Fernando Gabeira
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
RIO DE JANEIRO - Longo fim de semana de leituras. John Rawls, aulas de filosofia política. Há algo que vale a pena mencionar. Serve ao Brasil de hoje. Ele critica o cinismo dos que não acreditam na política. Dos que acham que política é apenas algo a se obter e como obter. Os princípios de justiça e bem comum seriam apenas uma espécie de cortina de fumaça para enganar os ingênuos.
Rawls afirma que esta tese subestima a inteligência dos eleitores. Eles sabem distinguir quando princípios são apenas uma retórica enganadora. Ele não viveu para ver sua tese comprovada. Os eleitores de Barack Obama acreditaram ver princípios sinceros em seu discurso. E apostaram nele. Podem acertar ou não, mas apostaram.
O resultado de um processo desse tipo é a aproximação entre Estado e sociedade. É disso que se trata, principalmente, a eleição nos EUA. O clima mudou, e com os mecanismos modernos de participação, internet à frente, abrem-se novas possibilidades de governar com a colaboração ativa dos eleitores.
As eleições de 2010 apresentam nomes administradores com capacidade técnica. Claro que eles têm também grande capacidade política. De outra forma não teriam sobrevivido até aqui.
Mas a dúvida é se conseguem empolgar a sociedade. Se conseguem construir essa ponte entre governo e eleitores. A própria campanha vai dizer isso. Se os eleitores limitarem-se a assistir a debates e a comparecerem às urnas, a aproximação talvez não se dê. Não é um desastre.
Grandes administradores continuarão realizando suas aritméticas tarefas, negociando com o Congresso. Mas a distância entre Estado e sociedade não terá sido encurtada. E o tédio pode florescer num campo, potencialmente, aberto à emoção.
O "sim, podemos" periga ser traduzido em "sim, podemos ver tudo da poltrona da sala".
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
RIO DE JANEIRO - Longo fim de semana de leituras. John Rawls, aulas de filosofia política. Há algo que vale a pena mencionar. Serve ao Brasil de hoje. Ele critica o cinismo dos que não acreditam na política. Dos que acham que política é apenas algo a se obter e como obter. Os princípios de justiça e bem comum seriam apenas uma espécie de cortina de fumaça para enganar os ingênuos.
Rawls afirma que esta tese subestima a inteligência dos eleitores. Eles sabem distinguir quando princípios são apenas uma retórica enganadora. Ele não viveu para ver sua tese comprovada. Os eleitores de Barack Obama acreditaram ver princípios sinceros em seu discurso. E apostaram nele. Podem acertar ou não, mas apostaram.
O resultado de um processo desse tipo é a aproximação entre Estado e sociedade. É disso que se trata, principalmente, a eleição nos EUA. O clima mudou, e com os mecanismos modernos de participação, internet à frente, abrem-se novas possibilidades de governar com a colaboração ativa dos eleitores.
As eleições de 2010 apresentam nomes administradores com capacidade técnica. Claro que eles têm também grande capacidade política. De outra forma não teriam sobrevivido até aqui.
Mas a dúvida é se conseguem empolgar a sociedade. Se conseguem construir essa ponte entre governo e eleitores. A própria campanha vai dizer isso. Se os eleitores limitarem-se a assistir a debates e a comparecerem às urnas, a aproximação talvez não se dê. Não é um desastre.
Grandes administradores continuarão realizando suas aritméticas tarefas, negociando com o Congresso. Mas a distância entre Estado e sociedade não terá sido encurtada. E o tédio pode florescer num campo, potencialmente, aberto à emoção.
O "sim, podemos" periga ser traduzido em "sim, podemos ver tudo da poltrona da sala".
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