidonovista. Numa saudosa era de saúde republicana, o Brasil elegeu presidente um não carismático associado à responsabilidade fiscal. O valor de poder se planejar sob governo previsível ainda compõe a formação do voto.

É legítimo achar que Simone ou Ciro são melhores, como legítimo será deixar de votar no que se considera melhor por uma causa objetiva. Partamos da ideia de que as pessoas sejam suficientemente maduras para fazer escolhas. Vota-se contra Bolsonaro sobretudo por um sentimento difuso de cansaço, por um desejo de equilíbrio; não porque seja um golpista.

O exausto quer poder levar a vida sem a insegurança do conflito permanente. Entende que a instabilidade gerada pelo próprio presidente lhe atrapalha a vida. O cansado quer um programa. Hoje. Para amanhã.

O problema de dar cheque em branco — na onda de voto útil contra o monstro — com lastro em conquistas de 20 anos atrás é que aquele Brasil, aquele mundo, não existe mais; e aquelas conquistas, na hipótese de o eleitor considerar o período lulista exitoso, não impediram que desaguássemos no governo Dilma. E que se note: nem cuidei de corrupção.

A ideia de que “farei o certo porque já fiz no passado” carrega muitas deficiências. E riscos; o risco arrogante de presumir que o eleitor de quem se quer voto útil tenha boa lembrança daqueles anos a ponto de lhe bastar para um voto antecipado. O sujeito que não tem os governos Lula na melhor conta, ainda assim, poderá votar nele agora. Mas não com carta branca ou com base em perigos à democracia.

Causa apreensão imaginar que um candidato creia que o que fez em 2003 bastaria para 2023. Preocupa que Lula acredite na mentira da herança maldita, aquela legada por FH, e avalie que pegará um país em condições parecidas. Aquilo era o paraíso. O inferno virá com a explosão da bomba que Bolsonaro arma para seu sucessor. Qual o plano?

Torna íngreme a ladeira supor que se possa colher votos para vencer em primeiro turno explicando “como as democracias morrem”. Não se trata de questionar a projeção. A História a valida. Mas de perguntar: a quantos, entre os não tocados, isso toca?

 

23 comentários:

marcelo de souza martins disse...

FHC foi eleito duas vezes em primeiro turno. iNCONTESTÁVEL. Mas, não vi você nem Merval falar em cheque branco.Respeite a vontade popular.

Anônimo disse...

"Foi governo (de Lula) previsível. Para o bem e para o mal. Donde seja possível prever os erros que cometeria caso presidente mais uma vez. No país de Bolsonaro, isso é um ativo."
Mas tb prever os acertos. E LULA está muito mais experiente agora.
Por exemplo: sofreu golpe e ficou injustamente preso. O q Lula aprendeu com isso? Aprendeu q o poder não admite vácuo o q nos leva ao MPF - indicar o primeirão da lista NÃO É CERTO POIS LEVA A PRISÃO DE INOCENTES E GOLPES EM ELEITOS.
Q fazer? Não se comprometer em indicar os primeirões mas, sim, gente comprometida com a CF. Perceba q isso não é cheque em branco mas uma REAL NECESSIDADE.
Mas fica um desafio pro autor: como, tendo sido o presidente q mais permitiu investigações e liberdade das instituições, Lula pode evitar ser novamente golpeado?

EM TEMPO: VOTO ÚTIL PRA TIRAR O INÚTIL!

Anônimo disse...

"O problema de dar cheque em branco com lastro em conquistas de 20 anos atrás é que aquele Brasil, aquele mundo, não existe mais", diz o autor. Verdade. O Brasil está desenganado e fora da UTI (a UTI é o governo Lula, q o salvará) mas, perceba q Lula está muito mais experiente do q antes e trará conquistas ainda melhores.
Lula lá!

Anônimo disse...

Eu não voto em Bolsonaro e contra a minha vontade ia votar no Lula, mas a agressividade dos petistas e a insistência de alguns pelo voto útil no Lula para vitória no primeiro turno me irritou, uma que não confio nele de maneira alguma outra que o voto é meu e eu não sou voto de cabresto. Tenho princípios também e algumas pessoas estão sendo mal educadas querendo forçar a barra, chega !


Anônimo disse...

Votarei em Lula sem qualquer dúvida, mas acho que o colunista tem razão na sua análise. Suponho que Lula esteja mais experiente e possa ser um presidente melhor, mas as garantias disto são limitadas, especialmente por ele manter próximos os líderes petistas e emedebistas que o ajudaram nos seus governos corruptos (como afirma corretamente o Ciro). Mas qualquer coisa é melhor que Bolsonaro...

Fernando Carvalho disse...

"Cheque em branco" tem cheiro de bolsonarismo envergonhado.

Anônimo disse...

Não vota no bozo e não votará mais no Lula. Seu direito.
O Brasil num momento da maior importância, numa bifurcação entre o fascismo e a democracia, o sr. tem o direito de ficar em cima do muro como um tucano emplumado - fhc quase fez isso, inclinando uma asa pro Lula com o resto do corpo acocorado no muro.
Mas a OMISSÃO tb tem custo, assim como optar - todos pagamos.
Ah, os demais candidatos mantêm a omissão posto q inviáveis.

Anônimo disse...

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

Anônimo disse...

É cada coisa que a gente lê, Lula arranjou excelentes advogados.

Anônimo disse...

O Brasil sempre insoneiro. Lula foi feito para o Brasil e os brasileiros e, os brasileiros foram feitos para o Lula. Não resta a menor dúvida, eu não voto bozo.

Anônimo disse...

O mal do petismo e que não gostam do trabalho e nenhum país vai para frente sem trabalho.

Anônimo disse...

Vai trabalhar vagabundo.

Anônimo disse...

É olhar o horário que posta seus comentários. Nunca gostaram do trabalho e gosta da vida de parasitas.

Anônimo disse...

Kkkkkk, boa piada esta.
Inda mais vindo de postagem às 16:40.
Hilário! Kkkkkkk

Anônimo disse...

Sentiu. Kkkkkk

Anônimo disse...

Usineiro.

Anônimo disse...

IZoneiro

Anônimo disse...

Já pensou que eu possa estar em um fuso horário? Pois é.

Anônimo disse...

Inzoneiro

Anônimo disse...

Tem gente que acha que rato é vertebrado nesse blog.

Anônimo disse...

Não pensei no fuso. Pensei q fosse piada. Uma estupidez daquela sobre trabalho só pode vir de comediante.

marcos disse...

marcelo de souza martins é burro.

MAM

Anônimo disse...

O mal do bolsonarismo é que mata muita gente: o genocida estimulou a morte de 400 mil brasileiros, que estariam vivos num país com governo decente, com um presidente que confiasse minimamente na Ciência. O imbecil é arrogante e violento, acha que sabe tudo mas é totalmente incompetente! Só é bom nas rachadinhas familiares que o enriqueceram e em mentir o tempo todo!