sexta-feira, 11 de abril de 2025

Virilidade tarifária de Trump não dura muito - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Presidente americano volta atrás em tarifas recíprocas, mas isso não apaga dano causado aos EUA

Não durou muito tempo a virilidade tarifária de Donald Trump. Assim que ele percebeu que seus desatinos político-econômicos estavam afetando negativamente até os "treasuries", os títulos do Tesouro americano, até aqui vistos como uma das aplicações financeiras mais seguras do mundo, recuou.

As "tarifas recíprocas" anunciadas com pompa no Dia da Libertação, das quais Trump jamais recuaria, foram reduzidas à alíquota de 10% pelos próximos 90 dias, exceto para a China que peitara o Agente Laranja. Vou agora elogiar Trump. Ainda bem que ele é covarde. Se insistisse em suas desmedidas, a situação econômica do planeta, que já não é muito promissora, ficaria ainda pior. Mas o surto de sensatez não apaga o principal dano já causado aos EUA, que é a perda de credibilidade.

Como escrevi aqui há pouco, até países que eram unha e carne com os EUA perceberam que não podem mais considerar Washington um parceiro confiável, para a defesa, para o comércio, para nada.

E a incerteza cobra seu preço. Assim como empresários minimamente prudentes estão segurando decisões de investimento, países estão buscando alternativas aos EUA, via acordos comerciais, reformulação das cadeias de suprimentos, de alianças militares etc.

E isso não tem volta. São decisões estratégicas. A União Europeia, por exemplo, não vai deixar de investir em sua própria estrutura de defesa se os democratas reconquistarem a Casa Branca em 2028. Sempre poderá surgir um Neotrump em 2032 ou mais adiante.

O que me assusta e me maravilha ao mesmo tempo é a capacidade de líderes populistas de mentir e de se desdizer em curtíssimos intervalos de tempo e não ser cobrados por isso por seus eleitores mais entusiasmados.

As democracias só são minimamente viáveis porque, de um modo geral, para vencer uma eleição presidencial não basta o apoio do eleitorado mais fiel. É preciso também contar com os votos de um grupo de eleitores mais arredios e menos ideológicos e que, justamente por isso, permanecem sensíveis à realidade.

 

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