quinta-feira, 1 de julho de 2010

Garotinho é forçado a desistir

DEU EM O GLOBO

Com ataques à imprensa e ao Judiciário, acusados por ele de dificultarem sua candidatura, o ex-governador Anthony Garotinho (PR) anunciou ontem que desistiu de voltar ao cargo nas eleições deste ano. Beneficiado por liminar do TSE, que suspendeu a decisão do TRE de torná-lo inelegível, Garotinho se lançou candidato a deputado federal. O pouco tempo na TV e a falta de dinheiro, disse, também pesaram.

Garotinho desiste de ser candidato ao governo

Depois de conseguir liminar contra a inelegibilidade, ex-governador decide disputar vaga de deputado federal

Natanael Damasceno e Rafael Galdo

Depois de um mês de indefinição, por problemas com a Justiça Eleitoral, o ex-governador Anthony Garotinho desistiu de concorrer ao governo Rio pelo PR. A decisão foi tomada no início da noite de ontem, durante a convenção do partido, um dia depois de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter concedido liminar a Garotinho suspendendo sua inelegibilidade. Em vez de tentar retornar ao Palácio Guanabara, ele anunciou a candidatura a deputado federal. Quem disputará o governo pelo PR, em coligação com o PTdoB, será Fernando Peregrino, que foi secretário de Ciência e Tecnologia do governo Garotinho.

- Vou disputar uma vaga na Câmara para poder construir um partido forte - disse Garotinho, ao justificar a mudança de última hora. - Acredito que, pelo serviço que prestei ao estado, vou obter uma votação expressiva e ajudar a fazer uma boa bancada de deputados federais para nosso partido - continuou, frisando que assim o partido teria mais espaço de propaganda gratuita na TV nas próximas eleições.

Para ex-governador, Justiça dificultou candidatura

O pouco tempo na televisão foi um dos motivos listados por Garotinho para explicar seu recuo. Ele acusou ainda o Judiciário e a mídia de dificultarem sua candidatura. E afirmou que as incertezas das últimas semanas criaram dificuldades para que o PR fechasse alianças que viabilizassem até financeiramente a campanha, frente ao que ele chamou de uso da máquina pelo governador Sérgio Cabral (PMDB), que tenta a reeleição.

Apelos da família também pesaram, disse Garotinho. Durante o anúncio de sua desistência, a mulher dele, Rosinha Garotinho - prefeita cassada de Campos na mesma decisão do TRE que tinha tornado o ex-governador inelegível -, e uma das filhas do casal, a vereadora Clarissa Garotinho, permaneceram de pé atrás dele, aparentando estarem emocionadas.

A decisão surpreendeu os correligionários. Mas, antes mesmo do anúncio, ele já vinha indicando a possibilidade de recuo. Em sua chegada à convenção, ele pôs em dúvida sua candidatura, delegando à executiva do partido a definição. Depois, em seu discurso aos militantes, ponderou que o partido deveria investir na campanha para deputados (a meta é eleger 12 estaduais e oito federais).

- Assim como vocês foram solidários comigo diante das dificuldades, peço que sejam solidários, qualquer que seja a decisão do partido - disse ele aos correligionários que lotaram a sede do PR, no Centro do Rio.

Após o discurso, Garotinho se reuniu por duas horas com dirigentes do PR e do PTdoB. Além da troca do candidato ao governo, também mudaram os candidatos ao Senado.

O pastor Manoel Ferreira (PR), até então pré-candidato, disse ter aceitado um convite, após reuniões ontem em Brasília, para coordenar o setor evangélico da campanha da candidata à Presidência pelo PT, Dilma Rousseff. No seu lugar, concorre o ex-deputado Carlos Dias, do PTdoB, ligado ao movimento carismático católico. O outro postulante ao Senado será o cantor evangélico Waguinho, do PTdoB, único nome confirmado desde o início da convenção.

Para vice, foi escolhido o pastor David Cabral (PR), braço-direito de Ferreira e presidente das Assembleias de Deus do Sul Fluminense.

Outra questão que ficou pendente até o fim do dia foi uma possível coligação com o PRB do senador Marcelo Crivella, que acabou não se confirmando. Garotinho disse que fora procurado pelo senador, que teria oferecido apoio à sua candidatura ao governo:

- Ele perguntou se eu seria candidato ao governo, ao Senado ou à Câmara. E ele disse que, por opção do partido, seria candidato a deputado federal.

Candidato ao governo do estado, o deputado Fernando Gabeira (PV) comentou o recuo do adversário:

- A decisão aumenta a minha responsabilidade, pois a campanha poderá polarizar já no primeiro turno. Só o tempo vai dizer o real impacto da mudança.

Já Cabral não quis comentar a desistência. Além deles, o quadro eleitoral do Rio terá Jefferson Moura (PSOL) e Cyro Garcia (PSTU) como candidatos.

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