sexta-feira, 11 de abril de 2025

Sem Argentina e Paraguai – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Mercosul racha ao meio e Lula amplia para América Latina e Caribe a reação a Trump

O Mercosul racha ao meio na pior hora, com o Brasil e o Uruguai de um lado, articulando uma reação ao tarifaço de Donald Trump, e a Argentina e o Paraguai de outro, alinhando-se ao imperador norte-americano, justamente quando Trump implode o multilateralismo e a Europa, Ásia e África intensificam sua integração e seus blocos por autoproteção e o acordo Mercosul-União Europeia ganha, ou ganharia, oportunidade e tração.

Se havia dúvidas sobre a divisão, elas acabam de ruir na cúpula da Celac, que reuniu países da América Latina e do Caribe em

Tegucigalpa, Honduras, nesta quarta-feira. A declaração final foi apoiada por 30 dos 33 países, sob a liderança, entre outros, do Brasil. Quem ficou de fora? Argentina e Paraguai, além da sangrenta Nicarágua. Com um detalhe: os três presidentes não foram nem enviaram seus chanceleres, foram representados pelo terceiro escalão.

É por isso que o presidente Lula, que estava lá e mandou recados para Trump e Elon Musk, articula a integração e a resistência de América Latina e Caribe, muito além das fronteiras do Mercosul. A única reunião bilateral de Lula, aliás, foi com Claudia Sheinbaum, do México, que equilibra bem a indignação e uma negociação efetiva com os EUA, com forte apoio dos mexicanos.

Lula disse que o comércio do Brasil com a Celac foi de US$ 87 bilhões em 2024, maior do que com os EUA, e destacou a importância que os blocos regionais assumem num momento de crise internacional como a atual, citando Asean (dez países da Ásia), União Europeia (27) e União Africana (55). Não custa lembrar que foi nos primeiros governos Lula que o Brasil abriu embaixadas e promoveu forte aproximação com o Caribe – onde, como no resto do mundo, cada país, não importa tamanho e PIB, é um voto.

O Brasil já ganhou uma de Argentina e Paraguai, ao unir América Latina e Caribe contra o candidato paraguaio à Organização dos Estados Americanos (OEA) que tinha o apoio dos EUA e acabou renunciando à disputa. Agora, a declaração da Celac propõe uma candidatura única para o lugar do português António Guterres na SecretariaGeral da ONU. No discurso, Lula defendeu que, além de ser da região, deveria ser uma mulher. Nos bastidores, o nome é o de Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e ex-alta-comissária de Direitos Humanos da ONU.

Lula também destacou que “a ingerência de velhas e novas potências foi e é uma sombra” na América Latina, para alertar: “A liberdade e a autodeterminação são as primeiras vítimas de um mundo sem regras multilateralmente acordadas”. Leia-se: o mundo de Trump.

 

Nenhum comentário: