O Estado de S. Paulo
Mercosul racha ao meio e Lula amplia para América Latina e Caribe a reação a Trump
O Mercosul racha ao meio na pior hora, com o
Brasil e o Uruguai de um lado, articulando uma reação ao tarifaço de Donald
Trump, e a Argentina e o Paraguai de outro, alinhando-se ao imperador
norte-americano, justamente quando Trump implode o multilateralismo e a Europa,
Ásia e África intensificam sua integração e seus blocos por autoproteção e o
acordo Mercosul-União Europeia ganha, ou ganharia, oportunidade e tração.
Se havia dúvidas sobre a divisão, elas acabam
de ruir na cúpula da Celac, que reuniu países da América Latina e do Caribe em
Tegucigalpa, Honduras, nesta quarta-feira. A declaração final foi apoiada por 30 dos 33 países, sob a liderança, entre outros, do Brasil. Quem ficou de fora? Argentina e Paraguai, além da sangrenta Nicarágua. Com um detalhe: os três presidentes não foram nem enviaram seus chanceleres, foram representados pelo terceiro escalão.
É por isso que o presidente Lula, que estava
lá e mandou recados para Trump e Elon Musk, articula a integração e a
resistência de América Latina e Caribe, muito além das fronteiras do Mercosul.
A única reunião bilateral de Lula, aliás, foi com Claudia Sheinbaum, do México,
que equilibra bem a indignação e uma negociação efetiva com os EUA, com forte
apoio dos mexicanos.
Lula disse que o comércio do Brasil com a
Celac foi de US$ 87 bilhões em 2024, maior do que com os EUA, e destacou a
importância que os blocos regionais assumem num momento de crise internacional
como a atual, citando Asean (dez países da Ásia), União Europeia (27) e União
Africana (55). Não custa lembrar que foi nos primeiros governos Lula que o
Brasil abriu embaixadas e promoveu forte aproximação com o Caribe – onde, como
no resto do mundo, cada país, não importa tamanho e PIB, é um voto.
O Brasil já ganhou uma de Argentina e
Paraguai, ao unir América Latina e Caribe contra o candidato paraguaio à
Organização dos Estados Americanos (OEA) que tinha o apoio dos EUA e acabou
renunciando à disputa. Agora, a declaração da Celac propõe uma candidatura
única para o lugar do português António Guterres na SecretariaGeral da ONU. No
discurso, Lula defendeu que, além de ser da região, deveria ser uma mulher. Nos
bastidores, o nome é o de Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e
ex-alta-comissária de Direitos Humanos da ONU.
Lula também destacou que “a ingerência de
velhas e novas potências foi e é uma sombra” na América Latina, para alertar:
“A liberdade e a autodeterminação são as primeiras vítimas de um mundo sem
regras multilateralmente acordadas”. Leia-se: o mundo de Trump.
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