terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Joel Pinheiro da Fonseca - Nova indústria com plano velho?

Folha de S. Paulo

'Nova Indústria Brasil' ameaça repetir os fracassos de Dilma, Lula e Geisel

Com o governo indo atrás de toda exceçãozinha tributária que ele possa cortar para arrecadar um pouquinho mais, seria de se esperar que, na hora de investir o dinheiro, ele usasse do mesmo rigor, sendo impiedoso com gastos ineficientes, certo? Certo??

Infelizmente, parece que com o "Nova indústria Brasil" o governo vai investir muito (R$ 300 bi) com o que já deu errado. Exigência de conteúdo nacional, crédito subsidiado e compras do governo.

Não é preciso ser um fundamentalista de mercado para ver o problema aí. Afinal, o Estado tem um papel no crescimento econômico. A Coreia do Sul não chegou aonde chegou sem papel ativo do governo. Mas tão importante quanto os casos de sucesso, é lembrar quando a política industrial fracassou, como no Brasil. DilmaLula, Geisel; a política industrial brasileira já torrou muito dinheiro e empobreceu muita gente.

Um fato que me chama a atenção: nossos projetos de industrialização são sempre pensados da fronteira para dentro. Saúde, defesa, agro: no Nova Indústria Brasil, em todos eles o objetivo é reduzir o uso de insumos importados e produzir para atender o mercado interno.

Imagine se fôssemos enfrentar a pandemia de Covid apenas com produtos nacionais. Abriríamos mão das melhores vacinas disponíveis, como, aliás, o governo ameaçou fazer com relação à vacina da dengue em julho do ano passado, dando prioridade à vacina do Butantan, que nem pronta estava. Felizmente, voltou atrás.

Receber crédito subsidiado para produzir, sem concorrência internacional, bens industrializados que serão comprados pelo governo. É assim que vamos estimular nosso empresariado a inovar?

Não que não haja méritos nas seis missões definidas pelo projeto. Melhora do ambiente de negócios, infraestrutura, tecnologias limpas; todos ótimos, mas correm o risco de serem sabotados pela lógica do dirigismo político e do protecionismo. Pela regulamentação proposta à lei de licitações, há casos em que uma licitação pública pode optar pelo produto nacional mesmo que o equivalente estrangeiro seja até 20% mais barato. Nós pagaremos essa conta.

É verdade que a globalização tal como era praticada nas últimas décadas está em xeque. Só que em vez de buscar a autarquia produtiva, o que as economias mais produtivas do mundo têm feito é optar pelo "nearshoring". Em poucas palavras: em vez de terceirizar a produção tendo como único critério o preço mais baixo, levar em conta também os riscos de se produzir em países distantes, politicamente instáveis ou pouco democráticos.

O Brasil tem tudo para se beneficiar disso: somos uma democracia ocidental que demonstrou sua resiliência, compromisso com o meio ambiente e estamos distantes dos conflitos que abalam o mundo. Quem passou na nossa frente, contudo, foi o México, que já tem colhido alguns resultados. A produção industrial mexicana subiu 0,4% entre o terceiro trimestre de 22 e 23. Ao contrário da brasileira, que caiu 0,9% (dados do ranking do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).

Melhore o ambiente de negócios, desburocratize, aposte no verde; e também invista em pesquisa e na ponte entre ciência e mercado. Mas não selecione ganhadores e nem prive a população brasileira daquilo que de melhor e mais eficiente o mundo tem a oferecer.

 

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