- Folha de S. Paulo
Bolsonaro teme que crise econômica favoreça políticos de oposição
Para entender por que o país continua sem ministro da Saúde no auge de uma pandemia, basta assistir a um trecho da infame reunião ministerial de 22 de abril. Antes de anunciar seu plano para armar a população, Jair Bolsonaro explicou o que o incomoda de verdade.
"A luta pelo poder continua, a todo vapor. E sem neurose da minha parte. O campo fértil para aparecer uns porcarias aí, levantando aquela bandeira do 'povo ao meu lado', não custa nada. E o terreno fértil é esse: desemprego, caos, miséria, desordem social e outras coisas mais. Então essa é a preocupação que todos devem ter", disse a seus auxiliares.
Em dois minutos, o presidente expôs as razões da negligência do governo diante do coronavírus. Bolsonaro orientou sua equipe a trabalhar contra as ações para frear a disseminação da doença por acreditar que os efeitos econômicos da crise podem favorecer políticos de oposição.
Numa ironia do destino, o presidente se mostra atormentado pela ameaça de um salvador da pátria.Ele teme que os eleitores enxerguem em outros campos, em especial na esquerda, soluções que seu governo foi incapaz de oferecer para amortecer os prejuízos com a pandemia ("essa trozoba", no léxico palaciano).
Bolsonaro assumiu o poder abraçado a uma agenda de corte de despesas e revisão de gastos sociais. Quando a renda de parte da população entrou em colapso, foi preciso arrancar à força da equipe econômica um pacote emergencial razoável.
O auxílio de R$ 600 retarda os impactos que afligem Bolsonaro. Tudo indica que a manutenção desse pagamento, criado para ser temporário, será alvo de novas pressões políticas por parte do presidente.
O presidente desdenha dos riscos à saúde da população desde a chegada do coronavírus ao país. O avanço das inevitáveis consequências econômicas dessa crise devem aprofundar ainda mais sua insensibilidade. O discurso gravado em vídeo mostra que a preocupação de Bolsonaro com o bem-estar dos mais pobres está ligada à tal "luta pelo poder".
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