Folha de S. Paulo
Políticos podem acordar com Bolsonaro,
liberar verba em seus redutos e dormir com novo presidente
Às portas de mais um ano eleitoral, o líder
do governo Jair Bolsonaro na Câmara afirmou que Lula foi "um bom
presidente". Operador político da aliança centrão-Planalto, o deputado
Ricardo Barros (PP-PR) disse à Folha que o
petista tinha "uma perspicácia muito grande". "Tivemos uma
boa parceria, nosso partido com ele", declarou.
Os agentes do centrão costumam ser um termômetro do poder. A fluidez desbragada desses políticos permite que eles durmam com Bolsonaro, acordem distribuindo tratores para prefeitos de oposição, passem a tarde em campanha pela reeleição do presidente e corram para a cama com um novo inquilino no Palácio da Alvorada.
Esses movimentos se baseiam em perspectivas
eleitorais ou numa expectativa futura de poder. Barros se encaixa na segunda
categoria. O deputado provavelmente não precisa de Lula para renovar seu
mandato no Paraná, mas não quer correr o risco de ficar mal com o futuro
governo se o petista vencer a eleição.
Outros políticos fazem cálculos mais
próximos. Há dez dias, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) deixou
o cargo de líder do governo no Senado após ser abandonado pelo
Planalto na disputa por uma vaga no TCU. Com isso, a família de políticos que
ele lidera cortou um laço com um presidente que tem 67% de rejeição no
Nordeste.
Do lado oposto, há políticos experimentados
que apostam numa suada recuperação de Bolsonaro. Partidos como PL e PP
continuam ao lado do governo e aproveitam os meses finais da verba pública
oficial. Muitos deles ainda acreditam que o presidente tem ferramentas para ser
um candidato competitivo e apostam num desempenho razoável de sua chapa –ao
menos no primeiro turno.
Para esse núcleo do centrão, a vida
continuará confortável se Bolsonaro for reeleito, mas ninguém parece crer que
as portas estarão fechadas em caso de revés. Prova disso é o presidente da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que quer
continuar no cargo em 2023. "A vida do presidente Bolsonaro é uma. A
minha vida é outra", declarou, em novembro.
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