O governo constata, depois de analisar a forma como a Copa das Confederações e a Copa do Mundo foram incluídas entre os protestos da população nos últimos 20 dias: uma coincidência, sem dolo ou intenção de criminalizar as competições. A Copa das Confederações está no fim, realiza-se em um período curto de duas semanas, e os movimentos de rua não foram nem mais nem menos fortes no locais dos jogos. E a Copa do Mundo, ainda distante, não está ameaçada, creem as autoridades federais.
Ao argumento de que as manifestações pioraram em Belo Horizonte no dia do jogo, apareceram pela primeira vez em frente ao estádio, em Brasília, ocorreram na Bahia, também com o Brasil em campo, altos funcionários que participam das análises do Planalto rebatem: As manifestações começaram em São Paulo, onde não havia jogos; foram fortíssimas em Porto Alegre e Curitiba, duas cidades ausentes da disputa; no Recife houve jogo e foram comedidas, o mesmo ocorrendo na Bahia.
Em Minas, na avaliação feita agora no Planalto, o movimento não teve a mesma característica, foram paralisações de corporações, greve contra o governo, um movimento não espontâneo como os demais.
Duas informações alimentadas no circuito da Copa das Confederações agudizaram os temores do governo. Primeiro, a de que a Fifa ameaçava transferir a atual etapa final para outro país porque o time da Itália, que viajou ao Brasil com a família, crianças inclusive, preocupava-se muito com a segurança e pretendia ir embora. A segunda é que, diante do atual exemplo de caos, e temendo que a situação se repita de forma mais grave na Copa do Mundo, que se realiza em período mais longo, com a presença de mais times e delegações de todos os continentes, países como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra já estavam se oferecendo à Fifa para realizar o torneio. Não apenas por causa da insegurança e das manifestações possíveis, mas porque os estádios e o sistema de organização da Copa das Confederações apresentaram-se com muitos problemas. Ora, argumenta o governo, não é para esse teste mesmo que serve a Copa das Confederações?
Ao governo brasileiro nem o secretário geral da Fifa, Jerome Valcke, nem Joseph Blater, o chefe supremo da organização, confirmaram as tentativas de rasteira dos paises adversários. Ao contrário, garantiram que a Copa do Mundo será realizada no Brasil. Ao que as autoridades nacionais anuiram: se boatos há, não partiram dos governos desses países, mas de empresas e organizações com interesse pecuniário na Copa. Uma espécie de carona oportunista nos movimentos sociais do Brasil.
Expressões de preocupação da presidente Dilma em seu discurso da última sexta-feira acabaram por aumentar a tensão em torno do que estaria por acontecer. Pediu que o Brasil recebesse bem todos os times, tal como é recebido quando vai disputar partidas no exterior.
Para o governo, porém, esse discurso não teve um significado maior. A presidente pretendeu prevenir hostilidades e dar a todos uma dimensão do que a Copa representa para o Brasil do que considerar a hipótese de ruptura.
Outra questão que fez parte das análises do governo sobre as primeira etapa das Confederações é que esta Copa não é alvo dos protestos, que têm a ver com saúde, educação, transportes, segurança, a agenda de pessoas e não de corporações, associações, poderes, sindicatos, partidos. Tanto que começaram em São Paulo, onde sequer havia jogo.
Há, porém, a questão dos gastos de governo com os estádios, agora com a denominação moderna de arenas, e a crítica de que a presidente foi induzida a erro no seu pronunciamento ao garantir que não há dinheiro público nesses gastos, quando há. O que as análises revelam é que Dilma não disse que não há dinheiro público, mas que não há dinheiro do orçamento da União. O que há, admite-se, são empréstimos do BNDES e renúncia fiscal para equipamento e matéria prima na construção dos estádios. Uns R$ 500 milhões para a Copa contra R$ 27 bilhões da renúncia da indústria automobilística.
Por enquanto, não há preocupação com o que pode acontecer na Copa do Mundo. As pesquisas mostram ao governo que a Copa aparece como uma das últimas preocupações dos manifestantes, em sexto ou sétimo lugar, depois de tudo o mais. Ou seja, não tem a ver com as causas mais profundas da saturação do povo. Conclusão que poderá ser conferida, brevemente, com a chegada da Copa de 2014.
Foi um golpe do mestre marqueteiro: a presidente Dilma Rousseff jogou a responsabilidade pelas soluções para os problemas do país ao Congresso; posou bem na foto de comandante de governadores e prefeitos que apenas compuseram o cenário, mudos para a sociedade; ganhou tempo precioso para retomar a escalada rumo à reeleição; deu munição às ruas para também se ocuparem longe do governo federal e trabalharem no plebiscito da reforma política, elegendo temas que agora irão ao Congresso em forma de emenda constitucional e não mais de convocação de Assembleia Constituinte, um bode jurídico retirado da sala no segundo dia de vigência.
A presidente já resolveu pelo menos um problema, o do PT, que desde Lula no período mensalão tenta aprovar uma reforma que contenha voto em lista e financiamento público e jamais consegue. Resolveu, também, um problema do seu governo, que não conseguia fazer andar no Congresso o projeto que destina os recursos do pré-sal para Educação, agora incluído às pressas na premência de uma agenda positiva.
O Congresso, claramente insatisfeito com a forma como a presidente agiu, e sem ter muita moral para se impor, poderia aproveitar e incluir no plebiscito uma questão política e uma injustiça: uma, a reforma tributária, impossível no Brasil porque a União não divide encargos mas não arrecadação; outra, a reforma da previdência, para acabar com a maior injustiça aplicada a uma grande maioria de aposentados que não leva seu cartaz à passeata: o fator previdenciário, que replica o já injusto sistema de aposentadoria dos que não são funcionários públicos. Mas poderia também, quem sabe, acabar com a reeleição, experiência que provou-se inadequada para o Brasil e os brasileiros.
Fonte: Valor Econômico
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