sábado, 28 de julho de 2018

Marco Aurélio Nogueira: A metamorfose e a unidade difícil

- O Estado de S. Paulo

É da ideia unitária que algum oxigênio poderá ser extraído e injetado na vida política do País

A unidade dos democratas avança com dificuldades.

As principais articulações em curso são eleitorais, haja vista as que envolvem o chamado “centrão”, cortejado por todos e agora associado a Geraldo Alckmin. Coligações são concebidas com os olhos no tempo de propaganda e na “repartição do poder”. São pragmáticas, tentando ser realistas. Diz-se que na mesa estão não somente cargos, mas também uma preocupação com a “governabilidade” do futuro presidente. O quanto será assim não se sabe.

O fundamental não é tratado com seriedade.

Refiro-me à necessidade de instituir um campo democrático que leve em conta as eleições mas vá além delas, comprometendo-se a qualificar a vida política, a ser um vetor programático de reorganização e governo da sociedade.

A renovação política é indispensável. O País não aguenta mais conviver com um sistema político - com seus partidos, sua cultura e suas práticas - que não acompanhou as mudanças que afetaram a estrutura da economia, a sociedade, o modo de vida. As mudanças trouxeram problemas novos sem que os antigos tenham sido resolvidos, formando, assim, um compósito desafiador.

Ainda não se compreendeu bem o quanto há de novidade no mundo atual. Como escreveu Ulrich Beck em seu livro póstumo, não se trata de um mundo forjado pelas mudanças típicas da modernidade capitalista, mas de um mundo que nasceu sob o signo da metamorfose: uma alteração na natureza da existência humana, no modo de estar no mundo, de imaginar e fazer política, de viver a vida.

Evidentemente, nem tudo está se metamorfoseando. Muitas mudanças são, na verdade, reprodução da ordem existente. Mas o importante é compreender o que foge da mera reposição, aquilo que transfigura e cria formas, práticas e expectativas. As lógicas se entretecem, ampliando os problemas e os desafios, mas também abrindo outras perspectivas.

Há um turbilhão pela frente. Precisamos resolver os problemas crônicos de nossa formação e administrar a metamorfose que desponta numa sociedade em que parece faltar a instância decisiva, a política. Sem melhor articulação, mais democracia e coesão, educação e inovação, o futuro ficará travado. Precisamos descomprimir a sociedade, reduzir as polarizações artificiais, ir além da reiteração discursiva esquerda versus direita. Não podemos nos entregar aos reptos “identitários”. Se continuarmos insistindo na lógica “nós” contra “eles”, correremos o risco de retroceder.

Se isso é minimamente razoável, como então pensar em avançar sem ajustes e adaptações, sem reformas nas estruturas e nas instituições, do mercado ao Estado? Necessitamos de uma reeducação geral, para aprendermos a lidar com o que é incerto e ainda não decodificamos.

O ritmo da mudança não é uniforme: muda-se mais depressa nas bases do que nas cúpulas, mais rápido na vida social do que na vida política.

Homens e mulheres têm sua vida sendo alterada, mas não sabem disso e não conseguem extrair disso todos os desdobramentos e exigências. A visão do mundo conserva muitos de seus pedaços presos a imagens tradicionais, que se dissolvem lentamente. O modo de produção transforma-se com rapidez, em silêncio, mas sempre com dor e sofrimento, impulsionado pela revolução técnico-científica e pela globalização do capitalismo. Arrasta consigo as relações sociais e o trabalho, e por essa via invade e reorganiza a vida familiar, os valores e as atitudes, o modo de agir, pensar e sentir.

Paulo César Nascimento*: O que está por trás do “Polo Democrático e Reformista”?

Algumas lideranças políticas têm martelado na tecla da união das correntes políticas, da centro-direita à centro-esquerda, para enfrentar as próximas eleições de 2018. Faz parte deste esforço o manifesto “Por um Polo Democrático e Reformista”, assinado inicialmente por três líderes do PSDB e um do PPS, no início de junho deste ano, e na sequência apoiado por diversos políticos do DEM, PV, PSD, MDB e PTB, além de vários intelectuais e acadêmicos.

Contudo, existem alguns aspectos nebulosos nessa ideia de unir as forças de centro. A primeira delas é que o manifesto cita correntes ideológicas – liberais, democratas, socialdemocratas, democratas cristãos, socialistas democratas, etc. – como forças que deveriam unir-se nas eleições deste ano. Mas estas correntes ideológicas se apresentam de forma difusa no cenário político nacional, não se encarnando adequadamente nem nos partidos que carregam seus nomes. O que, por exemplo, tem de republicano o Partido da República (PR), ou de progressista o Partido Progressista (PP)? Onde o Solidariedade, de Paulinho da Força Sindical, se encaixaria nessa constelação de ideologias políticas?

O centro só se torna mais claro quando seus apoiadores declaram que dele podem participar todas as forças que pensam o Brasil fora do campo populista autoritário de direita e de esquerda. Ou seja, aqueles que rejeitam a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), de Ciro Gomes (PDT) e do candidato do PT, seja ele quem for. Estas candidaturas, segundo a ótica dos formuladores do “Polo Democrático e Reformista”, carregariam um potencial de provocar a ruptura da ordem democrática, devido o seu populismo autoritário e atrasado. Daí a necessidade, muito na forma da Frente Ampla propugnada pelo PCB na luta contra o regime militar, de todas as forças democráticas e reformistas se unirem para preservar a democracia e avançar nas reformas que o país necessita.

O problema com essa visão política é que nada indica que a democracia no Brasil esteja correndo perigo, e basta acompanhar a movimentação tanto de Bolsonaro como de Ciro Gomes para certificar-se disso. O primeiro abandonou o discurso do passado, quando chegou a pregar o fechamento do Congresso, entre outras pérolas autoritárias, – para adotar uma postura muito mais amena e conciliadora, chegando ao ponto de escolher um economista ultraliberal para ser seu Ministro da Fazenda, de forma a acalmar o mercado e se livrar da imagem pró-estatizante que construiu ao longo de sua carreira política.

Já Ciro Gomes, ao contrário, tem se utilizado de uma retórica radical para atrair os votos do lulopetismo, mas ao mesmo tempo e contraditoriamente, tenta ampliar suas alianças para o centro e a centro-direita, chegando a disputar e perder para Alckmin o apoio dos partidos fisiológicos do chamado “centrão”. Persiste, porém na busca de uma aliança com o PSB, partido que nada tem de radical. E o PDT, partido que o lançou candidato, tem muito de fisiológico e populista, mas nada de radical. Ou seja, retórica à parte, seu comportamento não é o de um político que esteja colocando em risco a ordem democrática.

Não há nada de surpreendente na atitude destes políticos. Há muito tempo se tornou um truísmo na ciência política que nas democracias contemporâneas, os candidatos tendem a moderar seu discurso de forma a capturar o medium voter – aquele eleitor mediano avesso a radicalismos que representa a maioria do eleitorado. É claro que candidatos extremistas sempre existirão, mas isto faz parte do cenário político de toda e qualquer democracia.

André Lara Resende: Do consumismo à civilidade

- Eu &Fim de Semana | Valor Econômico

Neste início de século XXI, já deveria estar claro que crescimento do consumo não pode mais ser principal indicador de sucesso econômico e social

"Os grandes problemas não têm solução definitiva, apenas circunstanciais, requerem a busca permanente de respostas." Alexis de Tocqueville

A questão de como organizar a sociedade e o convívio exige a busca perpétua por novas respostas. Ao mesmo tempo, a obsessão com a conjuntura faz com que as circunstâncias pareçam intransponíveis. A poucos meses das eleições, com o país imerso numa grave crise econômica, política e moral, o debate parece bloqueado, vítima da obsessão conjuntural.

A incapacidade de transcender a conjuntura, de imaginar além das circunstâncias, provoca duas reações opostas. A primeira é a particularização, a tendência a confundir algum aspecto específico da crise com a própria crise. A segunda é a generalização, a tentação de atribuir a crise ao todo. A obsessão fiscalista é exemplo da tendência à particularização. A apatia e a radicalização antidemocrática são exemplos da tendência à generalização.

O desequilíbrio fiscal e o crescimento insustentável da dívida pública são problemas graves. Precisam ser enfrentados o quanto antes, mas é ilusão achar que é possível resolvê-los com uma camisa de força legal ou constitucional, sem desmontar as forças corporativistas que capturaram o Estado. A apropriação de fatias da renda nacional, através de dispositivos legais que direcionam renda para interesses cartoriais ou patrimonialistas, é o verdadeiro problema a ser enfrentado. A solução não virá de mais regras, exige mudança de hábitos e atitudes. Exige olhar além da conjuntura.

A crise da democracia representativa é real e não é exclusividade nossa, mas não pode servir para justificar o sentimento de rejeição generalizada à política e às instituições. É a interpretação desesperada da crise conjuntural como a falência social e institucional que leva à radicalização e acende a tentação populista. A tentação de rejeitar a democracia, acusada de ter sido capturada pelas elites, e de flertar com o autoritarismo.

A reação particularizante é formalista e reformista. Associa a crise a algum aspecto institucional específico e acredita que a sua revisão é condição, necessária e suficiente, para a superação da crise. A incapacidade de ver além das circunstâncias faz com que a mentalidade reformista esteja sempre atrasada em relação à realidade. Incapaz de se antecipar, está sempre em busca de reformas anacrônicas, de revisões legais e institucionais voltadas para o passado. A mentalidade generalizante é redutora e irracional. Vê na crise um sinal de falência sistêmica. Atribui responsabilidade às forças estabelecidas, às elites, à tecnocracia, à tecnologia e à internacionalização. Sua proposta é uma volta simplificadora às origens. Daí a sua identificação populista.

O desafio contemporâneo, o grande problema do país hoje, é entender a razão pela qual chegamos ao século XXI sem ter superado a pobreza e socialmente dividido. Profundamente despreparado para reconciliar os desafios da nova revolução tecnológica, da economia digital, com as necessidades humanas permanentes de uma vida em comum e em segurança.

Almir Pazzianotto Pinto: O puxadinho da Constituição

- O Estado de S. Paulo

Tudo indica que a Carta de 1988 está fadada a desaparecer, junto com seu respectivo ADCT

Sampaio Dória, autor de preciosos comentários à Constituição de 1946 (Edição Max Limonad, 1960), ao analisar o artigo 154, cujo texto trata da usura, com sabedoria escreve: “Esse artigo é puro direito penal. É como se dissesse: o homicídio será punido na forma da lei. Nada tem de ver com a organização dos poderes, que é matéria constitucional. Nada tem de ver com as atribuições dos poderes, de que tratam as Constituições. Nada tem de ver com os direitos individuais, para cuja segurança se organiza o Estado. Fora desses três objetivos, as Constituições passam a ser enciclopédias de princípios jurídicos” (vol. IV, pág. 723).

Redigida em ambiente dominado por profissionais da política, envolvidos em interesses tribais, sindicais e corporativos, a Constituição de 1988, a 7.ª do período republicano, resultou, como diria o professor Sampaio Dória, numa enciclopédia, mas de mentiras e fantasias.

Para que o leitor conheça algumas das disposições aberrantes que fazem da Constituição de 1988 a mais longa e pobre entre as Leis Fundamentais do período republicano, cito dois exemplos, o artigo 242, § 2.º, cujo texto diz “o Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal”; e o artigo 245: “A lei disporá sobre as hipóteses e condições em que o Poder Público dará assistência aos herdeiros e dependentes carentes de pessoas vitimadas por crime doloso, sem prejuízo da responsabilidade civil do autor do ilícito”.

É no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), todavia, que a Assembleia Nacional Constituinte revelou completa indigência em matéria de técnica jurídica. A que se destinam as disposições constitucionais transitórias? Transitório tem, como sinônimos, passageiro, breve, transitivo, efêmero, provisório. Leciona Pontes de Miranda: “A regra fundamental é a da incidência imediata da nova Constituição. Se o legislador constituinte prefere que se regule a transição, cabe-lhe dizê-lo explicitamente, ou, pelo menos, implicitamente. É a essa política de normas transitórias que se votam os Atos de Disposições Constitucionais Transitórias ou, melhor, as Leis de Direito Intertemporal” (Comentários à Constituição de 1946, Ed. Borsoi, Tomo VII).

A passagem de uma para outra Constituição por força de golpe branco, como em 1937 e em 1969, ou armado, conforme se assistiu em 1946 e em 1964, exige a obediência a determinadas regras. Para isso existem dispositivos de caráter instrumental e infraconstitucional aos quais é dado o nome de disposições gerais, finais ou transitórias, que são apenas normas de direito intertemporal.

Antecedeu-se à Constituição de 1891 por sete decretos baixados entre os dias 15 e 20 de novembro e foi complementada por Disposições Transitórias com apenas oito artigos, um deles concedendo pensão vitalícia a D. Pedro II, outro autorizando a compra da casa onde faleceu Benjamin Constant, destinada à residência da viúva. Nas Constituições que se seguiram, em 1934, 1937, 1946 e 1967 (Emenda n.º 1/1964), as disposições gerais, transitórias ou finais foram de certo modo breves, encerrando o indispensável às finalidades a que se destinavam.

No caso da Constituição de 1988, a espantosa prolixidade tem como complemento o ADCT, cujo 1.º artigo exige do presidente da República, do presidente do Supremo Tribunal Federal e dos membros do Congresso Nacional o juramento de manter, defender e cumprir a Constituição, proferido no ato e na data da promulgação. O dispositivo seguinte, porém, define data para o eleitorado escolher, por meio de plebiscito, “a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País” (artigo 2.º). Por outras palavras, a Constituição republicana e presidencialista, apesar de solenemente jurada, nasceu debilitada pela possibilidade de ser morta em plebiscito onde o povo poderia determinar o retorno à monarquia deposta em 1889, ou a adoção do parlamentarismo, repelido em 1963, após nefasta experiência no breve mandato de João Goulart.

Demétrio Magnoli: Haddad, o educador

- Folha de S. Paulo

O que é um Bolsonaro desarmado perto de um Ortega armado?

Calculadamente, Fernando Haddad posiciona-se para assumir a condição de avatar de Lula na campanha presidencial. Na entrevista concedida à Folha (23/7), celebra o líder onipresente (“as pessoas sentem Lula”) e fala da economia como se nada de especialmente relevante tivesse acontecido no governo Dilma.

Mas, sobretudo, critica Alckmin por ter o aval do centrão (“o que tem de mais fisiológico no país, um atraso”), exibe o PT como farol da “modernidade” e afirma que os empresários “precisam ser educados para a democracia”. Arrogância é pouco. O potencial avatar envereda pelo caminho do autoritarismo, vestindo-o com uma fantasia iluminista.

O centrão, certamente fisiológico e atrasado, ofereceu sustentação aos dois mandatos de Lula e, até as vésperas do impeachment, ao governo Dilma.

Lula e seu candidato a prefeito paulistano, um certo Haddad, peregrinaram à Canossa de Maluf, trocando a humilhante foto do abraço pelo apoio eleitoral. Antes de “educar” os empresários, Haddad precisa educar-nos a todos na arte de apagar a história recente.

“Modernidade” versus “atraso”. A polaridade inspirou a primeira sociologia brasileira, até que se compreendessem os mecanismos pelos quais o atraso se moderniza e, por essa via, se reitera. A história do PT ilustra, melhor que tudo, o processo.

De um Lula a outro, no trajeto de São Bernardo ao Planalto, o Brasil aprendeu com quantos mensalões se faz uma maioria parlamentar e com quantos petrolões se assina um pacto com as empreiteiras. Haddad precisa reeducar-se a si mesmo fora do pensamento dualista.

Merval Pereira: Rapidez e rigor

- O Globo

A decisão de Raquel Dodge, na qualidade de procuradora-geral eleitoral, de divulgar instrução normativa orientando todos os procuradores a ingressarem com ações para impugnar candidaturas de políticos condenados em segunda instância, conforme prevê a Lei da Ficha Limpa, é mais uma sinalização da Justiça de que não permitirá que a insegurança jurídica embaralhe o resultado das eleições de outubro.

Mesmo que tenha ressaltado que a legislação admite candidaturas sub judice, quando ainda há possibilidades de recursos, a decisão, acrescentada da advertência do atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro do STF Luiz Fux, de que a Justiça Eleitoral será rigorosa contra os candidatos fichas-suja, indica que a tentativa do PT de tentar ganhar tempo através de recursos protelatórios para conseguir colocar o nome de Lula na urna eletrônica tem tudo para dar errado.

Rapidez e rigor são as palavras que acompanham sempre as declarações das autoridades encarregadas de zelar pela lisura das eleições presidenciais. Nossa expectativa é fazer prevalecer a Lei da Ficha Limpa, garantiu a procuradora-geral da República. Ontem o futuro presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, no plantão judiciário, confirmou à Justiça Eleitoral de Goiás que o ex-senador Demóstenes Torres pode se candidatar ao senado nas próximas eleições.

A decisão fora tomada por 3 votos a 2 na Segunda Turma do Supremo, e foi confirmada ontem por Toffoli. A alegação para passar por cima da Lei da Ficha Limpa, que prevê que, além dos condenados em segunda instância, também os políticos cassados, como é o caso de Demóstenes, estão inelegíveis, é que o ex-senador não poderia ser considerado inelegível porque as provas que justificaram sua cassação acabaram anuladas pela Justiça.

A decisão abre um precedente perigoso, pois a Lei da Ficha Limpa não prevê nenhum recurso ao STF. O Senado que cassou Demóstenes foi simplesmente ignorado na decisão. Mas também é improvável que o processo que condenou Lula venha a ser anulado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a quem cabe analisar os recursos.

João Domingos: Tudo velho no front

- O Estado de S.Paulo

Os esperados outsiders não vingaram. Preferiram ficar longe da política

As convenções partidárias mal começaram, o candidato favorito está preso e inelegível, a novela da definição dos vices encontra-se em sua fase mais aguda. Mas, diante do quadro que se apresenta neste instante na política brasileira, pode-se dizer que a tendência da disputa presidencial é um repeteco da final PT versus PSDB.

Arriscar a previsão com base em quê? Em pelo menos três dados atuais. O primeiro deles é que Geraldo Alckmin conseguiu reunir em torno de si o conjunto partidário dos sonhos de qualquer candidato que pense em ganhar competitividade. Os partidos que compõem o Centrão juntaram-se a PSD, PTB, PV, PPS e ao PSDB de Alckmin. Juntos, eles vão garantir cerca de 42,5% do tempo de propaganda na TV para o tucano.

Pelo tempo de propaganda que Alckmin terá, é possível dizer – com risco de erro, é claro, pois nem a política nem a cabeça do eleitor são ciência exata – que o candidato tucano tem certa vantagem sobre os concorrentes. De acordo com projeção do Estadão Dados, Alckmin terá nos 35 dias de propaganda nada menos do que 318 inserções de 30 segundos cada, ou 9 por dia, na programação normal das emissoras abertas; o candidato do PT contará com 122, 3,5 por dia; Ciro Gomes, 40, 1,1 por dia; Marina Silva (Rede), 20, 0,6 por dia; Alvaro Dias (Podemos), 18, 0,5 por dia; e Jair Bolsonaro (PSL), 14, 0,4 por dia, para ficar nos candidatos mais bem situados nas pesquisas. As inserções são muito mais importantes do que o horário eleitoral propriamente dito. Elas entram durante a programação normal. No horário eleitoral às vezes o eleitor vai fazer um lanche.

Pesquisa do Ibope identificou a TV como fonte de informação de cerca de 70% dos brasileiros. Não há como negar a importância dela na campanha. Leve-se em conta ainda que o Brasil tem cerca de 206 milhões de habitantes. Destes, 130 milhões (63% da população, segundo a última Pnad) pertencem às classes C, D e E, em que também está o maior acesso à TV aberta. É um público gigantesco e decisivo.

Ranier Bragon: Política velha

- Folha de S. Paulo

Chanchada dos vices e conchavos à direita e a esquerda mostram que pouca coisa mudou

Em junho de 2013 o país foi tomado por uma avassaladora e incontrolável multidão nas ruas, em um cenário apocalíptico que prometia não deixar pedra sobre pedra.

Cinco anos e uma Lava Jato depois, e a 71 dias da eleição, a velha política mostra sua pujança, lembrando que a maioria das pedras voltou lá para cima de suas outras irmãzinhas.

De novidade mesmo, embora carregando bandeiras da Era Mesozoica, só correntes de direita que integraram a locomotiva do impeachment e são hoje a argamassa da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL).

No mais, o chamado centrão protagonizou uma marcha sem eira nem beira, de um lado a outro, até aderir a Geraldo Alckmin (PSDB).

O loteamento de uma futura gestão está traçado porque ali, naturalmente, ninguém é trouxa.

Vendo a cena, Bolsonaro não manifestou rubor em chamar de podre a fruta que antes tentara apanhar.

Na esquerda, a encenação da candidatura de Lula, o El Cid do PT, segue seu curso, na esperança de que ele cometa a proeza de, mesmo vendo o sol nascer quadrado, repetir o que em 2010, em muito melhores condições, fez com Dilma Rousseff.

Não satisfeitos, a maioria desses políticos carrega nos coletes vices os mais maleáveis possíveis, enquadráveis em qualquer molde, de empresário-flex a príncipe sem trono.

Ricardo Noblat: Rodrigo Maia contra um vice do DEM

- Blog do Noblat | Veja

De olho no futuro

Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, é contra a indicação de um nome do seu partido para a vaga de vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB).

Natural. Faz parte do acordo de Alckmin com o Centrão o apoio a Maia para que se reeleja presidente da Câmara no próximo ano como ele tanto quer.

Um candidato a vice do DEM, a presidência da Câmara para o DEM… Seria colher de chá em excesso para o DEM, o que desagradaria os demais partidos do Centrão.

Alckmin quer escolher um vice o mais rápido possível. A demora só serve para desgastá-lo.

Jaques Wagner, o candidato de Lula
Por ora, ele nega para ficar a salvo de ataques

O ex-ministro de Lula e Dilma, e duas vezes governador da Bahia Jaques Wagner está pronto para ser o candidato do PT a presidente da República. Lula quer, Wagner topa, e ele só não será se até lá Lula mudar de ideia. Não parece provável.

Antes de ser encarcerado em Curitiba, Lula gravou um vídeo onde declara seu apoio a Wagner. O nome de Wagner é mais bem aceito dentro do PT do que o nome de Fernando Haddad, vice-prefeito de São Paulo, que não conseguiu se reeleger.

O marqueteiro que cuidará da campanha do candidato do PT à sucessão de Michel Temer é o mesmo que cuidou das campanhas passadas de Wagner, e também da que elegeu Rui Costa (PT) governador da Bahia, agora candidato à reeleição.

Pablo Ortellado: Autoengano

- Folha de S. Paulo

Petistas difundiram narrativa para cooptar militantes na defesa do legado lulista

Na última semana, descobrimos que Lula deve empurrar sua candidatura até o último momento e deve concorrer com um programa muito parecido com o que praticou nos anos 2000. Essa estratégia é fruto de uma armadilha retórica na qual o PT se emaranhou.

Desde que foram forçados a retomar a mobilização, para se contrapor aos protestos que pediam o impeachment, os petistas difundiram uma narrativa, a narrativa do golpe, uma estratégia discursiva para assustar a militância de esquerda e cooptá-la na defesa do legado lulista.

A narrativa tenta interpretar todo o processo político recente como uma orquestração conservadora contra os avanços sociais dos governos de esquerda.

Segundo ela, a Lava Jato não teria desvelado um gigantesco esquema de corrupção na Petrobras, mas seria apenas uma armação sem fundamento para perseguir o PT.

Dilma Rousseff não teria sofrido um impeachment porque seu partido se enredou em corrupção e um movimento de massas se levantou contra ele, nem porque perdeu completamente o controle do Congresso por pura incapacidade política, nem por ter cometido erros grosseiros de condução da política econômica, nem por ter traído seu programa eleitoral tão logo reeleita.

O que aconteceu, segundo a narrativa, foi que as elites não teriam tolerado o avanço social dos programas petistas e forjaram uma coalizão com o Judiciário, a oposição e a imprensa para derrubar Dilma e impedir novos governos de esquerda.

Míriam Leitão: O real e o abstrato

- O Globo

O mercado tende a olhar o último evento para explicar movimentos que foram formados por questões bem mais estruturais. Isso vale para qualquer tipo de mudança brusca de valor. A queda das ações do Facebook foi explicada como decepção com o desempenho do segundo trimestre, mas o que acontece com a rede é bem mais amplo. Ela enfrenta uma crise de reputação e de incerteza sobre o futuro.

Há dúvidas mais agudas pairando sobre a empresa de Mark Zuckerberg. Seu valor caiu uma Petrobras e um Bradesco, mas ela permanece sendo uma gigante de meio trilhão de dólares. A perda fez com que seu criador apenas descesse dois degraus na lista dos mais ricos do mundo, com seus US$ 70 bilhões.

O mundo aprendeu na crise das pontocom, no fim dos anos 1990, portanto há duas décadas, que sim, tudo que parece sólido desmancha no ar. Durante o período de alta das empresas de internet, as bolsas americanas chegaram a níveis nunca vistos antes, e a impressão era de que o valor das companhias de alta tecnologia, comércio eletrônico e todas as novidades do então admirável mundo novo, teria crescimento infinito. Até o dia em que a bolha estourou como tulipas.

As empresas do mundo da tecnologia voltaram mais fortes e mais concretas, mas têm na sua natureza a volatilidade e o efêmero. O Facebook nasceu de saltos tecnológicos, mas não é o fim da história. Outras redes surgiram e surgem a cada momento. Fenômenos como ele podem se repetir e ser superados. Essa riqueza abstrata é parte da nova economia, completamente diferente da lógica de outrora onde só havia o mundo físico. A Amazon, outra gigante, tem ponte bem mais direta com o real das coisas. O curioso caminho do seu fundador, Jeff Bezos, o levou do comércio eletrônico de livros à mais clássica das mídias, o jornal impresso.

Murillo de Aragão: Mulheres e democracia

- Revista IstoÉ

Países que respeitam mulheres e asseguram seus direitos e sua participação na política são mais democráticos? Sem a menor dúvida. Países autoritários tendem a restringir os direitos das mulheres, impondo barreiras concretas e sub-reptícias ao papel delas na sociedade e, sobretudo, na política.

Alguns países alegam razões religiosas. Outros nada alegam porque neles sempre foi assim. É humilhante para o ser humano ver uma mulher coberta de negro da cabeça aos pés andando alguns passos atrás de um homem. Nada justifica isso. Deus não aprovaria tal submissão.

No mundo, as mulheres estão avançando na política. Ocupam mais de 20% dos assentos nos parlamentos. Ainda é pouco, mas é o dobro do que existia 20 anos atrás. No Brasil, contudo, ainda estamos muito atrasados. Devemos impor medidas mais radicais, por exemplo, alocando metade das vagas de ministros das Cortes superiores para mulheres.

O mesmo deveria valer para o ministério no Poder Executivo e para os órgãos colegiados. Os concursos públicos deveriam reservar vagas proporcionais para homens e mulheres. E o exemplo deveria começar no governo federal e seguir como regra de ouro para estados e municípios.

Vale recordar que no Brasil pouco funciona a Lei nº 12.034/09, que impôs aos partidos e às coligações o preenchimento do número de vagas com, no mínimo, 30% de mulheres. Como forma de preencher a cota destinada a elas, algumas legendas promovem o lançamento de candidatas “fantasmas”, o que não contribui para o aumento da participação feminina na política.

Com o intuito de evitar manobras como essas, o Supremo Tribunal Federal derrubou em março a regra que estabelecia o limite mínimo de 5% e máximo de 15% do montante do Fundo Partidário para o financiamento de campanhas eleitorais de mulheres. Agora, pela nova regra, os partidos deverão destinar um mínimo de 30% dos recursos do Fundo às candidaturas femininas. É um começo.

Por fim, vale lembrar a frase da política americana Madeleine Albright: “Desenvolvimento sem democracia é improvável. Democracia sem mulheres é impossível.”

Lulopetismo na SBPC: Editorial | O Estado de S. Paulo

A ciência brasileira nada ganha com essa manifestação explícita de obscurantismo

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) tem sido simpática a Lula da Silva, de modo que não surpreende o entusiasmado apoio manifestado ao ex-presidente e hoje presidiário no 70.º encontro anual daquela organização, aberto no domingo, dia 22, em Maceió. Pode-se apenas lamentar que uma das principais entidades dedicadas ao fomento da ciência no País continue a ser usada por alguns oportunistas para fins político-partidários, que nada têm a ver com pesquisa e inovação.

Pretende-se invocar a importante atuação da SBPC durante a ditadura, quando a entidade corajosamente franqueou suas mesas para discussões políticas, como argumento para justificar a necessidade de denunciar a “nova ditadura”, como se ouviu em um discurso no dia da abertura da mais recente reunião.

Por “nova ditadura” entende-se, é claro, o governo do presidente Michel Temer - que, na interpretação de muitos dos acadêmicos presentes ao encontro, simboliza, em conluio com um Congresso corrupto, um Judiciário manipulado e uma imprensa vendida, o “golpe” que, segundo eles, resultou no impeachment da presidente Dilma Rousseff e na prisão de Lula da Silva.

O padrão de denúncia desse “estado de exceção” foi observado na solene homenagem prestada ao físico José Leite Lopes (1918-2006), um dos mais importantes cientistas do País - preso pela ditadura militar, exilado e aposentado compulsoriamente. Na ocasião, foi lida uma mensagem do antropólogo José Sergio Leite Lopes, filho do cientista, na qual ele diz que o pai, “se estivesse aqui hoje, (...) protestaria de forma veemente e irreverente contra uma nova ditadura que se evidencia”, e “estaria clamando pela democracia plena, pela justiça social e por Lula livre”.

No mesmo evento, o ministro da Educação, Rossieli Soares da Silva, e outros representantes do governo federal foram vaiados por pesquisadores, além de estudantes e servidores públicos presentes, que gritaram “golpista” e o slogan “Lula livre”, revelando o já conhecido nível de indisposição dessa turma para o diálogo.

O deputado federal Celso Pansera (PT-RJ) - cuja única atuação conhecida na ciência foi ter sido escolhido como ministro dessa área no governo de Dilma Rousseff, quando ainda era do MDB, tendo como qualificação apenas o fato de ser dono do self-service “Barganha”, na Baixada Fluminense - também discursou na SBPC e, claro, terminou seu pronunciamento bradando “Lula livre”.

O mundo dos monopólios digitais: Editorial | O Globo

Google e Facebook desafiam a regulação de sistemas antitrustes aplicados nos EUA desde o início do século XX, mas agora a atuação dessas empresas é global

No último dia 19, a União Europeia multou o Google em € 4,3 bilhões por práticas anticompetitivas ligadas ao seu sistema Android para celulares. Foi a maior penalidade já imposta pelos reguladores antitruste da UE numa briga que está apenas começando.

Por conta do que a teoria econômica chama de Efeito de Rede, estas empresas digitais tendem ao monopólio. Sejam serviços de busca, redes sociais, mapas de trânsito ou aplicativos de mensagem, quanto mais usuários têm, mais úteis ficam. Porque o processo de inteligência artificial faz com que os algoritmos se tornem mais eficientes de acordo com o número de usuários, os serviços também ficam melhores. Quanto maior, melhor fica, mais gente atrai e menos sobra para concorrentes. É um tipo novo de monopólio. Mas se porta como os monopólios antigos.

A lógica anticompetitiva começa nas aquisições. A prática do Google vem sendo se aproveitar dos bolsos fundos para comprar startups que lhe permitam ampliar seu domínio sobre outros mercados. É o caso do próprio Android, assim como do YouTube ou mesmo do Waze. Já o Facebook compra para impedir que qualquer um cresça no ambiente social a ponto de ameaçá-lo. Foi assim com Instagram e WhatsApp. Como o SnapChat recusou a venda, o Facebook copiou os principais recursos do adversário, pôs no Instagram, sufocando o concorrente. O método de ação monopolista do Google, porém, se dá na forma como explora a busca, espaço que domina. Historicamente, dá destaque às suas buscas especializadas, como de pesquisa de preços ou resenha de lugares públicos, impedindo que usuários encontrem os concorrentes. O Yelp!, uma das startups mais promissoras dos anos 2000, minguou por ter sumido do Google — e este é outro processo pelo qual a empresa já foi multada na UE.

Parceiros, mas não tanto: Editorial | Folha de S. Paulo

Imagem de sintonia dos Brics se enfraquece quando cotejada com medidas adotadas entre eles

Embora seu nome não conste da declaração final da décima cúpula dosBrics, realizada nesta semana em Johanesburgo, Donald Trump era o destinatário primordial da mensagem em defesa do multilateralismo e do papel da OMC (Organização Mundial do Comércio) na solução de conflitos nessa seara.

Previsível, aliás, que se fizesse deste encontro uma oportunidade para marcar posição crítica ao presidente dos Estados Unidos.

Afinal, este tem se empenhado em impor restrições à entrada de produtos da China, o “C” do acrônimo em inglês que abrange as cinco nações emergentes do bloco, formado também por Brasil, Rússia, Índia e África do Sul.

Mesmo antes de o líder americano dar início ao que se prenuncia como uma guerra comercial contra Pequim, o dirigente chinês, Xi Jinping, já se apresentava à comunidade internacional como arauto de uma economia globalizada, aproveitando-se do pendor isolacionista do rival.

A imagem de sintonia dos países-membros dos Brics em favor do livre comércio, entretanto, se enfraquece quando cotejada com medidas adotadas entre os próprios integrantes.

Revelaram-se um exemplo bastante ilustrativo de tal descompasso as tratativas do governo brasileiro, em reuniões paralelas, para convencer a China a derrubar barreiras aplicadas sobre as exportações de soja e de carne de frango.

Desde o mês passado, frigoríficos daquele país que compram do Brasil são obrigados a depositar entre 18,8% e 34,4% do valor das importações, dependendo da empresa.

Juros, câmbio e risco político: Editorial | O Estado de S. Paulo

Diante de quadros muito diversos, com rápido crescimento nos Estados Unidos e atividade muito lenta no Brasil, os bancos centrais dos dois países deverão anunciar no começo de agosto novas decisões sobre os juros. Um novo aperto na política monetária americana será ruim para a maioria dos emergentes, por seus efeitos no câmbio e nas condições internacionais de financiamento. Mas há esperança de uma trégua até setembro. Ontem, a aposta dominante nos mercados americano e brasileiro ainda era de manutenção das taxas em vigor, de 1,75% a 2% no primeiro caso e de 6,50% no segundo. Se essas previsões estiverem certas, governo e empresários terão mais algum tempo para tentar dinamizar os negócios no Brasil, tarefa complicada pela incerteza política interna e ameaçada por um cenário externo carregado de riscos financeiros e comerciais.

Que os juros americanos voltem a subir neste semestre parece fora de dúvida. O comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) poderá manter os juros básicos na reunião dos próximos dias, mas deverá elevá-los, mais uma vez, a partir de 26 de setembro. Esta expectativa foi indicada por analistas e operadores do mercado financeiro americano logo depois da divulgação, ontem, da primeira estimativa de crescimento econômico do segundo trimestre. Segundo o Departamento do Comércio, o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu entre abril e junho em ritmo equivalente a 4,10% ao ano, o mais intenso desde 2014.

O maior impulso partiu do consumo privado. O segundo mais importante foi proporcionado pelas exportações. O desempenho comercial foi parcialmente atribuído à antecipação de compras de produtos agrícolas por empresas chinesas. Teria sido uma ação preventiva, diante do risco de imposição de barreiras à soja americana como retaliação às medidas protecionistas do presidente Donald Trump.

Hiperinflação na Venezuela sepulta ilusionismo: Editorial | O Globo

FMI prevê inflação de um milhão por cento este ano e total erosão do bolívar. Violência e desabastecimento continuam estimulando êxodo de refugiados

Dados divulgados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no início desta semana mostram que as condições de vida na Venezuela alcançaram um patamar sem precedentes de desintegração. A inflação anual em junho foi de 46.000%, e deve fechar o ano em torno de 1.000.000%, patamar só comparável ao Zimbábue dos anos 2000 e à Alemanha de 1923. A erosão do bolívar é de tal magnitude que o comércio — dos supermercados aos camelôs — está recusando a moeda nacional.

A economia do país, ainda segundo o FMI, deve encolher 18% este ano, depois de ter perdido cerca de 40% nos últimos cinco anos. O país detém as maiores reservas mundiais de petróleo e gás natural, setor responsável por 96% de suas receitas. Com a desvalorização dessas commodities, a Venezuela perdeu sua fonte de recursos e percebeu o erro de ter uma economia pouco diversificada. À medida que as dificuldades foram se avolumando e sua estatal do setor, a PDVSA, foi sendo sucateada pelo governo, a infraestrutura petrolífera também terminou afetada, a tal ponto que o país não pôde se beneficiar da recente recuperação dos preços do barril.

A economia venezuelana também pagou o preço de financiar o projeto bolivariano de Hugo Chávez, subsidiando países aliados, como Nicarágua e Cuba. O regime brigou com o setor produtivo, nacionalizando empresas, não só afugentando investimentos, mas provocando a ruptura de cadeias produtivas importantes. O resultado tem sido uma crise de abastecimento tanto de serviços públicos, como saneamento e o fornecimento de água e energia elétrica, quanto de produtos básicos, sobretudo alimentos e remédios.

Com a escassez, é preciso senha para comprar em supermercados. A falta de alimentos, remédios e vacinas provocou a volta de doenças já erradicadas, como sarampo e sarna. Aumentaram os casos de doenças sexualmente transmissíveis, e a taxa de natalidade subiu, devido à falta de anticoncepcionais. Com o êxodo de venezuelanos para países vizinhos, em fuga da crise, essas doenças também estão ressurgindo nas nações de acolhimento dos refugiados, caso do Brasil. A ONU estima que 1,5 milhão de venezuelanos deixaram o país nos últimos anos.

Terror na Nicarágua: Editorial | O Estado de S. Paulo

Na quinta-feira passada, a Associação Nicaraguense Pró Direitos Humanos (ANPDH) divulgou relatório preliminar com o número de vítimas resultantes de pouco mais de três meses de uma crise social e política que vem expondo ao mundo a natureza cruel e autoritária do governo do presidente Daniel Ortega, no poder intermitentemente desde a Revolução Sandinista de 1979.

De acordo com a organização não governamental (ONG), ao menos 448 pessoas morreram, cerca de 2,8 mil ficaram feridas e 595 estão desaparecidas desde o início dos protestos, em 18 de abril, inicialmente contra a reforma do sistema previdenciário aprovada dois dias antes, mas que logo se transformaram em um movimento mais amplo contra o governo. O número de vítimas pode ser ainda maior, uma vez que os observadores da ONG não conseguiram confirmar suspeitas de assassinatos em áreas de difícil acesso.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou dura resolução no dia 18 deste mês em que “condena veementemente” a violenta repressão aos protestos praticada pela polícia e por milícias paramilitares a soldo do governo de Daniel Ortega, tal como ocorre na Venezuela sob a ditadura de Nicolás Maduro.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) também responsabilizou o governo nicaraguense por ordenar “assassinatos, execuções extrajudiciais, maus-tratos, possíveis atos de tortura e detenções arbitrárias contra a população predominantemente jovem”. Um desses jovens foi a estudante universitária brasileira Raynéia Gabrielle Lima, de 30 anos, morta a tiros na noite da segunda-feira passada em Manágua, capital do país. A informação oficial dá conta de que a brasileira foi morta por um “segurança particular” em local próximo ao Colégio Americano, em um bairro nobre da capital. Entretanto, testemunhas afirmam que Raynéia, que cursava o último ano de medicina na Universidade Americana de Manágua, foi morta por tiros disparados contra seu carro por paramilitares que ocupam a Universidade Nacional Autônoma.

O governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores, tem sido vigoroso na cobrança das autoridades nicaraguenses para que prestem informações que, de fato, levem ao esclarecimento do brutal assassinato de uma cidadã brasileira. “O governo da Nicarágua diz que foi um guarda de segurança particular (quem matou Raynéia). Mas quem foi? Qual o calibre da arma? Em que circunstâncias a morte ocorreu? Não houve, até agora, um esclarecimento. Nós vamos insistir porque isso nos parece absolutamente inaceitável”, disse o chanceler Aloysio Nunes Ferreira após a cúpula dos Brics, na África do Sul.

O momento Alckmin

A vez de Alckmin

O candidato tucano ao Planalto promoveu uma virada no tabuleiro eleitoral ao unir dez partidos em torno da sua candidatura, criando as condições políticas para, finalmente, decolar. Se, de fato, essa portentosa aliança resultará em votos, só o tempo dirá

Rudolfo Lago, Wilson Lima e Ary Filgueira | Revista IstoÉ

Depois de passar meses estacionado nas pesquisas, sendo ferozmente criticado até por seus aliados por “jogar parado”, ou seja, não se mover no sentido de firmar alianças para compor um palanque robusto, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), enfim, saiu da inércia e fez o movimento mais arrojado até agora na conturbada e imprevisível eleição presidencial de 2018. Celebrou, na quinta-feira 26, um amplo e avassalador arco de apoios partidários, a partir da união de dez legendas, incluindo as quatro do chamado “Centrão” (DEM, PP, PR e Solidariedade), que se somarão ao PSD, PTB, PRB, PPS e PV, siglas com as quais o PSDB já estava coligado. Com esse verdadeiro exército marchando a seu favor, o tucano passará a dispor de quase 6 minutos de tempo na propaganda eleitoral gratuita no rádio e TV (os principais adversários terão menos de 30 segundos cada) e terá ao seu lado quase 300 deputados e a metade dos prefeitos brasileiros. Mais: a colossal aliança vai render ao candidato R$ 852,8 milhões de fundo partidário. Para quem até bem pouco tempo era dado como natimorto, pode-se dizer, sem sombra de dúvidas, que Alckmin vive o mais alvissareiro momento desde que oficializou seu nome na corrida presidencial.

Não por acaso, o tucano passou a ser a aposta sólida do establishment político-empresarial. Agora, o desafio é transformar essa máquina eleitoral em votos capazes de lhe catapultar ao segundo turno das eleições. Hoje, Alckmin amarga índices modestos nas pesquisas eleitorais, entre 5% e 7%, a depender do cenário. Para chegar lá, terá de quase triplicar, já que seu principal concorrente direto, o candidato Jair Bolsonaro, do PSL, oscila entre 18% e 20% das intenções de voto. “O mais importante é estarmos unidos, o que nos garante força em qualquer circunstância”, avalia o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA).

O anúncio da união do “Centrão” em torno de Alckmin, firmada na quinta-feira 26, foi a notícia mais esperada dos últimos tempos, como resultado das inúmeras conversas mantidas nas duas últimas semanas. Oficialmente, tinha o propósito de alavancar a candidatura à Presidência do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. No fundo, visava garantir espaço de destaque do bloco no próximo governo, negociando em conjunto os apoios, em troca de mais ministérios e cargos em um novo governo, mas, sobretudo, que mantivesse o comando da Câmara, reelegendo Maia para o cargo. O bloco negociou três alternativas. Além de Alckmin, conversou com Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro. A conclusão de que deveriam se unir ao candidato do PSDB foi um processo de depuração. Pesava contra Alckmin, e isso adiou a decisão final, o fato de o tucano patinar nas pesquisas, mantendo-se num patamar bem aquém do satisfatório. “Se for por isso, Ciro também está mais ou menos nesse patamar”, argumentava Alckmin, nas conversas com o “Centrão”. “A verdade é que a maior parte dos eleitores ainda vai fazer a sua escolha”, complementavam os tucanos. A partir daí, os partidos estabeleceram que a escolha se daria por consenso, e a união ocorreria em torno de quem seguisse sem vetos e questionamentos.

Bateu na trave
Preferido inicialmente por alguns dos líderes do bloco, Ciro Gomes foi perdendo espaço à mesma medida em que se enredava em declarações grosseiras, para dizer o mínimo. Chegou a chamar o vereador negro Fernando Holiday (DEM-SP) de “capitãozinho do mato”, expressão considerada como ofensa racista. A gota d’água, no entanto, deu-se no dia em que o pedetista chamou de “filha da puta”, sem saber de quem se tratava, a promotora Mariana Bernardes Andrade, que pediu investigação por racismo contra ele no caso de Holiday. Além da língua incontrolável, Ciro foi perdendo apoio no bloco pela defesa de propostas distantes do ideário mais liberal desses partidos, como rever a reforma trabalhista e bloquear negociações empresariais como a união da Boeing com a Embraer. “Estava ficando cada vez mais fácil o Ciro fechar aliança com o Boulos do que conosco”, comenta Aleluia.

Contra Bolsonaro, pesaram também posicionamentos, que levaram insegurança quanto à garantia de manutenção da atual lógica democrática de presidencialismo de coalizão. O bloco precisava ter certeza de que, forte no Congresso, teria peso nas decisões do próximo presidente. Sentiu mais segurança nesse sentido com Alckmin. “Ficamos muito perto de obter a unidade do campo democrático que pregávamos”, comemora o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG). “Tínhamos a esperança de unir ainda Marina, Meirelles e Alvaro. Mas a união já garantida é um grande avanço”. Falta apenas a definição do vice na chapa. Josué Gomes, do PR, desistiu. Na última semana, estavam cotados nas bolsas de apostas Aldo Rebelo (SD), Mendonça Filho (DEM) e a atual presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputada federal Tereza Cristina, do DEM.

Entrevista – Alckmin: “Não tem toma lá, da cá”

Em entrevista exclusiva à ISTOÉ concedida na terça-feira 24, o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin, garantiu que as negociações das alianças partidárias não se pautaram pelo fisiologismo

Germano Oliveira | ISTOÉ

• O senhor acaba de ter o apoio do centrão, como o DEM, PP, PR e PSD. Agora a campanha vai decolar?

Venho trabalhando esse tempo todo para fazer uma boa aliança. É importante para a campanha e para a governabilidade. O esforço de pacificação do País é necessário. Toda vez que o Brasil teve uma conciliação, a democracia consolidou-se, a economia melhorou e os avanços sociais foram maiores. Precisamos olhar para o futuro, trazer esperança para a população.

• O PSDB contará com mais de cinco minutos de horário na TV, enquanto que seus adversários terão menos de 30 segundos. Isso será decisivo?

Ajudará muito. Numa campanha mais curta, é importante ter mais tempo na TV para dialogar, apresentar as propostas, sobretudo no meu caso em que nos últimos 14 anos mergulhei aqui no governo de São Paulo. Agora vou ter maior oportunidade de falar com o Brasil todo.

• Se por um lado o senhor está recebendo a adesão de partidos que reúnem 279 deputados, por outro realiza uma aliança que atrai políticos polêmicos, como Valdemar Costa Neto (PR) e Roberto Jefferson (PTB). Eles podem contaminar seu palanque?

Nós conquistamos os partidos aliados em torno de uma proposta para o Brasil e não tem toma-lá-dá-cá. Os partidos têm outros quadros expressivos.

• O senhor prometeu a eles retomar o Imposto Sindical?

Não há nenhuma hipótese de retornar o Imposto Sindical. Ele é uma visão atrasada, cartorial e que os sindicatos que realmente têm representatividade nem querem. O que nós falamos é criar o Conselho Nacional do Trabalho, com participação tripartite. Vamos melhorar o uso do dinheiro do trabalhador, que é o FGTS. Fiz um estudo: se em 1995 o trabalhador tivesse R$ 1 e aplicasse no CDI teria R$ 20 agora. Na poupança R$ 10 e aplicado como é hoje teria R$ 5. O trabalhador foi tungado. Vamos fazer justiça aos trabalhadores com a TLP, para corrigir o FGTS, com juros mais correção monetária.

• Pelo fato da sua campanha não decolar, muitos falaram em substituí-lo, inclusive pelo ex-prefeito João Doria. Ficou alguma mágoa?

Eu conheço o João Doria e tenho laços de amizade com ele há quase 30 anos. Zero de mágoa. E eu sou adepto da democratização das prévias. Quando me lancei candidato, abrimos a inscrição para as prévias. Submeti o meu nome e, se o partido escolhesse outro nome, eu acataria. Mas acabei escolhido por unanimidade.

• Além de Aécio Neves, em Minas, tem outros tucanos como o Paulo Preto, em São Paulo, envolvidos na Lava Jato. O senhor acha que eles prejudicarão sua campanha?

Sempre defendi, independentemente de pessoas, que a lei é para todos. Tem que haver investigação e que se faça Justiça. Quem tem que ser inocentado, que o seja. E quem tem que ser punido, que seja punido. Nós não desmoralizaremos as instituições.

• Quem são seus nomes preferidos para ocuparem a chapa como vices?

Existem nomes ótimos, mas a definição do vice ficará bem mais para a frente.

Eleitor valoriza experiência, diz Ipsos

Pesquisa mostra que diminuiu a preferência do eleitorado por candidatos novatos; instituto vê ‘decepção’ com a promessa do ‘novo’ na política

Daniel Bramatti | O Estado de S. Paulo.

Pesquisa feita pelo instituto Ipsos indica que a ânsia dos eleitores brasileiros por uma novidade na campanha presidencial arrefeceu desde o fim do ano passado, ao mesmo tempo em que a experiência dos candidatos passou a ser mais valorizada.

Em levantamentos feitos pelo Ipsos em dezembro de 2017 e na primeira quinzena de julho deste ano, o instituto fez aos eleitores algumas perguntas sobre o perfil desejado do próximo presidente. Uma delas avalia se seria preferível se ele ou ela fosse “alguém que é político há muitos anos” ou “um nome novo na política”. A preferência pelo político veterano subiu 11 pontos porcentuais no período, de 39% para 50%, enquanto as opções por um novato caíram de 52% para 44%.

Outra pergunta foi se os eleitores preferem um presidente “experiente” ou “íntegro e ético”. A opção pela experiência subiu de 31% para 41%, enquanto houve queda de 65% para 56% no quesito integridade.

“Esse resultado reflete uma decepção com o novo”, disse Danilo Cersosimo, diretor do Ipsos. “Essa opção não se concretizou para os eleitores. Experiência política e administrativa vão acabar pesando muito na campanha.”

Ensaios. Nos últimos meses, alguns nomes não ligados tradicionalmente ao mundo político fizeram movimentos e sondagens relacionados a uma possível candidatura presidencial, mas não chegaram a formalizar a iniciativa.

O apresentador de televisão Luciano Huck chegou a admitir a possibilidade de concorrer e conversou com o PPS, mas recuou. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa se filiou ao PSB e também cogitou concorrer, mas desistiu.

O empresário Flávio Rocha, dono da rede de lojas Riachuelo, também não conseguiu viabilizar sua candidatura pelo PRB e anunciou a saída da disputa no último dia 13.

Dos principais nomes na corrida presidencial, quase todos já passaram pelo crivo das urnas – a exceção é Henrique Meirelles (MDB), ex-ministro da Fazenda, mas ele não tem empolgado o eleitorado, segundo as mais recentes pesquisas.

Mau humor. O Barômetro Político Estadão-Ipsos, pesquisa que todos os meses analisa a opinião dos brasileiros sobre personalidades do mundo político e jurídico, mostrou um quadro de quase estabilidade em julho, na comparação com resultados anteriores.

Todos os presidenciáveis que devem participar das eleições seguem com taxas altas de reprovação. O que aparece em pior situação é Geraldo Alckmin (PSDB): 68%% desaprovam seu desempenho, contra 19% de aprovação.

Preso desde abril, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue com a maior aprovação entre os políticos: 45%. Ele é desaprovado por 53%. Jair Bolsonaro (PSL), cuja desaprovação tinha subido em junho, voltou aos níveis que tinha em maio. Ele é aprovado por 23% e desaprovado por 60%.

“O mau humor geral mantém esses indicadores de desaprovação em um nível bem alto”, observou Cersosimo. “Não significa dizer que nomes desaprovados não tenham potencial eleitoral. Dado que as opções são essas, é bem possível que o eleitor acabe optando por nomes que ele desaprove ou vote branco ou nulo.”

Apesar de o Ipsos incluir o nome de possíveis concorrentes ao Planalto em sua pesquisa, o instituto não procura medir intenção de voto. O que os pesquisadores dizem aos entrevistados é o seguinte: “Agora vou ler o nome de alguns políticos e gostaria de saber se o (a) senhor (a) aprova ou desaprova a maneira como eles vêm atuando no País”.

Proporção de adolescentes eleitores aumenta pela primeira vez desde 2006

Levantamento aponta crescimento da fatia de jovens com 16 e 17 anos interessados no pleito geral

Marina Merlo, Sarah Mota Resende | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Aluna do colégio Renascença, localizado na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, Milena Altman Charatz vai votar pela primeira nas eleições gerais de outubro. Aos 17 anos, seu voto é facultativo. Ir às urnas não é obrigatório para analfabetos, menores de idade com mais de 16 anos e idosos acima dos 70.

Charatz faz parte de uma estatística animadora. Em 2018, a proporção de jovens de 16 e 17 anos que tiraram título de eleitor para o pleito geral teve a primeira alta desde 2006.

Segundo dados analisados pela Folha a partir de números divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 29,5% desta faixa etária está alistada para votar em outubro. Isso corresponde a 250 mil novos eleitores. Em 2014, na eleição que reelegeu a petista Dilma Rousseff, essa porcentagem era de 23,9%.

"Pelo rumo que a política tomou, eu decidi que precisava fazer alguma coisa e tirei meu título", diz Charatz. A solicitação em ano eleitoral deve ocorrer até 151 dias antes do pleito —data que, neste ano, se encerrou em 9 de maio. Em ano sem votação, o alistamento pode ser feito em qualquer dia em um cartório eleitoral.

"Tirar o título foi uma iniciativa minha. Não quero deixar as pessoas serem eleitas sem a minha participação", diz Charatz. Segundo a estudante, suas ideias e percepções sobre política são formadas a partir de assuntos que ela lê ou assiste na imprensa, principalmente online. Charatz ainda não decidiu seu voto.

Em outra ponta da cidade, na zona sul, Vitória Beatriz da Cruz Oliveira também está indecisa. Aluna da Escola Estadual Professor Alberto Conte, a jovem de 17 anos, assim como Charatz, vai votar pela primeira vez por vontade própria no dia 7 de outubro.

Neste ano, preocupada com o que diz ser "uma crise muito grande no Brasil", resolveu tirar seu título para "ajudar a mudar a situação". Oliveira é também aluna do Studium, curso pré-vestibular voltado para jovens de baixa renda em Pinheiros, zona oeste da capital paulista.

Para Oliveira, a melhor maneira de se informar sobre seus candidatos é vasculhando sites e redes sociais oficiais dos políticos. "E também um pouco na imprensa, mas não tanto porque ela acaba manipulando muito”, diz.

O interesse de adolescentes por votar pela primeira vez, segundo especialistas ouvidos pela Folha, tem relação com a forte presença de jovens em redes sociais, ambiente em que candidatos divulgam sua propostas, repercutem notícias e até fazem pronunciamentos em tempo real —as chamadas "lives".

Outra questão apontada é a identificação de jovens com temas de cunho social.

"Para o senso comum, vivemos um período de descrença política, mas vemos engajamento dos jovens em coletivos, não em partidos, identificados com temas como feminismo, questões LGBT e ambiental, por exemplo", diz Marco Teixeira, professor e pesquisador do Departamento de Gestão Pública da FGV.

"Temos uma grande onda global pelos direitos da mulher que pega principalmente jovens, como o caso do aborto na Argentina e o caso Marielle", diz.

Segundo Álvaro Maimoni, consultor político e advogado da Hold Assessoria Legislativa, também pesa sobre os adolescentes a intensificação do debate político após o impeachment de Dilma, em 2016.

"Movimentos como o Vem Pra Rua e o MBL, por exemplo, não existiam de uma forma tão ampla e tão aberta como agora. E eles souberam utilizar as redes sociais como ninguém nunca fez", afirma Maimoni, sobre os coletivos que surgiram na esteira dos protestos de junho de 2013.

Para ele, jovens que hoje estão na faixa dos 16 anos cresceram com o noticiário envolto em corrupção em órgãos públicos. “Sempre escutaram coisas como ‘nós temos que acabar com a corrupção’ e compraram essa ideia”, diz.

A jovem Oliveira, entretanto, não vê interesse dos políticos por essa faixa de eleitores. "Eles não esperam que os jovens votem. Se parar para ver, eles não fazem planos diretamente para os jovens", afirma.
Colaborou Renan Marra

'O Judiciário pode ser criticado, mas desafiar a Justiça, jamais'

Presidente interina, enquanto Temer está fora do País, a ministra do STF Cármen Lúcia tem sido mais cobrado pelo que acerta

Marcio Dolzan | O Estado de S.Paulo

RIO - A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, defendeu nesta sexta-feira, 27, a atuação do Judiciário e declarou que, apesar de ser aberto a críticas e divergências, não pode ter suas decisões desafiadas “jamais”. Segundo ela, que ocupava interinamente a Presidência da República por causa da viagem ao exterior do presidente Michel Temer, “o Poder Judiciário tem sido muito mais cobrado pelo que ele acerta”.

Cármen Lúcia ressaltou que o Brasil tem 80 milhões de processos em tramitação, e declarou que é “natural” que haja divergências sobre as decisões. Mas também criticou quem defende o não cumprimento de decisões tomadas. “O Judiciário pode ser criticado, mas desafiar a Justiça, jamais. Se não se cumprir decisão judicial, se não se acatar decisão judicial, não vejo a possibilidade de se cogitar um Estado democrático de direito”, afirmou. “Não há democracia quando as pessoas resolvem se vingar.”

As declarações da presidente em exercício se deram na sequência de declarações e ações de políticos marcadas por críticas a decisões do Judiciário e até ameaças de interferências na Justiça. Em entrevista ao programa Resenha, da TV Difusora, no Maranhão, o presidenciável Ciro Gomes (PDT) prometeu colocar juízes e procuradores “na caixinha” e sinalizou, caso vença as eleições, com a possibilidade de libertar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cumpre pena na superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

O próprio Lula e o PT têm repetido que não aceitam a sentença que o condenou. E indicam que também não aceitarão que ele não possa disputar a eleição de 2018 por causa da Lei da Ficha Limpa – o partido mantém o petista como pré-candidato à Presidência e afirma que irá registrar a candidatura dia 15 de agosto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Cármen afima que País passa por 'tempos difíceis'
A ministra falou nesta sexta-feira por 50 minutos em palestra para empresários na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ). Durante sua explanação, Cármen Lúcia afirmou que os “tempos difíceis” pelos quais o País está passando só serão superados com o empenho de cada um e com segurança jurídica. “Estamos vivenciando tempos mais amargos”, disse a ministra. “Para onde pouso meu olhar, vejo manifestações que parecem raiva. Nunca tinha visto isso antes dessa forma.”

Na avaliação de Cármen Lúcia, o momento pelo qual passa o Brasil está fazendo com que muitos cheguem ao “desalento”, o que atrapalha a retomada e, inclusive, novos investimentos.

"Temos uma insegurança no País, que gera desconfiança, gera frustrações, falta de perspectiva, que chega ao desalento e que faz com que não haja a vontade de mudar”, declarou. “Insegurança econômica, política, fala-se em insegurança jurídica, que chega aos empresários, que afeta nossa imagem no exterior”, completou a ministra.

Tempo de TV de Alckmin é 40 vezes maior do que o de Bolsonaro

À exceção de tucano, principais candidatos têm pouco espaço por falta de alianças

Daniel Gullino e André de Souza | O Globo

A divisão do horário eleitoral gratuito ainda não está definida, mas o pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, tem, até agora, larga vantagem em relação aos seus adversários. Com o apoio de nove partidos, o tucano terá ao menos 5 minutos e 12 segundos de cada um dos dois blocos diários de 12 minutos e meio. Além disso, deve ter 11 inserções diárias de 30 segundos, que serão exibidas durante a programação normal.

O retrato do momento deixa Alckmin com um tempo de exposição mais de 40 vezes superior ao do presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, que lidera as pesquisas de intenção de voto nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A campanha de Alckmin escolheu Bolsonaro como um dos principais rivais, por entender que os dois disputam parte do mesmo eleitorado. Caso o deputado federal continue sem conseguir fechar uma aliança (já rejeitada por PR e PRP), ele deve ter direito a seis segundos diários e a uma inserção a cada cinco dias.

O cenário ainda pode mudar até o dia 5 de agosto, data final para as candidaturas serem registradas. Até o momento, 15 dos 25 partidos definiram seus candidatos. Além de Alckmin, apenas outro presidenciável conseguiu fechar uma aliança até agora: Guilherme Boulos (PSOL), que terá o apoio do PCB. Nove partidos ainda não definiram qual rumo tomar, e o PMN decidiu que ficará neutro. O segundo maior tempo de televisão deve ficar com o PT (1 minuto e 45 segundos), que pretende inscrever Lula. Se a candidatura do ex-presidente for barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base na Lei da Ficha Limpa, o horário eleitoral terá um papel crucial para o partido, já que será preciso transferir os votos de Lula para seu substituto — o ex-prefeito Fernando Haddad e o ex-governador Jaques Wagner são os mais cotados para assumir o posto. O PT tentou conseguir autorização para gravar vídeos de Lula dentro da prisão, mas o pedido foi negado pela Justiça.

MARINA TEM SITUAÇÃO PARECIDA A DE BOLSONARO
O MDB, que tem como pré-candidato o ex-ministro Henrique Meirelles, vem logo atrás, com 1 minuto e 41 segundos. Assim como o PT, a legenda teria três inserções diárias.
Pré-candidato do PDT, Ciro Gomes tem, até agora, 34 segundos e uma inserção diária. Ele ainda tenta o apoio do PSB — o que lhe garantiria mais 50 segundos — e do PCdoB, que tem como pré-candidata Manuela D’Ávila, e é dono de 18 segundos. As duas legendas, no entanto, também são cobiçadas pelo PT. O PSB, até agora, caminha para a neutralidade.

Outra pré-candidata que tenta fechar alianças para aumentar seu tempo de televisão é Marina Silva (Rede), segunda colocada nas pesquisas, mas com apenas oito segundos e uma inserção a cada quatro

dias. Um dos alvos de Marina é o PROS, dono de 14 segundos. Pré-candidato do Podemos, Alvaro Dias conta, até o momento, com 10 segundos.

30/7/2018: Encontro com Luiz Werneck Vianna


Tom Jobim - Chega de saudade

Carlos Drummond de Andrade: No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra